terça-feira, 9 de julho de 2013

Sobre Edward Snowden & Julian Assange

Escrito e enviado por [*] Baby Siqueira Abrão - 9 de julho de 2013


Ontem li artigo num site chamado The Anti New York Times  (ANYT) afirmando que tanto Assange quanto Snowden são agentes -- da CIA? NSA? FBI? Mossad? -- a serviço do império. E fazem o que fazem para provocar tumultos no mundo. Não é uma ideia de todo maluca, mas falta a esses, digamos, counter-whisteblowers, provas concretas. E, quando li essa entrevista na Spiegel, feita ANTES das revelações de Snowden, coloquei dois pés atrás. Não confio, nem em Jacob Appelbaum, nem em Laura Poitras. As coisas, na vida de ambos, parecem acontecer quase por mágica: oportunidades, dinheiro, viagens, informações exclusivas -- coisas que costumam acontecer a quem tem por trás a organização e a grana dos sionistas. O relato dela sobre sua ida ao Iraque é quase um conto de fadas. Literalmente inacreditável.

Julian Assange (E) e Edward Snowden
Voltando ao ANYT, a argumentação deles apoia-se no seguinte:

a) ambos receberam farta cobertura da mídia corporativa internacional. Como essa mídia é instrumento de propaganda de poderosos grupos do capital internacional, ela não teria por que reservar ao tema mais do que algumas linhas, uma vez que esses tipos de “revelações” pode contrariar, ou vir a contrariar, seus interesses. Por que então uma cobertura massiva a essas figuras e a suas revelações?
Resposta deles: para que mundo inteiro acredite que Assange e Snowden estão mesmo imbuídos de bons propósitos, o que lhes dá credibilidade. E a credibilidade é importante para outras "revelações" que eles venham a fazer;

b) ambos começaram suas “carreiras” de “contraespiões” e “inimigos” do império revelando fatos sobre os EUA que todos (governos, políticos, capitães de indústria, jornalistas, espiões etc.), exceto o grande público, já sabiam. Faltavam provas, o que Assange & Snowden providenciaram. O fato de elas terem sido publicadas por alguns veículos da grade mídia -- cuidadosamente escolhidos, segundo o ANYT, entre aqueles que têm uma boa imagem junto ao público, como o The Guardian -- este até mesmo passa a impressão de tender ligeiramente à esquerda -- e depois repetidos pelos demais meios de comunicação, foi pensada para levar ao público internacional um conhecimento que eles não tinham e provocar indignação nas populações ao redor do mundo;

c) os EUA não se preocuparam com o conteúdo supostamente revelado porque ele não ameaça a assim chamada “segurança nacional”. E, por se tratar de fatos já conhecidos nos meios ligados ao poder, tudo bem que fossem divulgados ao grande público;

d) tudo isso transformou Assange & Snowden em heróis que defendem os interesses da humanidade, contra os interesses do império. Pronto: estava armado o cenário para a segunda fase do plano;

e) contando com credibilidade total (afinal, revelaram fatos e mostraram documentos para comprová-los) e considerados heróis por um público que precisa deles, Assange & Snowden podem revelar o que bem entenderem que todos acreditarão. Essa é a premissa da fase 2. Em relação a Assange, a fase 2 dizia respeito a provocar instabilidade nos países do Oriente Médio, exatamente como aconteceu. O conhecimento, com provas, da corrupção que mantém os povos na miséria foi a gota d’água para que estes se levantassem. [Hipótese minha: os serviços de inteligência do império do terror já haviam detectado insatisfação generalizada nas nações do OM; bastava fazer com que reagissem. Para estimular a reação, jovens líderes, também identificados pelos serviços de inteligência, foram convidados a fazer cursos sobre o uso das redes sociais e da internet nos EUA, como denunciou Michel Chossudovski assim que a intifada egípcia explodiu -- ele revelou inclusive os locais de treinamento.] Com a confusão armada, foi bem mais fácil enviar mercenários e armas para apoiar as “oposições”;

