24/2/2014, The Saker, The Vineyard of the Saker
“Ukrainian
nationalism - its roots and nature” [excerto]
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
The Saker |
Outra vez,
por falta de tempo e espaço, não entrarei na história da Organização dos
Ucranianos Nacionalistas [orig. Organization of Ukrainian Nationalists, OUN]
de Stepan Bandera ou da Divisão SS Galizien “Ucraniana” – vocês podem
ler sobre isso na Internet.
Direi
apenas que essas forças estiveram entre as mais mortíferas e cruéis de todas,
na IIª Guerra Mundial. De fato, as piores atrocidades da IIª Guerra Mundial,
não foram cometidas pelas forças de Hitler, nem pela SS, mas por forças
integralmente inspiradas e apoiadas pelo Vaticano: a Croatian Ustashe de
Ante Pavelic e os nacionalistas ucranianos.
Afinal, a Ustashe
e os Banderovsty foram derrotados, mas muitos de seus membros não apenas
sobreviveram à guerra como também prosperaram no exílio, a maioria nos EUA e
Canadá, onde a Anglosfera os manteve longe da política real, mas suficientemente
ativos para serem “descongelados” no caso de haver necessidade deles.
Não há
dúvida possível de que, depois do final da Guerra Fria, o Império
Anglo-sionista viu uma oportunidade para subverter e enfraquecer seus inimigos:
os descendentes dos Ustashe foram encarregados de destruir a Iugoslávia;
e os descendentes de Bandera foram encarregados de destruir a Ucrânia, pondo os
restos o mais longe possível da Rússia. Ao mesmo tempo, nos dois locais, na
Iugoslávia e na Rússia, os anglo-sionistas dirigiram outra de suas franquias
terroristas – o wahabismo internacional, também chamado “al-Qaeda”, para
unir-se aos neonazistas e papistas, numa luta comum contra a Iugoslávia e a
Rússia ortodoxa/socialista. Depois disso, todos sabemos o que aconteceu na
Iugoslávia.
Parte III: Ucrânia, de volta para o futuro
2014 – O
ventre do qual nasceu a besta continua fértil
Agora,
quero falar um pouco sobre a (agora ex-) “oposição” ucraniana. Durante os
últimos meses, fomos informados de que estaria representada por três homens:
Vitalii Klichko e seu movimento UDAR; Arsenii Iatseniuyk e seu Partido Batkivshchyna;
e Oleh Tiagnibok, conhecido líder do Partido Liberdade. Claro que o verdadeiro
líder do Partido Batkivshchyna sempre foi Yulia Timoshenko; mas dado que
estava na cadeia, para onde foi mandada por Yanukovich, ela não podia
participar diretamente dos mais recentes eventos.
A maioria
dos observadores ocidentais descuidaram de perguntar se qualquer dessas figuras
políticas realmente poderia controlar os “manifestantes” da Praça Maidan.
Tampouco cuidaram de verificar como uma multidão armada só de pedras, tacos de
beisebol, barras de ferro e coquetéis molotov foi “repentinamente” substituída
por uma força bem organizada e bem armada que só se pode chamar de insurgentes.
A força que realmente reunia mais poder de fogo, não era constituída de membros
do UDAR, nem do partido Batkivshchyna, nem sequer do partido Liberdade.
Os reais senhores da Praça Maidan e agora já de toda a capital Kiev é o chamado
“Setor Direita” (Pravy Sektor), organização terrorista chefiada por Dmytro
Yarosh
Dmytro Yarosh fala às suas tropas |
Se a foto
acima parece ter sido feita na Chechênia durante a guerra, é porque bem pode
ter sido feita lá mesmo: muitos nacionalistas ucranianos combateram ao lado dos
wahabistas na Chechênia, não raro sob a bandeira da organização terrorista UNA-UNSO.
Também combateram na Geórgia contra a Rússia, daí as duas visitas de
Saakashvili à Praça Maidan.
