8/2/2014, [*] Moon
of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Victoria Nuland pronunciando sua mais célebre frase... |
O barulho
em torno da declaração da secretária-assistente de Estado Nuland, dos EUA, para
a qual “Foda-se a União Europeia”,
está, de certo modo, ajudando a mascarar a questão real.
Um
telefonema feito por linha não encriptada, entre Nuland e o embaixador dos EUA
em Kiev foi, ao que parece, gravado pelos serviços de segurança da Ucrânia.
Enquanto o Departamento de Estado tentava (como já é rotina nesses dias) culpar
os russos, o tuíto de um funcionário
russo lembrava que a gravação só apareceu mais de 24 horas depois
de outra fonte ter distribuído, pelo Twitter, o link correspondente.
O funcionário russo, portanto, não era a fonte original.
O
telefonema gravado revela várias questões:
1. Os EUA estão, inegavelmente, tentando
derrubar um governo democraticamente eleito e o presidente da Ucrânia; e querem
pôr lá, no governo, um dos fantoches da “oposição”, como preposto dos
norte-americanos. A própria Nuland diz (vídeo, em 7’26 a seguir) que os EUA, desde os anos
1990s, “investiram” mais de $5 bilhões para a tal “democratização” da Ucrânia.
É altamente provável que os EUA, como o governo ucraniano tem dito, esteja
pagando muitos dos “manifestantes” em Kiev.
2. Alguns países da União Europeia (Alemanha,
Polônia e países do Báltico) também querem derrubar o governo da Ucrânia; esses
(especialmente Merkel) também querem um fantoche, lá, como o boxeador
Klitschko, no posto de manda-chuva. Mas os demais países da União Europeia não
querem ter de pagar para comprar um novo governo para a Ucrânia, em troca de
saquear país já muito pobre; esses países da União Europeia que também querem
um golpe têm pouco a oferecer; e não têm meios para ameaçar a Ucrânia com
sanções nem com qualquer outro tipo de chantagem.
O “Foda-se
a União Europeia” é coisa, só de diferença de estilo. Os EUA querem, primeiro,
impor sanções contra governo legal e contra o povo ucraniano, para, depois,
instalar lá um fantoche dos EUA; e os países da União Europeia querem fantoche diferente;
e querem golpe menos barulhento e escandaloso.
O barulhão
no proscênio também está ajudando a esconder outra questão importante que se
desenrola nas coxias. Os protestos na Ucrânia estão sendo liderados por movimentos
e grupos de extrema direita, que
não se deterão ante nenhum tipo de brutalidade e podem levar até à guerra
civil:
Grupo ucraniano do Pravy Sector (Setor de Direita). Notem a semelhança do símbolo estampado nas bandeiras com a Cruz Nazista (Gamada) |
“A organização física dos protestos, a
construção de barricadas em torno das praças, grande parte do acampamento já
construído e o policiamento, e as furiosas batalhas contra a polícia são, quase
integralmente, ação da extrema direita. Em algumas cidades menores do interior
da Ucrânia, os “protestos” locais e a tomada de prédios públicos parecem ser
trabalho, exclusivamente, do Pravy Sektor.
...
Aqui em Kiev, alguns membros do exército de
mascarados com capacetes dizem que apoiam o principal partido de direita dos
nacionalistas ucranianos, o Partido Svoboda (Liberdade), que recebeu apenas 10%
dos votos nas eleições parlamentares de 2012, e cujo líder Oleh Tyahnybok, é conhecido
por insultar judeus.
Mas o pessoal que forma os grupos maiores e
mais agressivos, que em geral recusam-se a falar com jornalistas, são membros
do Pravy
Sektor, grupo guarda-chuva no qual se reúnem fascistas, nacionalistas,
torcidas organizadas de times de futebol e gangues de extremistas de direita –
alguns com história de militância em grupos neonazistas –, considerado em geral
como à direita do Partido Svoboda e que opera como gangue extremamente fechada,
cheia de segredos. Até agora, o Pravy Sektor ainda não se apresentou como
partido político.
Membros do "Pravy Sector" agridem adversários políticos com bastões de beisebol |
Quer dizer,
então, que os EUA e a União Europeia parecem acreditar que conseguirão manter
sob controle essas forças? Ou as estão pagando? Mas... Exatamente como os
terroristas na Síria, os fascistas na Ucrânia logo estarão mandando no jogo,
tão logo a pressão pelos EUA e a União Europeia contra o governo legal dê
àqueles grupos fascistas qualquer pequena chance de assaltar diretamente o
poder. Eles já ameaçaram, até, com iniciar uma guerra civil.
Encurralando
o presidente eleito da Ucrânia e empurrando-o na direção de renunciar, os EUA e
a União Europeia estão visivelmente – por razões que só interessam a EUA e
União Europeia – criando o perigo de lançar a Ucrânia numa guerra interna que
EUA e União Europeia não conseguirão controlar.
O barulho
que a imprensa-empresa está fazendo sobre o “Foda-se a União Europeia” está
ajudando a encobrir esses outros aspectos desses planos enlouquecidos.
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como “Whisky
Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na
peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com
música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na
ópera A Ascensão e a Queda da
Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem
Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita
em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por
vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967).
No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em
“Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa de
homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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