Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Soldados do exército sírio, com
um tanque, patrulham rua devastada no distrito de al-Khalidiyah, centro da cidade síria de Homs, em 31/7/2013. (Foto: Joseph Eid) |
Há dez dias, o presidente da Síria, Bashar
al-Assad reuniu-se com uma delegação de políticos e líderes partidários de
países árabes. Disse claramente: estamos em guerra contra os sauditas, e a
batalha continuará, enquanto os sauditas continuarem a “apoiar o terrorismo” e
continuar o fluxo de extremistas armados, dinheiro e mais armas para a Síria.
O
presidente sírio Bashar al-Assad disse que o apoio dos sauditas e de outros
países aos grupos terroristas adiará qualquer solução para a crise. Disse
também que o governo sírio está avançando em mais de um front contra o terror e
na guerra contra a Síria. Disse que seu governo não irá a Genebra, se esperarem
que entregue o poder.
A fala de
Assad aconteceu durante reunião que aconteceu à margem da Conferência de Países
Árabes na Síria, há dez dias. Al-Akhbar entrevistou o presidente de um
partido político do Maghreb que participou da reunião.
O Presidente Assad fala durante a reunião com políticos árabes em 20/11/2013 |
Em resposta
sobre o que está acontecendo na Síria, Assad disse:
Fomos alvo de guerra de grandes proporções.
Na primeira fase, tivemos de nos focar em nos defender, e foi o que fizemos no
primeiro ano. Em seguida, passamos a lutar para desalojar o inimigo. Agora
estamos derrotando os que nos atacaram. Há experiências na história recente,
inclusive o que aconteceu com a Resistência no Líbano, que teve de defender
suas posições durante longos anos, até começar a alcançar suas grandes vitórias
em 2000 e 2006.
Sempre soubemos, desde o início, que o alvo
da guerra era nossa capacidade para decidir com independência. E essa
capacidade para decidir com independência foi um dos principais fatores de
nossa firmeza e de nossa vitória. Mas apreciamos todo o apoio que recebemos de
nossos aliados, e alguns aliados tiveram papel chave, como a Rússia, que
permanece ao nosso lado, porque seus interesses também estão sendo ameaçados.
Ouvi diretamente da liderança russa, que estão ao lado da Síria para defender
Moscou, não só para defender Damasco.
Logo da al-Qaeda |
O tempo necessário até o fim da crise da
Síria depende, em larga medida, do apoio e do dinheiro que grupos armados
recebem de atores na região. A Arábia Saudita e outros países são fortes
apoiadores declarados do terrorismo.
Despacharam dezenas de milhares de takfiris para a Síria. E a Arábia Saudita
está pagando salário de até US $2,000 por mês a todos que se alistem para lutar
ao seu lado. Há outro problema também, relacionado à infiltração, pela
al-Qaeda, através da fronteira com o Iraque. As autoridades em Bagdá estão
lutando contra isso, mas ainda sem completo sucesso.
Consequentemente, pôr fim
ao apoio que os sauditas dão aos terroristas terá impacto decisivo,
especialmente porque os militantes e os que lhes pagam foram surpreendidos por
nossa capacidade militar de defesa. Nós sabemos, e todo o mundo sabe, que a
al-Qaeda não ameaça só a Síria. Por isso esperamos que surjam soluções
racionais nos próximos meses. Mas tudo também depende de nossa capacidade para
fazer frente aos sauditas, e estamos decididos a lutar até o fim.
À luz da situação em campo, não acreditamos
que seja possível alcançar algum acordo em breve. Enquanto persistir o fluxo de
milicianos, armas e dinheiro para dentro da Síria, pelas fronteiras,
continuaremos a caçá-los. Ninguém no mundo pode impedir-nos de exercer o direito
de nos defender. Além do mais, hoje, vemos que é muito pouco o que possa ser
acordado em Genebra, sobretudo porque há quem ainda creia, erradamente, que o
que estamos fazendo aqui é feito para entregar o poder a eles.
Ainda que consigam indicar algum nome como
líder da oposição [Coalizão Nacional] al-Jarba para a presidência, como conseguirão
pôr os pés na Síria?
A Arábia Saudita está liderando a mais
extensa operação de sabotagem direta contra todo o mundo árabe. A Arábia
Saudita arrastou os países do Conselho de Cooperação do Golfo para a guerra
contra todas as nações e partidos que se opõem a Israel. Os sauditas deram
cobertura aos acordos de Camp David, apoiaram a guerra contra o Líbano em 1982
e, hoje, estão engajados em guerra aberta contra a Síria. Aqui dizemos
abertamente que estamos em guerra contra eles. É verdade: noutras ocasiões,
fizemos acomodações com eles. Mas os sauditas querem tudo conforme os
interesses deles, a visão deles.