Seria
lógico perguntar qual porcentagem do povo ucraniano apoia Yarosh e seu Setor
Direita. É difícil dizer, mas não passa de minoria considerável, mas pequena.
Segundo muitas estimativas, os líderes mais populares do novo governo são Timoshenko
e Klitschko, seguidos por Tiagnibok – ou pelo menos eram, antes do golpe armado
de domingo passado. Mas é detalhe pouco importante: a maioria dos chechenos
nunca foi wahabista; a maioria dos croatas nunca foi Ustashe; e a
maioria dos albaneses do Kosovo não era pró Exército de Libertação do Kosovo
[ing. KLA]. E nada disso impediu que esses grupos minoritários, mas bem
armados, obtivessem controle decisivo dos eventos.
Isso põe o
novo governo da Ucrânia em posição muito difícil: ou aceita a agenda de gente
como Yarosh e seu Setor Direita, ou arrisca-se a ser varrido por insurreição
armada. Não esqueçamos que as forças militares da Ucrânia só existem no papel,
e que as forças policiais não estão em condições de impor sua autoridade aos
terroristas.
Selo emitido pelo Governo Yushchenko com o retrato de Stepan Bandera |
Pior que
isso: a presidência de Yushchenko demonstrou que os chamados nacionalistas
“moderados” constantemente unem-se aos terroristas. Yushchenko chegou a fazer
de Bandera “herói da Ucrânia” (decisão depois rescindida) e imprimiu selos com
o retrato dele. O problema é que esse tipo de ação aparentemente inócua é, na
realidade, a reabilitação de uma ideologia de genocídio; e envia mensagem
aterrorizante e revoltante aos ucranianos do leste e aos russos que vivem na
Ucrânia: estamos de volta e não viemos para brincar.
O detalhe
tem passado despercebido, mais houve situação semelhante na Croácia, no momento
em que a Iugoslávia partiu-se: os croatas, mesmo os chamados “moderados” não
acharam nada mais inteligente a fazer que reintroduzir imediatamente a
conspurcada bandeira dos Ustashe de Pavelic, como “símbolo nacional da
Croácia”. Pode-se discutir até que ponto isso estimulou os sérvios de Krajinas
a pegar em armas, mas com certeza contribuiu.
O mesmo
está acontecendo agora na Ucrânia. Ao lado das bandeiras amarelo-azuis do oeste
da Ucrânia, já se veem muitas bandeiras preto-vermelhas, a bandeira do
Banderovsty, ao lado de todos os tipos e variantes de símbolos neonazistas.
Outra vez, não importa, de fato, como muitos ucranianos estejam manifestando
tendências genocidas; o que importa é como essas bandeiras genocidas são vistas
no leste da Ucrânia ou pelos 7 milhões de russos que vivem na Ucrânia.
A reação ao
golpe em Kiev foi imediata. Este foto mostra um comício na cidade de Sebastopol:
Manifestação pró-Russia (ver bandeiras) em Sebastopol em 23-2-2014 |
Estão vendo
as bandeiras? Antes do golpe, comícios no leste mostravam quase exclusivamente
a bandeira amarelo-azul da Ucrânia. Agora, as bandeiras são quase todas russas,
com algumas bandeiras, também, da Marinha da Rússia: o povo está ou furioso ou
assustado. Provavelmente as duas coisas. E o potencial de violência, assim,
aumenta rapidamente.
Observem
esse vídeo de uma tentativa de ativistas pró-governo organizarem uma
manifestação na cidade de Kerch e vejam, vocês mesmos, como a situação sai
rapidamente de controle. A multidão enfurecida começa a gritar “Fora!” e
“Fascistas!”, mas os policiais perdem logo o controle da situação, e uma
multidão ataca os ativistas nacionalistas. É olhar e ver o vídeo:
Exatamente
como aconteceu na Croácia e na Bósnia, políticos da União Europeia e dos EUA
ignoraram (por estupidez ou deliberadamente) que o medo gera violência a qual
gera mais medo, depois mais violência, num ciclo de realimentação positiva
praticamente impossível de deter.
