20/12/2013, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Edward Snowden |
Continua a
publicação de segredos da Agência de Segurança Nacional dos EUA (ASN-EUA). Guardian, Spiegel e o New
York Times noticiam os esforços para ouvir novas
conexões por satélite. Foram feitos testes contra uma “base de dados alvo” (partitial),
e seus resultados revelam o que contém aquela “base de dados alvo”.
Lá estão
organizações internacionais como a UNICEF, organizações não governamentais como
Médecins du Monde, altos funcionários
da União Europeia, empresas, como a gigante de petróleo Total e a indústria Thales de
eletrônica e equipamento militar. Lá estão também muitos chefes de Estado e
instituições estatais, além de alguns ditos “terroristas”. Alguns dos números
alvos foram obtidos de funcionários dos EUA, que partilharam com a Agência de
Segurança Nacional dos EUA seus caderninhos
privados de telefones.
A
espionagem que a Agência de Segurança Nacional dos EUA faz, de todos os
telefones nos EUA, ajudou decisivamente a evitar
ZERO casos de ataques terroristas, o
que é muito diferente dos 54 casos de que falou a Agência.
A lista
real de alvos internacionais tampouco visa, primariamente, a espionar
“terroristas”, como diz a Agência. E duvido muito de que vise, principalmente,
a espionar políticos ou entidades políticas.
Estou
convencido de que, quando se souber mais, saberemos que a maioria dos alvos são
entidades econômicas, e que essa é a razão real da tempestade internacional que
se está formando contra a espionagem internacional da Agência de Segurança
Nacional dos EUA. Observem que o palavreado que a ASN usa, para responder
perguntas sobre espionagem econômica e comercial e financeira, é sempre mais
elaborado, e inclui mais conversa fiada, sempre que a pergunta surge.
Antenas da GCHQ (UK) e NSA (USA) instaladas na Cornualia (UK) indicam que ambas as agências de espionagem trabalham em cumplicidade. |
Aqui, por
exemplo, um trecho da matéria do NYT acima referida:
Em declaração, a ASN negou que algum dia
tenha espionado para beneficiar empresas norte-americanas.
“Não utilizamos nossas capacidades e
competências de inteligência estrangeira para roubar dados comerciais secretos
de empresas estrangeiras em benefício de – nem cedemos inteligência coletada
por nós a – empresas norte-americanas, para aumentar a competitividade delas ou
ampliar sua área de manobra” – disse Vanee Vines, porta-voz da ASN-EUA.
Mas ela acrescentou que alguma espionagem
econômica justificou-se por necessidades da segurança nacional.
“Os esforços da comunidade de inteligência
para entender sistemas e políticas econômicas, e para monitorar atividades
econômicas anômalas, são críticos para prover os políticos com a informação
de que carecem para tomar decisões bem informadas que visam ao melhor interesse
de nossa segurança nacional” – disse a sra. Vines.
Como alguém
algum dia detectará “atividades econômicas anômalas”, se não espiona
rotineiramente as atividades econômicas “normais”? Bobagem. A frase enrolada,
aí, revela a verdade sobre as reais atividades da Agência.
"Os EUA nos espionam e roubam" |
Há também a
história
das atuais atividades de espionagem:
Os documentos examinados também sugerem que a
dragnet satélite é
provavelmente uma continuação da legendária rede Echelon de vigilância global,
que foi objeto de investigação por uma comissão do Parlamento Europeu em 2000.
No relatório final, em 2001, os
investigadores europeus apresentaram imensa quantidade de provas de que muita
espionagem industrial acontecera através da rede Echelon (...).
Quando a
porta-voz da Agência de Segurança Nacional diz “[não] cedemos inteligência coletada por nós a empresas norte-americanas”,
a pergunta imediata tem de ser: a quem, então, a Agência entrega a tal
inteligência “econômica” e a quem essa entidade (provavelmente a CIA, como no
caso dos dados da rede Echelon) entrega aqueles segredos?
Só haverá
real pressão sobre políticos não-norte-americanos para que se construam
sistemas realmente seguros de comunicação por Internet, quando as empresas, nos
vários países, descobrirem que o próprio bem-estar delas depende disso.
Com novas
revelações sobre a Agência de Segurança Nacional dos EUA ainda por vir, é muito
provável que se veja que o aspecto comercial, econômico, do escândalo da
espionagem norte-americana – e a reação das partes que realmente têm muito a
perder nesses “negócios” – é uma das principais questões, se não a parte
principal, de todo esse affair.
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre
outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com
música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na
ópera A Ascensão e a Queda da
Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem
Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita
em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por
vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967).
No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em
“Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa de
homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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