f) não à toa, o veículo escolhido para espalhar as "revelações" no OM foi a Al-Jazira, do Qatar (ou melhor, dos sultões do Qatar), velho parceiro de EUA/Israel, e que financia, junto com a Arábia Saudita, as armas e o soldo dos mercenários a serviço dos impérios do terror. Além disso, a Al-Jazira é lider de audiência no OM e tem a confiança do público que a assiste. [Na Palestina, por exemplo, a maioria do comércio tem TVs ligadas na Jazira o tempo todo, inclusive nas vilas mais longínquas do país.];

g) agora, diz o ANYT, é aguardar para ver o real objetivo das revelações de Snowden. Como ele vem mostrando que os países europeus também espionam seus cidadãos, em conluio com a NSA, e que a “indignação” dos governos europeus em relação à NSA não passa de teatro, imagino, seguindo a linha de raciocínio do ANYT, que o alvo da vez seja a Europa; 

h) outro ponto importante: Assange alega estar em contato com Snowden. Como, se ambos estão na situação de foragidos?;

i) mais: como Snowden conseguiu, como foragido, tomar aviões?;

j) [esta hipótese é minha: se ele realmente representasse perigo aos EUA, bastava matá-lo empregando meios que simulam o “acaso”, ou pegá-lo no voo que o levou de Hong Kong à Rússia. Ou vocês acham que alguém como ele, agindo praticamente sozinho, conseguiria enganar todo o sistema de espionagem dos EUA?]

Essa argumentação faz sentido mas pode ser considerada frágil. EUA e Israel já controlavam o Oriente Médio antes das intifadas, e controlam a União Europeia. Por que teriam interesse em provocar revoltas populares? Para ameaçar outros governos do mundo? Mas eles têm meios mais poderosos para isso: espionagem, ameaças financeiras, invasão armada. Aqui ouso sugerir alguns motivos:

A indústria da guerra...
a) revoltado com a crise econômica que levou aos Occupies em todos os EUA, o público estadunidense não aceita mais gastos em guerras e exige que eles sejam investidos em programas que garantam emprego e crescimento do setor produtivo. Isso não interessa ao capital financeiro, que não precisa de produção para se reproduzir. Mas se interessa pelos fabulosos lucros da indústria da guerra;

b) portanto, em lugar de promover invasões como no Iraque e no Afeganistão, que poderiam ferir as sensibilidades do público dos EUA, encontraram um modo indireto de fazer intervenções armadas, ludibriando esse público e lucrando bem mais, ao armar centenas de milhares de mercenários em vez de dezenas de milhares de soldados estadunidenses. Há outras vantagens: pagam menos aos mercenários do que a seus soldados; não precisam pagar soldos, nem tratamentos aos veteranos; não são seus homens que morrem, o que é fator de economia e de agrado ao público, que já vinha se organizando para protestar contra as mortes de filhos, irmãos, maridos, pais, noivos, namorados;

c) ao “apoiar” os protestos dos “opositores” em vez de agir por confronto direto, o império irrita menos Rússia e China, parceiros em negócios, mas adversários em geopolítica (se é que esse não é outro teatro). Aí a coisa fica nas reclamações diplomáticas das partes e todos lucram. Plano bom, n'é?
Enfim, tudo isso pode ser contestado, até porque o ANYT parece um antinova ordem mundial fundamentalista, o que lhe tira a credibilidade, a meu ver.

Mas não custa ficar de olho.

Tenho a revelar-lhes (eu também tenho revelações a fazer, por que não?) que meu quase infalível sexto sentido jamais confiou em Snowden. Sobre Assange ele não me diz nada porque Assange mexe com outros sentidos meus, e isso atrapalha a percepção que o sexto tem sobre as coisas.
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[*] Baby Siqueira Abrão é jornalista, tradutora, escritora e pós-graduada em filosofia, é correspondente dos veículos Brasil de Fato e Cara Maior no Oriente Médio, além de ativista por direitos humanos e justiça social. É autora de dois livros sobre história da filosofia, para as editoras Moderna e Ática.