Assim
sendo, vamos, daqui, para onde?
Bem
francamente, tinha alguma esperança de que Yulia Timoshenko conseguiria salvar
a Ucrânia. Não porque goste dela, mas porque reconheço a força da personalidade
dela, sobretudo se comparada aos políticos ucranianos terminalmente imbecis
(Tiagnibok, Klichko) ou sem espinha dorsal (Iatseniuk, Yanukovich). Como disse
ontem um jornalista russo: é bom ver aparecer, afinal, “um homem de verdade” no
cenário político da Ucrânia. E, apesar dos seus muitos erros, Yulia tem, pelo
menos, três coisas a seu favor: é muito inteligente; é mulher de vontade forte
e é muito popular. Ou, pelo menos, era, antes de Yanukovich metê-la na cadeia.
Mas quando
a vi, pela televisão, falando na Praça Maidan, numa cadeira de rodas, o rosto
inchado, soando histérica e completamente indiferente ao fato de que estava
cercada por neonazistas, comecei a ter minhas dúvidas. É claro que ela passou
tempos muito difíceis nos calabouços de Yanukovich. E aos que digam que ela
sempre foi tão completamente corrupta quanto os demais oligarcas, eu
responderia o seguinte: enquanto os demais oligarcas veem o poder como meio
para fazer dinheiro, Timoshenko vê o dinheiro como meio para chegar ao poder.
Aí há enorme diferença.
Assim
sendo, e diferente de Tiagnibok ou Yarosh, Timoshenko não tem ares de genocida,
nem jamais se interessou pelo papel de “um Bandera moderno”. E, também
diferente dos neonazistas típicos, Yulia é nominalmente ortodoxa, não “católica
grega” (quer dizer, latina). Não que eu suponha que alguém aí seja muito
religioso, não. Mas Timoshenko pelo menos não foi criada no ódio maníaco contra
tudo que seja russo, no qual os “católicos gregos” são tipicamente criados.
Por fim, Timoshenko,
com certeza absoluta, é suficientemente esperta para compreender que não há
meio para manter a Ucrânia como estado unitário, se os neonazistas forem o
poder de facto, seja diretamente ou através de fantoches “moderados”.
Yulia Timoshenko em cadeira de rodas fala aos ocupantes da Praça Maidan 22/2/2014 |
Fui
provavelmente ingênuo, mas tive esperanças de que Yulia pudesse manter a
Ucrânia unida. Não, não, não porque eu seja defensor da “Ucrânia Independente”,
mas porque entendo que qualquer solução será preferível à divisão da Ucrânia
que, inevitavelmente se tornará violenta.
Por que a
violência é aí inevitável?
Paradoxalmente,
a principal causa, aqui, não são os seguidores de Bandera. Alguns deles, até,
já falaram a favor de uma separação do oeste da Ucrânia, do resto do país.
Tanto quanto sei, são minoria, mas mesmo assim é interessante que pelo menos
alguns deles estejam percebendo que a ideia de converter toda a Ucrânia numa
Galícia é simplesmente ridícula. Muitos nacionalistas, contudo, opõem-se
furiosamente a qualquer divisão, por duas razões. Prestígio: sabem que a
Ucrânia “deles” é, de fato, muito menor que a Ucrânia herdada da era soviética.
E dinheiro: eles sabem que toda a real riqueza da Ucrânia está no leste. E
também, por último mas não menos importante, os verdadeiros patrões dos
fantoches nacionalistas ucranianos (os EUA) querem privar a Rússia de toda a
riqueza do leste da Ucrânia, e da costa ucraniana do Mar Negro. Assim sendo, se
há alguém à espera que os nacionalistas cedam graciosamente o divórcio civil
entre oeste e sudeste do país, desista. É delírio. Não acontecerá, não, pelo
menos, por referendo ou qualquer outra modalidade de consulta ou conversações.
