14/12/2013, [*] Mark Mazzetti e [**] Michael S. Schmidt,
The New York Times
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Edward Snowden |
WASHINGTON
– A inteligência e os órgãos policiais e de justiça dos EUA concluíram que é
possível que jamais venham a saber com precisão satisfatória tudo que o
ex-empregado de empresa contratada pela Agência de Segurança Nacional, Edward
J. Snowden, extraiu dos computadores super secretos do governo, antes de deixar
os EUA, disseram altos funcionários federais norte-americanos.
Os
investigadores permanecem no escuro sobre a extensão da quebra de segurança dos
dados, em parte porque a unidade da Agência de Segurança Nacional dos EUA no
Havaí, onde Snowden trabalhava – diferente de outras unidades – não estava
equipada com programas atualizados que permitissem àquela agência de espionagem
monitorar os pontos, de seu vasto horizonte de computação, em que os empregados
estivessem navegando em cada momento.
Seis meses
depois de a investigação ter sido iniciada, os funcionários disseram que
Snowden havia coberto suas pistas logando-se em sistemas sigilosos mediante as
senhas de outros empregados da agência, e depois de invadir firewalls instalados
para limitar o acesso a algumas partes do sistema.
Consumiram-se centenas e centenas de
horas-homem para reconstruir tudo que ele copiou, e ainda não se sabe a
extensão do que ele tem – disse um alto funcionário do governo. Sei que parece loucura, mas tudo, nesse
caso, é loucura.
NSA - Entrada principal em Fort Meade, Maryland |
A evidência
de que Snowden tenha sido tão hábil a ponto de ter conseguido explorar os
pontos cegos nos sistemas da mais secreta agência de espionagem dos EUA ilustra
bem o quanto a segurança de computadores ainda é precária, mesmo depois de anos
de o presidente Obama ter ordenado que os padrões de segurança fossem
melhorados, depois das revelações de WikiLeaks em 2010.
As
revelações de Snowden dispararam um debate nacional sobre a extensão dos
poderes da Agência de Segurança Nacional dos EUA para espionar, em casa e no
exterior, e condenaram o governo Obama a ter de tentar remendar relações com
aliados, depois de o mundo saber que os EUA espionaram governantes de outros
países.
Uma
comissão presidencial de aconselhamento, que examinou as operações da Agência
de Segurança Nacional, entregou ontem (6ª-feira, 13/12/2013) o seu relatório ao
presidente Obama. A Casa Branca disse que o relatório não será divulgado até o
próximo mês, quando o presidente Obama já tiver decidido quais recomendações
acatará e quais rejeitará.
Snowden
entregou o arquivo de documentos a pequeno grupo de jornalistas, e alguns deles
partilharam documentos com várias empresas de notícias – o que acabou por
revelar a espionagem contra governos amigos. Em entrevista ao The New York
Times em outubro, Snowden disse que entregara os documentos que copiou a
jornalistas e que não conservou cópias adicionais.
Richard (Rick) Ledgett, provável sucessor de Keith Alexander no comando da NSA |
Recentemente,
um alto funcionário da Agência de Segurança Nacional disse a repórteres que
acredita que Snowden ainda tem documentos que não revelou. Esse funcionário,
Rick Ledgett, que chefia a força-tarefa da Agência que está examinando o
vazamento produzido por Snowden, disse que consideraria a possibilidade de os
EUA garantirem anistia a Snowden, em troca daqueles documentos.
Sim, minha opinião pessoal é que sim, vale a
pena conversar sobre isso – disse Ledgett à CBS News. Eu exigiria garantias de que o resto dos
dados estariam fechados para sempre e meu padrão de exigência, nesse caso,
seria muito alto. Teria de ser mais que a simples palavra dele.
Snowden
está vivendo e trabalhando na Rússia, sob asilo concedido por um ano. O governo
russo recusou-se a extraditar Snowden para os EUA, onde Snowden foi acusado
pelo Departamento de Justiça, em junho, por crimes de espionagem e roubo de
propriedade do estado.
Snowden
disse que voltaria aos EUA, se recebesse anistia, mas nada garante que o
presidente Obama – a quem, provavelmente, caberia tomar a decisão de anistiá-lo
– optaria por essa via, dado o dano que o governo alega que os vazamentos
teriam causado à segurança nacional.
Dado que a
Agência de Segurança Nacional ainda não sabe exatamente o que Snowden tem, os
funcionários são informados dos vazamentos, quase sempre, pelos jornalistas que
trabalham na publicação dos documentos, o que os deixa sem tempo para prevenir
outros países sobre revelações que estejam a caminho.
Enquanto a
segurança da Agência tenta reciclar sua rede de computadores, na sequência do
que pode ter sido a maior invasão em arquivos de informação secreta de toda a
história dos EUA, o Departamento de Justiça continuou sua investigação sobre
Snowden.