5 comentários:

  1. Comentário do Chico Villela enviado por e-mail e postado por Castor

    Caro, o Stanislaw Ponte Preta tá vivo; é o samba do negão
    Primeiro, um site chamado 'AntiNYT' não desperta o "sexto sentido" da jornalista
    Como se opositores reais perigosos fossem nomear um site com essa bobagem
    Segundo, desmoralizar os whistleblowers atuais é coisa de... ah!, vá lá, Castor!
    Terceiro, ela passa por cima da questão primordial: a espionagem industrial e militar
    Isso de ficar guardando e-mails e fones do Zé da Esquina é possibilitado pela tecnologia
    e facilita o trabalho: vamos gravar "tudo", Skype, Face, Gmail etc..
    São mais de alguns milhares de empresas dedicadas, e a seleção seria muito mais difícil.
    O combate ao "Terror", todo mundo sabe o que significa, e hoje é pretexto anêmico.
    E, de resto, todo mundo grava, grava tudo, sabe de tudo.
    O que foi grave no caso da NSA, sim: grampear os parceiros, a Otan, embaixadas etc..
    Mais grave ainda: a subserviência de França, Espanha, Portugal e Itália no caso do nosso Morales.
    Mas isso também, hoje, nada significa: ou alguém acha que Hollande é socialista?
    Talvez falte a você um filtro igual ao da NSA para não reproduzir artigos dúbios...

    Abraço

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    1. A ideia é bem essa Chico... Filtrar o mínimo possível. Não concordo com tudo o que é postado no blog, mas procuro publicar alguns artigos (como esse) que se contraponham ao "mainstream" da lógica usual, a qual você bem observou.
      Grato e abração
      Castor

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  2. A Baby Siqueira e o Castor também são agentes do império para gerar confusão na web. E não sabem disso. Foram abduzidos pelos Nefilin.
    Quem me contou foi um iluminati.

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    1. PrezadoMarroni
      O Chico Villela da NovaE tem mais ou menos a sua opinião a nosso respeito (leia comentário anterior), mas que você ficou com uma das suas muitas sentinelas de inteligência ligadas, lá isso ficou. Aliás, essa elucubração da Baby foi recusada por sites, portais e blogs mais ajuizados que o nosso... Nós, os "desvirtuados", levamos dúvidas sempre, nunca certezas!
      Abração
      Castor

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  3. Amigo Castor,
    Eu sempre procuro ir mais fundo na percepção do que está ocorrendo e por isso aplaudo estas sondagens mais heterodoxas.
    Só não consigo ver onde o Império possa ganhar a longo prazo ao ter aberto todas estas caixas de Pandora.
    Do meu ponto de vista, parece-me que o Império tenta "criar" a realidade ao invés de tentar controlá-la.
    Mas a história não é feita de supostos acertos do poder. A História é feita de seus erros e estão errando cada vez mais.
    Se o projeto é destruir os estados nacionais e criar zonas de guerra tribais permanentes (ver Líbia, Congo, Sudão, Síria, etc.), como negócios, o risco maior é de, ao se remover o estado como simulacro de poder, expôr sua verdadeira natureza crua.
    Por mais articulados que sejam os poderosos, eles também são feitos de carne e tem nomes e endereços. São poucos e estão se expondo cada vez mais. Porque assim como espiam a todos, podem ser igualmente espionados.
    O Capital pode ter longa vida enquanto dirigir as ações coletivas com sua lógica impessoal. Mas os capitalistas são meros mortais.
    Caso imaginem que podem prescindir do estado como biombo e suporte de seus negócios, e talvez não possam evitar esta ordem do Capital em privatizá-lo, estarão correndo um risco que não podem evitar nem calcular.
    Há claros limites do que pode ser manipulado, controlado e conduzido.
    A questão central sempre foi e tem sido a propriedade privada. Este é o limite que começa a ser questionado.
    Sou otimista a longo prazo, justamente porque, mais que o estado e seus aparatos, a própria fundação do capital começa ruir.
    Ver a crise do valor em Kurz e a propriedade intelectual em Zizek.
    Tem mais, mas estou escrevendo sobre isso.
    Abraços
    Marroni

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