segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Moon of Alabama: “Temas sobre os quais eu já deveria ter blogado há mais tempo”

Quando um blogueiro sério vale (muito!) mais que milhares de jornalistas do jornalismo-que-há

1/12/2013, [*] Moon of Alabama  
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

(Eliane Cantanhede, FSP, 1/12/2013, MENTINDO que “não acha nada”, quando não faz outra coisa além de plantar propaganda tucanófila antecipada e ilegal e achando e “se achando”, como sempre, muito).

1. Ucrânia

O russo como língua dominante na Ucrânia
(clique na imagem para aumenter)
O sul e o leste da Ucrânia são etnicamente russos. Aí é onde estão as indústrias da Ucrânia. Essas indústrias não são (ainda) capazes de competir com indústrias da Europa Ocidental e dependem de negócios com a Rússia. Diferente do leste do país, o oeste é predominantemente agrícola e alguns ali provavelmente lucrariam com associação mais profunda com a União Europeia. Mas, sobretudo, a recente tentativa de firmar um pacto comercial entre Ucrânia e União Europeia é absoluto nonsense. Muitos países da União Europeia (França, Espanha) são contrários ao pacto comercial com a Ucrânia e essa oposição reduziu o patamar de suborno ao qual a União Europeia poderia ter chegado para comprar a Ucrânia. E a União Europeia foi forçada a oferecer “valores”, onde a Rússia pode fornecer gás barato e um mercado viável para os bens e serviços ucranianos. Considerando-se a Grécia e a Espanha, os “valores” europeus não parecem, atualmente, assim lá muito valiosos. Era direito, portanto, do presidente da Ucrânia rejeitar a proposta da União Europeia. Uma claque bem paga pela União Europeia e o refugo de uma “Revolução Laranja” estão fazendo comícios a favor do negócio com a União Europeia. Ignorem.

2. Irã

Acordo nuclear provisório entre Irã e P5+1
A atividade da política exterior do Irã é excepcional, de tirar o fôlego. Recentemente, o ministro de Relações Exteriores da Turquia visitou Teerã. Em seguida, chegou o ministro de Relações Exteriores dos Emirados Árabes Unidos. O ministro de Relações Exteriores do Irã está atualmente no Kuwait e na sequência viajará a Omã. A proposta de visitar também a Arábia Saudita foi rejeitada por Riad. Considerada com o recente nuclear acordo temporário firmado com o P5+1, essa parece ser estratégia para isolar a Arábia Saudita e assim construir unidade contra um ataque saudita-israelense contra a Síria. Isso, quando o presidente Assad (finalmente) declarou guerra contra a Arábia Saudita, e diplomatas europeus já retornam a Damasco. Confio mais do que nunca que a Síria, apesar dos altos custos, pode vencer e acabará vencendo essa guerra.

3. EUA

Têm havido conversas sobre uma América Saudita, porque a exportação de gás e de petróleo de xisto permite agora que os EUA produzam internamente mais de 50% dos hidrocarbonetos que os EUA estão usando. Na minha opinião, é delírio. O preço pelo qual os produtos de xisto pagam o que custa produzi-los [orig. break even price] é quase sempre acima de $50 dólares (em alguns casos, muito acima) por barril.


O preço para produzir hidrocarbonetos no Oriente Médio fica em $1-$5 por barril. Com a volta de Iraque e Irã à produção, os preços cairão e a produção doméstica de xisto nos EUA deixará de ser competitiva. Como a produção a partir do xisto é de curto prazo (as fontes perfuradas esgotam-se rapidamente) qualquer pequena queda nos preços bastará para torná-la comercialmente inviável.

4. China

Muitos anos depois que os japoneses e outros países asiáticos declararam suas respectivas Zonas Aéreas de Identificação de Defesa (ZAIDs), nas quais se exige que os aviões que ali circulem informem sobre o voo ao país que seja sobrevoado, a China declarou sua ZAID. Nada de excepcional. O mapa abaixo mostra que a ZAID chinesa é menor que a ZAID japonesa. 

ZAIDs da China (fucsia) e do Japão (azul)
(clique na imagem para aumentar)
Alguns jornais-empresa dos EUA dizem que a China teria declarado uma “Zona de Defesa Aérea” e estaria disposta a ir a guerra por causa dela. Tudo errado. Só mais da sempre estúpida propaganda jornalística pró-guerra. Uma zona de identificação (também chamada “de informação”) é sempre muito maior que uma zona de defesa e visa a servir-se da identificação para não desperdiçar poder aéreo de defesa em voos inocentes. Aliás, a ZAID dos EUA (mapa abaixo) impõe regras muito mais ferozes que as chinesas.

Mapa da ZAID do Canadá e dos EUA (cinza)
(clique na imagem para aumentar)

 
ZAID do Estado do Alaska (quadriculado)
(clique na imagem para aumentar)



[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:



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