Segundo
altos funcionários do governo, agentes do FBI do escritório de campo do
gabinete, em Washington, acreditam que Snowden tenha metodicamente baixado os
arquivos ao longo de vários meses, enquanto trabalhava como empregado
terceirizado do governo, no Havaí. Para os mesmos agentes do FBI, Snowden
trabalhou sozinho.
Mas, apesar
da vasta expertise técnica de Snowden, alguns funcionários norte-americanos
culpam a segurança da Agência, por não ter instalado software que
detectasse atividade não usual nos computadores pelo pessoal que trabalha ali –
35 mil empregados, a maior força de trabalho de todas as agências de
inteligência.
Chelsea Manning |
Depois de
episódio semelhante em 2010 – quando um cabo do exército, Chelsea Manning, [1] entregou centenas de milhares de
arquivos de conversas e de telegramas diplomáticos ao grupo WikiLeaks – o
governo Obama tomou medidas para evitar que outro empregado do estado copiasse
e distribuísse grandes quantidades de material secreto.
Em outubro
de 2011, o presidente Obama assinou uma Ordem Executiva que criou uma
força-tarefa encarregada de “deter, detectar e mitigar ameaças internas,
incluindo salvaguardar informação secreta, contra exploração, concessão ou
qualquer outra revelação não autorizada”. A força-tarefa, comandada pelo
advogado-geral e pelo diretor da inteligência nacional, tem a responsabilidade
de desenvolver políticas e novas tecnologias para proteger informação secreta.
Mas uma das
mudanças, a atualização dos sistemas de computadores, para rastrear as trilhas
por onde se movimentem os empregados das agências de inteligência, foi muito
lenta.
Não conseguimos mexer numa chave e ter todas
as mudanças implementadas num instante – disse um funcionário da inteligência
norte-americana.
Lonny Anderson |
Lonny
Anderson, chefe de tecnologia da Agência de Segurança Nacional dos EUA, disse
em entrevista recente que muito do que Snowden copiou veio de partes do sistema
de computadores abertos a qualquer pessoa que tivesse autorização de alto nível
de segurança. E que parte de seu trabalho era deslocar grandes quantidades de
dados entre diferentes partes do sistema.
Mas, disse
Anderson, as atividades de Snowden não eram monitoradas de perto e não
dispararam nenhum tipo de sinal de alerta.
“A lição a
aprender, para nós, é que é preciso acabar com o anonimato” para todos que
tenham acesso a sistemas secretos, disse Anderson em entrevista ao Blog
Lawfare, parte de uma série que aquela página prepara-se para publicar essa
semana.
Funcionários
disseram que Snowden, que entendia a fundo a arquitetura dos computadores da
Agência de Segurança Nacional, poderia já saber que os escritórios do Havaí
estavam atrasados, em relação a outros, na instalação dos programas de
monitoramento.
Segundo um
ex-funcionário do governo que falou recentemente com o general Keith B.
Alexander, diretor da Agência de Segurança Nacional dos EUA, o general disse
que, no momento em que Snowden estava copiando os documentos, a agência de
espionagem estava a meses de iniciar a instalação de sistemas que capturariam a
atividade.
Enquanto
avançavam as investigações pelo FBI e pela Agência de Segurança Nacional, o
Departamento de Estado e a Casa Branca ainda estão tendo de absorver o impacto
das revelações de Snowden contra as relações diplomáticas dos EUA e outros
países.
Há esforços em andamento, pelo Departamento
de Estado, para fazer contato com outros países e explicar a eles o que se sabe
sobre o que Snowden gravou – disse um alto funcionário do governo. O
mesmo funcionário disse que: (...) o
Departamento de Estado costumava considerar a espionagem contra governantes
estrangeiros como “a coisa de sempre” [orig. “business as usual”] entre nações.
Nota dos tradutores
[1] Interessante observar aqui que o New York Times dá à Chelsea
Manning o nome que ela declarou que prefere, quando mudou de identidade social,
de Bradley (nome masculino), para Chelsea (nome feminino).
Já os infinitamente imbecis jornalistas do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) insistem em dizer e escrever “presidente” (designação masculina) para a
presidenta Dilma, que não mudou de sexo, nem de identidade social, e,
simplesmente, declarou que preferia que se usasse, para ela, o substantivo
“presidenta” (designação feminina).
À parte a imbecilidade do que os jornalistas do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) insistem em dizer, escrever e ensinar a repetir, há a considerar também a
inominável grosseria e
a repugnante arrogância. Muito piores, como se vê, até, que a
do NYT.
______________________
[*] Mark Mazzetti é jornalista do New York Times e foi premiado com o Pulitzer de 2009 na categoria de Jornalismo
Internacional juntamente com 3 outros profissionais da imprensa-empresa dos EUA.
[**] Michael S. Schmidt é correspondente
do New York Times em Washington, DC.
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