A história
também ensina que é impossível obrigar dois grupos a conviver, quando se odeiam
e se temem reciprocamente. É impossível, pelo menos, sem MUITA violência.
Viktor Yanukovich |
A situação
no leste é tão simples quanto desoladora: Yanukovich está politicamente morto.
O Partido das Regiões praticamente explodiu e novos políticos estão surgindo em
Carcóvia, em Sebastopol e em outras cidades. Estão-se organizando grandes
forças de autodefesa local, e a população está basicamente pronta para a luta.
Dadas as atuais circunstâncias, são desenvolvimentos positivos. Pelo lado
negativo, há o fato de que os oligarcas do leste ainda estão ali, prontos para
trair o próprio povo por mais lucros (como as elites ucranianas fizeram durante
a União de Brest); e de que as forças políticas locais estão, segundo a maioria
dos relatos, sendo organizadas de modo amadorístico. Por fim, ainda há muita
incerteza sobre o que a Rússia realmente quer.
E a Rússia,
em tudo isso?
Entendo que
a Rússia realmente quer evitar uma guerra civil na Ucrânia e que prefere uma
Ucrânia separada, a qualquer divisão. Por quê? Consideram o seguinte:
Para a
Rússia, uma Ucrânia separada e independente é, em primeiro lugar e
principalmente, um meio para evitar ser arrastada para uma guerra civil. Se,
digamos, Timoshenko conseguir suprimir os neonazistas e negociar algum tipo de modus
vivendi entre, por um lado, o oeste da Ucrânia e Kiev, e, por outro lado, o
leste e o sul da Ucrânia, não há dúvidas de que ela e Putin podem encontrar
algum meio pacífico e pragmático de coexistência. Oh, não estou falando de um
mar de rosas, que não acontecerá, mas pode-se pensar, pelo menos, em relações
mutuamente benéficas, civilizadas e pragmáticas. Essa quase certamente é a
opção preferencial do Kremlin (e ajuda a demonstrar o quanto são estúpidos e
paranoicos os nacionalistas ucranianos – e Susan Rice – quando se põem a
alucinar sobre uma invasão russa na Ucrânia).
A outra
opção é os nacionalistas tomarem pleno controle de toda a Ucrânia. É
extremamente improvável, mas... sabe-se lá. Já me decepcionei tantas vezes com
políticos ucranianos, que raciocino como se sempre fossem capazes de tudo,
qualquer coisa, por pior que seja.
Isso
implicaria converter a fronteira russo-ucraniana em alguma coisa como o Muro
que separava as duas partes da Alemanha durante a Guerra Fria, ou a Zona
Desmilitarizada entre as duas partes da Coreia. De um ponto de vista militar,
não é problema. Já escrevi que, ainda que a OTAN desloque tropas para a
Ucrânia, o que farão, a OTAN, ali tão perto do território russo, ficará
automaticamente convertida em alvos lucrativos: a Rússia deslocará número
suficiente de mísseis Iskander para dar conta da lista de alvos, e estaremos
conversados.
Base naval russa em Sebastopol, Crimeia- Mar Negro |
Quanto à
Frota do Mar Negro, a Rússia pode simplesmente se recusar a sair e pagar para
ver se a OTAN tem estômago para tentar expulsá-la; ou pode preferir a opção
custosa, mas possível, de voltar a ancorar sua frota em Novorossiysk (não que
seja boa opção; não é; mas é melhor que nada). Seja como for, repito, esse
cenário é muito, muito improvável.
O que nos
deixa com a opção três: os nacionalistas tentam subjugar o sul e o leste, e não
conseguem. A violência escalará e, eventualmente, a Rússia acabará envolvida.