Sobre a posição de países ocidentais que apoiam a oposição armada na Síria, Assad disse que:
O ocidente colonialista ainda age com a mesma
mentalidade vã. Agem como se os últimos 20 anos não tivessem existido. Ignoram
que os EUA foram derrotados no Iraque. E agem como se a União Soviética tivesse
acabado ontem.
Nouri al -Maliki |
Sobre a
atual situação do mundo árabe e da Liga Árabe, o presidente Assad disse que:
Se a Liga permanecer sob influência e tutela
de regimes retrógrados como os dos países do Golfo, ela não terá papel ou valor
algum. Mas nem todos os países árabes tiveram roubada a própria independência.
Hoje, há um bravo homem no Iraque, o Primeiro-Ministro Nouri al-Maliki. É homem
de posições importantes, apesar de seu país estar em ruínas e de haver quem
queira continuar a destruição. Também a posição da Argélia pode ser vista como
adiantada, em relação a outros. Mas, mais importante, temos de prestar atenção
ao que está acontecendo hoje no Egito.
Vemos, como o resto dos árabes veem, que
alguém, no Cairo, já está dizendo aos norte-americanos, abertamente,
claramente: “Vocês nada têm a ver com assuntos internos do Egito”. Essa é
posição importante, que tem de ser apoiada.
O
presidente da Síria também falou sobre a situação dos partidos políticos na
Síria e no mundo árabe:
O vácuo político é uma das razões pelas quais
os grupos extremistas se disseminaram. Mas outra razão tem a ver com o fato de
que os partidos não se atualizaram, não rejuvenesceram, e continuam fracos.
Nós, como estado, temos interesse em estimular o trabalho deles. Também temos
observado o reflexo da força da Síria, na realidade árabe em geral, e
especialmente no Maghreb o qual, tememos, pode vir a ser submetido ao poder da
OTAN.
Colin Powell |
O
presidente Assad também alertou contra a disseminação da ideologia wahhabista
no mundo árabe:
Para opor-se a isso, é preciso uma nova
abordagem das instituições religiosas, mas, em primeiro lugar e sobretudo,
exige que se apoie um estado civil baseado na co-cidadania. A geração de hoje
foi submetida a um processo de promoção sempre crescente da ignorância. A
geração que nos antecedeu tinha mais informação, e esse processo de disseminar
a ignorância tem a ver com manter o mundo árabe sempre em estado de atraso
perene.
Devo lembrá-los de que o ocidente não quer
ver evolução nessa nossa parte do mundo. Lembro da visita que nos fez o Secretário
de Estado dos EUA, Colin Powell, em 2003, para dizer-nos o que os EUA queriam
da Síria depois da ocupação do Iraque. Queriam, principalmente, que não
recebêssemos os cientistas iraquianos. Rejeitamos o pedido dele. Então, a
inteligência dos EUA e de Israel liquidou vários daqueles cientistas. Hoje,
querem matar todos os cientistas iranianos.
Gamal Abdel Nasser |
Mas Assad
observou que, diferente disso, a inteligência parece estar despertando
novamente entre os povos árabes. Ver cartazes com fotos do falecido presidente
Gamal Abdul-Nasser do Egito, em muitas manifestações árabes, é sinal disso.
Disse também que:
Não somos contra a religião. Mas somos contra
invocar a religião em todos os aspectos
da vida diária do povo. Mesmo nós, que somos seculares, garantimos o lugar da
religião em nossa Constituição síria, que declara, explicitamente, que a Xaria
é fonte de direito. Mas recusamos qualquer politização da religião, no sentido
qe leva a resultados negativos. Exemplo de que nós não somos contra a religião
é o caso do Hezbollah no Líbano. É partido ideológico cujas ideias são
derivadas da religião. Nós não discordamos politicamente do Hezbollah. É prova
de que não temos posição contra a religião. Mas recusamos qualquer força
religiosa que opere em acordo com takfiri
ou com a ideologia wahhabista.
Por isso, dizemos que não negociamos com a
Fraternidade Muçulmana. Entendo que os sírios não podemos tolerar essa facção.
Jamais, em momento algum, nos ofereceram modelo positivo. Operam a partir de
uma posição sectária. E de que outro modo se explicaria a oposição que fazem ao
Hezbollah? Aceitam a politização de qualquer assunto e usam seu discurso
sectário para incendiar a luta entre sunitas e xiitas.
A Síria, como o Irã e o Hezbollah toleramos
muitas coisas, para evitar a sedição. Exatamente por essa razão, temos
abordagem muito cuidadosa para a situação no Bahrain.
(Al-Akhbar)
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