26/1/2014, Nikolai
Malishevski, Strategic
Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Neonazistas ateiam fogo em barricadas de pneus |
A
intensificação repentina da ação dos extremistas
da Ucrânia parece ser provocada por norte-americanos
que não podem esperar até as eleições presidenciais de 2015. A principal tarefa é
impedir a reaproximação entre Ucrânia e Rússia e, de modo algum, permitir que
Kiev se mova na direção do leste, sob influência do que chamam de “expansão
econômica de Putin”, que é como os norte-americanos designam os acordos
bilaterais entre Rússia e Ucrânia, de 17/12/2013.
Nikolai Malishevski |
Washington
e Bruxelas têm pressa, porque a decisão da Ucrânia de estreitar a cooperação
com a União Aduaneira fará crescer rapidamente o apoio eleitoral para Viktor
Yanukovich, o que pode levá-lo a vencer as eleições de 2015...
O momento
para começar a “sacudir o bote” parece ter sido escolhido tendo em vista as
lições aprendidas no “cenário georgiano” montado em 2008. Dessa vez, a coisa
está sendo encenada antes dos Jogos Olímpicos de Sochi. Os ativistas estão
ocupando prédios públicos, já se ouvem os primeiros tiros e já há notícia de um
morto.
O almirante
John Kirby do Pentágono, diz
que aviões dos EUA permanecerão em alerta em solo alemão
durante os jogos, a duas horas de voo de distância de Sochi, para garantir
socorro médico e material e evacuar cidadãos norte-americanos no caso de emergência.
Navios dos EUA mover-se-ão para o Mar Negro com o mesmo objetivo (o Pentágono
não explicou como, exatamente, navios de guerra podem ajudar a impedir atos
terroristas).
Alguns
“especialistas” em organizar protestos de rua, como o cidadão norte-americano
Fink Brian, que chegou a Kiev dia 27/10/2013, recomendou que a oposição
ucraniana recorra à ação violenta, mesmo que haja vítimas, para preparar o
cenário indispensável à derrubada do governo. O processo estava marcado para
começar dia 8/12, com uma declaração a ser feita na praça central que
apresentaria à opinião pública um novo governo comandado por Arseniy Yatsenyuk,
com discurso dirigido aos militares e à população, tomada de prédios públicos
etc. O plano foi coordenado com algumas embaixadas de outros países, mas a
implementação foi suspensa, ao que se sabe, porque Yatsenyuk deu sinais de
indecisão.
Taras Stetskiv |
Agora, no
cenário atual, o plano está sendo implementado. Um ativista na praça, o
ex-deputado Taras Stetskiv, do Parlamento, já disse publicamente que a praça já
declarou que Yanukovych é presidente ilegítimo, e que um novo governo
revolucionário de transição está sendo formado. Os clérigos da Igreja
Ucraniana Unida [orig. Ukrainian Uniate Church] estão trabalhando
ativamente na incitação à agitação e às hostilidades armadas; por exemplo, o
cardeal Lyubomir Guzar já falou a favor da insurgência, e Arsenich quer a
eliminação dos “inimigos ucranianos da Ucrânia”. As forças da oposição estão
recebendo armas, inclusive armas de fogo. Já se derramou sangue.
Um deputado
do Partido das Regiões, que está no governo, Yevgeny Balitsky, disse que um
atirador especializado foi recrutado pelo ocidente:
Não se pode excluir a possibilidade de que um
profissional atirador tenha sido recrutado num dos países da OTAN, e que foi
trazido para cá sob ordens de grupos radicais – disse ele.
Circulam
panfletos na praça que clamam por “10 inimigos da Ucrânia mortos, por cada
patriota da oposição”.
Segundo o
Departamento de Combate ao Crime Organizado, subdivisão do Departamento Central
do Ministério de Assuntos Internos da Ucrânia, são cerca de 20 os grupos
criminosos organizados em Kiev, que reúnem cerca de mil extremistas armados com
rifles Kalashnikov. O Departamento diz em Kiev que a oposição já está
armazenando armamento nos prédios “capturados”. O presidente do Partido
Liberdade para Todos os Ucranianos, Oleg Tyagnibok, usou o palanque da praça
para declarar o início da mobilização do seu partido e convocou “todos os não
indiferentes” a ir a Kiev e enfrentar o governo. O deputado Andrey Pavlovsky,
do “Batkivschyna” foi ainda mais longe: anunciou o início da guerra
civil na Ucrânia:
Oleh Tyahnybok denunciou o governo “da máfia judeu-moscovita” na Ucrânia e que “alemães e o resto da escória” querem “nos roubar nosso estado ucraniano”. É um dos líderes dos protestos na praça – e, com Vitali Klitschko - está negociando com o presidente Viktor Yanukovych. |
Marcus
Papadopoulos, editor-chefe da revista britânica Politics First, diz que
os protestos em Kiev foram organizados pela União Europeia e pelos EUA. O
ex-embaixador dos EUA à ONU, John Bolton, disse que “placas tectônicas estão
sendo realinhadas na Europa” e que “o grande prêmio” é a Ucrânia. Pogroms
e sangue são o argumento derradeiro que o ocidente usa para fazer a Ucrânia
tender na direção da “escolha europeia”.
Mais de 200
estrangeiros já foram evacuados do país: são os que trabalharam no planejamento
dos pogroms e deram treinamento aos
militantes. A maioria deles são cidadãos de estados ocidentais que trabalham
sob o disfarce de jornalistas. 35 especialistas em “mudança de regime”, dos
EUA, União Europeia e da Georgia, entre os quais o norte-americano Alexander
Ross, já foram declarados persona non grata na Ucrânia.
Doug Bandow |
Até
especialistas norte-americanos, como Doug Bandow, diretor do Cato Institute em Washington, D.C.,
admite que Washington e Bruxelas não têm nenhuma razão formal que justifique
a interferência sem precedentes nos assuntos internos da Ucrânia. Por isso,
inventaram a questão de “leis antidemocráticas” aprovadas pelo Parlamento
ucraniano dia 16/1 (o momento em que aquelas leis entraram em vigência está
sendo apresentado como a oportunidade e a razão para o “aquecimento” dos
confrontos).
É
significativo que muitas declarações oficiais ocidentais relacionadas às “leis
de 16/1” estejam sendo insistentemente distribuídas, apesar de o texto das leis
nunca ter sido publicado!
De fato, se
comparadas a leis vigentes nos EUA, as novas leis ucranianas são exemplo de
extrema moderação e retidão política. Nem na Alemanha, na França, na Espanha ou
na Polônia, ou em inúmeros outros países a lei é tão equilibrada e moderada:
nesses países, a ação de extremistas é punida com muito mais rigor.
Na França,
por exemplo, a pena pelo crime de incitar agitação popular é de cinco anos de
cadeia; e no caso de a incitação levar a movimentos de massa de grandes
proporções, a pena sobe para 30 anos; 15 anos, para quem construa barricadas e
tome prédios públicos, dentre outras leis que tratam de idêntica ação de
agitação.
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