Em termos puramente militares, a Rússia pode derrotar muito facilmente qualquer
exército ucraniano que tente opor-se a ela. Quanto à OTAN e aos EUA, não têm
meios para deslocar algum tipo de “força tarefa conjunta combinada” para
repelir os militares russos que se instalem na Ucrânia. Assim, ante a iminência
de iniciar uma guerra nuclear mutuamente destrutiva, eles terão de aceitar os
fatos em campo. Mas imaginem o pesadelo que resultará de uma operação militar
russa no leste da Ucrânia! Seria uma volta a uma nova Guerra Fria, mas, dessa
vez, inchada com muitos esteroides: políticos ocidentais se engalfinharão entre
eles, tentando todos ser o primeiro a denunciar, declarar, ameaçar, condenar,
proclamar, sancionar e prometer só deus sabe que tipo de delírios e
estupidezes.
A
russofobia histérica se tornará ordem do dia, e o Império Anglo-sionista terá
finalmente encontrado o tipo de eterno inimigo que procura tão desesperadamente
desde o final da 1ª Guerra Fria.
Se a coisa
ficar realmente feira, e provavelmente ficará, a China provavelmente também
acabará envolvida. Assim teremos exatamente o tipo de planeta com que a
plutocracia do 1% sonha há tantos anos: a Oceania presa numa guerra total
contra Eurásia e Ásia do Leste, exatamente como Orwell previu em 1984. Vide mapa a seguir:
Clique na imagem para aumentar |
Rússia – ou
China – absolutamente não precisam de nada disso. Mas, sim, há risco real de
guerra civil na Ucrânia. Opção “menos ruim” para evitar esse cenário é
providenciar para que os ucranianos do leste e do sul sejam suficientemente
fortes, eles mesmos, para repelir uma invasão nacionalista, de modo que os
militares russos possam manter-se fora do conflito.
Por tudo
isso, há uma difícil ponderação-julgamento a ser feita pelo Kremlin. O Kremlin
tem de decidir se:
(a) o
povo do leste e do sul da Ucrânia são gente desorganizada, desmoralizada,
tornada passiva pela ação de oligarcas corruptos e, basicamente, gente incapaz
de se autodefender;
ou se
(b) o
povo do leste e do sul da Ucrânia são gente unida, organizada e decidida a
fincar pé e dar combate aos neonazistas até o último tiro.
No primeiro
caso, o Kremlin terá basicamente de proteger as fronteiras russas e preparar-se
para gerir as grandes ondas de refugiados que inevitavelmente cruzarão a
fronteira.
No segundo
caso, o Kremlin garantirá forte incentivo para ajudar os ucranianos do leste e
do sul por todos os meios possíveis, até o limite de intervenção militar
direta.
As duas
vias são perigosas e nenhuma delas é preferível a uma Ucrânia unida e governada
por líder que seja, no mínimo, mais ou menos racional. Por isso eu, pelo menos
no estágio inicial desse confronto, espero que a Rússia REALMENTE apoie
qualquer governo que seja só 50% mentalmente são em Kiev, na esperança de
evitar a divisão da Ucrânia.
E EUA e
União Europeia, em tudo isso?
Escrevi
recentemente que EUA e União Europeia têm objetivos muito diferentes na
Ucrânia: a União Europeia quer mercado para seus bens e serviços; os EUA querem
ferir a Rússia, o mais possível. Já vimos a total falta de capacidade e
competência dos burocratas da União Europeia e suas ingênuas tentativas para
encontrar uma solução negociada. O objetivo da política externa dos EUA tem a
vantagem de ser simples além de clara: “foda-se a Rússia” e “foda-se a União
Europeia”!
Do ponto de
vista dos EUA, quanto pior a situação, melhor para o Tio Sam. No pior dos
mundos, a Rússia sai ferida; no melhor dos mundos, o sacrifício da Ucrânia dá
aos EUA um maravilhoso pretexto para “proteger” a Europa contra o “re-emergente
urso russo”, ao mesmo tempo em que defende a civilização, a democracia e o
progresso. O sonho molhado de qualquer neoliberal neoconservador...
