27/1/2014, [*] Mahmoud
Fouly, Xinhuanet, China
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Karl Marx explica, no seu celebrado 18 brumário
de Luis Bonaparte [1], que as experiências de 1848-51
comprovaram-se muito valiosas para a bem-sucedida revolução de trabalhadores de
1871. E o Egito? Terá interlúdio de 20 anos, antes que volte a revolução real?
Ou pode acontecer muito antes? Perguntem à Esfinge (...). Quando se trata de
anatomia de revoluções, ninguém provavelmente sabe mais que Moscou e Pequim. E
ambas estão apoiando robustamente a antecipação de eleições presidenciais no
Egito (o que implica que estão, hoje, com o general Sisi e o que ele representa). (MK Bhadrakumar, “Arab Spring speaks through graffiti” -9/1/2014, Indian Punchline)
Adly Mansour |
CAIRO,
26/1/2014 (Xinhua) – A decisão do presidente interino do Egito, Adly
Mansour, anunciada domingo, de realizar eleições presidenciais antes das
eleições parlamentares, “pode aliviar pressões estrangeiras” contra o Egito
relacionadas ao mapa do caminho do atual governo apoiado pelos militares, dizem
alguns especialistas em segurança.
Dr. Gamal Salama |
Nações estrangeiras estão encarando o Egito
como estado “acéfalo”, porque tem presidente provisório e governo de transição;
nesse contexto, a decisão sobre antecipar eleições dará ao Egito mais peso e
mais credibilidade nas relações com a comunidade internacional - disse
Gamal Salama, diretor do Departamento de Ciência Política na Universidade de
Suez.
Salama
observou que a decisão aliviará pressões de estrangeiros sobre o Egito, na
implementação de seu mapa do caminho para o futuro, depois da derrubada do
presidente islamista, Mohamed Mursi, por golpe militar, em julho de 2013.
O
presidente interino assinou também no domingo um decreto presidencial, baseado
na Constituição recentemente aprovada, no qual ordena que a comissão eleitoral
comece, no prazo de 90 dias, os procedimentos para a eleição.
Eleições presidenciais antes das eleições
parlamentares podem acelerar o processo de cristalizar uma personalidade
egípcia, no relacionamento com outros países – disse Salama em entrevista à rede Xinhua.
A decisão
também teve efeito interno positivo, segundo o especialista; para ele
(...) a mentalidade egípcia tende a acreditar no
poder do presidente, mais que em qualquer outra autoridade.
A decisão
de antecipar as eleições presidenciais e o decreto foram noticiados um dia
depois que egípcios pró-militares organizaram manifestações de massa para
comemorar o 3º aniversário do levante popular que derrubou o governo do
ex-presidente Hosni Mubarak.
Durante as
celebrações do sábado (25/1/2014), houve confrontos em todo o país, entre
manifestantes antigoverno, tanto islamistas como secularistas, e forças de
segurança, que dispersaram várias passeatas e tentativas de organizar bloqueios
à passagem de pessoas e veículos [orig. sit-ins], deixando 49 mortos e
cerca de 250 feridos. No sábado, a polícia também prendeu mais de 1.000
suspeitos de apoiar Mursi e manifestantes de grupos de esquerda acusados de
incitar tumultos e violência.
Na 6ª-feira
(24/1/2014) e no domingo (26/1/2014), houve atentados terroristas contra
prédios e pessoal da polícia, inclusive várias explosões, na capital, Cairo, em
Suez e no Sinai, que mataram pelo menos 20 pessoas e feriram cerca de 120.
Yousri
al-Azabawi, pesquisador do Al-Ahram Center for Political and Strategic
Studies, concorda com Salama, e também entende que modificações no mapa do
caminho no que se refere à ordem das eleições podem, sim, “aliviar as pressões estrangeiras sobre o Egito”.
A decisão também pode reduzir o tamanho do
financiamento para a Fraternidade Muçulmana de Mursi, já declarada organização
terrorista - disse Azabawi em entrevista à rede Xinhua.
Enfrentamento entre partidários do Governo e da Fraternidade Muçulmana em 22/1/2014 |
Para
Azabawi, a realização de eleições livres e justas para eleger um presidente
dará ao eleito e às forças de segurança “chance
real no enfrentamento contra o terrorismo e para adotar procedimentos mais
efetivos apoiados pela população egípcia”.
Mas Azabawi
entende que fazer eleições presidenciais antes das eleições parlamentares “dificilmente afetará a Fraternidade
Muçulmana ou fará diminuir os protestos antigoverno que organizam regularmente”.
Para ele, “muitos ainda acreditam na
possibilidade de reconduzir Mursi à presidência”.
Abdel-Fattah al-Sisi |
Eleger um novo presidente enviará mensagem
forte à comunidade internacional, de que o Egito está, sim, implementando seu
mapa do caminho pós-Mursi, com vistas a construir um estado forte, civil e
democrático – disse à rede Xinhua o general Mohamed Okasha,
especialista em segurança.
Sobre a
popularidade entre os egípcios do chefe militar e Ministro da Defesa, general
Abdel-Fattah al-Sisi, e rumores de que se candidará à eleição presidencial,
Okasha disse que “as urnas terão a
palavra final”.
Sobre isso,
ver também:
“O
Egito realizará eleições presidenciais antes das eleições parlamentares” – disse o
presidente interino do Egito, Adly Mansour, em discurso transmitido pela
televisão, no domingo [26/1/2014, Xinhua.net, China, em inglês]
Nota dos tradutores
[1] MARX, Karl [1851-1852]. O
18 de brumário de Luís Bonaparte. Prefácio: Friedrich Engels. São
Paulo: Boitempo, 2011, 176 pp. Trad. Nélio Schneider, ISBN: 978-85-7559-171-0. Ou
online na Edições
Avante (2ª Edição – Abril de 1984) Trad. de José Barata-Moura e Eduardo
Chitas.
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[*] Mahmoud
Fouly é correspondente do Xinhuanet
no Egito
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