É onde entra
o “Fator E” (“E”, de Estupidez pura e simples). O que muitas vezes parece ser
resultado de algum plano maquiavélico cozinhado num porão profundo da Casa
Branca, da CIA ou do Pentágono é muitas vezes exemplo quase inacreditável da
estupidez verdadeiramente fenomenal de nossos governantes. Eles se creem tão
poderosos a ponto de estarem dispensados de compreender uma cultura, uma
história, uma língua estrangeira.
Afinal, se
alguma política dos EUA fracassar completamente aqui ou ali, a resposta pode
ser sempre a mesma: que se fodam! Fodam-se os iugoslavos! Fodam-se os sérvios!
Fodam-se os iraquianos! Fodam-se os afegãos! Fodam-se os paquistaneses!
Fodam-se os líbios e os egípcios e os palestinos e fodam-se os coreanos, os
colombianos e os venezuelanos e, claro, fodam-se os canadenses, os mexicanos,
todos os africanos e, claro, fodam-se os russos, fodam-se os chineses e foda-se
o mundo inteiro. Não importa o quanto estúpida e destrutiva seja uma política
dos EUA contra alguém, ou a política funciona ou fodam-se eles por lá! A frase da Sra. Nuland bem poderia ser
impressa como lema oficial no logotipo do Departamento de Estado ou da CIA.
Minha
conclusão? Pessimista, é claro :-)
Os que têm
lido meu blog nos últimos tempos não se surpreenderão se eu disser que, mais
uma vez, cheguei a conclusão muito pessimista: o futuro da Ucrânia me parece
terrível: o país está arruinado, não tem economia, é socialmente, culturalmente
e politicamente não viável, e o mais provável é que seja governado ou por
imbecis ou por racistas maníacos – e a maior potência do planeta não poupará
esforços para acrescentar gasolina à fogueira. Tenham em mente que nenhum
político ucraniano, nem um, um, que fosse, tem qualquer coisa remotamente
semelhante a um plano para ressuscitar a economia ucraniana que, hoje, jaz
morta. A única e última chance que havia para a Ucrânia foi o “respirador
financeiro russo” – mas já foi desligado, pelo menos para o futuro próximo: os
ucranianos, se quiserem que façam sua Revolução Banderovita; mas os russos não
pagarão por ela.
O inferno da Ucrânia está escondido atrás da bandeira... |
Em novembro
passado publiquei um postado intitulado: Ucrânia
“colorida”: abrem-se as portas do inferno, no qual previ boa parte
do que aconteceu desde então:
Assumo que os euroburocratas e os
nacionalistas ucranianos podem, sim, prevalecer; e que o presidente Yanukovich
ou ficará no “zag” e reverterá a decisão anterior, ou perderá poder. De um modo
ou de outro, me parece, os nacionalistas ucranianos prevalecerão. Haverá festa
e fogos de artifício em Kiev, tapinhas em mútuas costas arrogantes em Bruxelas,
e, na sequência, abrir-se-ão as portas do inferno, para a Ucrânia.
Estamos
agora nesse ponto: a Ucrânia já atravessou as portas do Inferno e mergulhou já
num longo ciclo de tragédia e violência. É verdadeira e imensamente triste. E a
culpa por tudo o que acontecerá cabe, em primeiro lugar, àquelas forças que
temerariamente abriram a Caixa de Pandora de ódios medievais e do século 20, e
que estimularam o demônio nacionalista a atacar novamente; a culpa cabe também
aos que a tudo assistiram sem nada fazer: políticos e líderes dos EUA e da
União Europeia, dentre os quais não apareceu um, que fosse, para dizer a
verdade.
Que ardam
no inferno pelo que fizeram à Ucrânia.
The Saker
como no creo en el infierno les deseo a todos esos sufrimientos personales en este mundo, físicos y síquicos!
ResponderExcluirhehehehehe!
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