4/12/2013, [*] Moon of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Jabhat (Frente) al-Nusra, braço da al-Qaeda, dialogando com os EUA |
Funcionários
dos EUA estão
conversando com comandantes da nova Frente Islamista na Síria; e
inventando que essa seria agora alguma alternativa “moderada” à Al-Qaeda:
Os EUA e aliados mantiveram conversações
diretas com milícias islamistas chaves na Síria, disseram funcionários
ocidentais, com o objetivo de conter a al-Qaeda, ao mesmo tempo em que
reconhecem que as milícias religiosas tantas vezes combatidas por Washington
venceram no campo de batalha.
Simultaneamente, a Arábia Saudita vai ainda
mais longe, cuidando de armar diretamente e financiar um dos grupos islamistas,
o Exército do Islã, o que tem gerado muitas preocupações em Washington.
...
Os sauditas e o ocidente estão em movimento
de pivô na direção de uma coalizão recém criada de milícias religiosas chamada
Frente Islâmica, que exclui os principais grupos ligados à al-Qaeda que lutam
na Síria – a Frente Nusra e o Exército Estado Islâmico do Iraque e Levante (Islamic State of Iraq and the Sham, ISIS).
...
Diplomatas ocidentais disseram que seu engajamento
com os islamistas também visa a afastar algumas milícias poderosas para longe
da Frente Al-Nusra e de outros grupos ligados à al-Qaeda. “Entendemos que são
grupos que, se não fizermos nada, podem caminhar na direção de mais
radicalização” – disse um diplomata
ocidental.
Puro
absurdo. Os principais grupos que formaram a Frente Islâmica são Liwa al-Tawhid
e Ahrar al-Sham, os quais, ambos, regularmente trocam recursos
e cooperam com a Frente Jabhat al- Nusra ligada à al-Qaeda e com o
grupo Estado Islâmico do Iraque e Levante. Têm
as mesmas raízes e constituíram-se antes do início dos primeiros
protestos na Síria. Os dois grupos estiveram
envolvidos em vários pogroms contra o povo sírio
que não aceita o programa desses grupos, de imposição da Lei da Xaria.
Liwa al-Tawhid aliados à al-Qaeda, combatem contra Assad |
A única
alternativa a uma anarquia comandada pela Al-Qaeda na Síria é um estado
presidido pelo presidente Bashar al-Assad e seu partido. Cooperar com Assad é a
única via que o “ocidente” tem para impedir que se forme mais um novo estado de
islamistas fanáticos junto à fronteira sul da OTAN. E isso já era óbvio há dois
anos, quando
escrevi, em fevereiro de 2012:
Uma Síria derrotada pelo terror, seguida de
grandes massacres sectários e de vastos fluxos de refugiados, o que com certeza
fará com que os combates se alastrem para os países vizinhos. Isso não pode
interessar a ninguém.
É hora de o “ocidente” não só retroceder, mas
dar meia volta e passar a ajudar Assad a combater os terroristas que querem
destruir o país dele.
Ryan C. Crocker |
Partes do
governo Obama parecem estar, finalmente, chegando à mesma
conclusão óbvia:
Temos de começar a conversar outra vez com o
governo de Assad sobre contraterrorismo e outras questões de nosso mútuo
interesse – disse Ryan C. Crocker, veterano diplomata que serviu na
Síria, no Iraque e no Afeganistão. – Terá
de ser feito muito, muito discretamente. Mas, por pior que Assad seja, ele não
é tão ruim quanto os jihadis que
assumirão se Assad não estiver lá.
Infelizmente,
a Casa Branca (ainda) não
está prestando atenção a Crocker:
Ainda não está claro se, ou quando, a Casa
Branca se disporá a uma mudança tão abrupta em sua abordagem, depois de anos de
apoio à oposição síria e de muito clamar pela deposição do presidente Assad.
Com certeza, serão necessárias delicadas negociações com aliados no Oriente
Médio que são apoiadores generosos, e há muito tempo, de grupos rebeldes na
Síria, sobretudo a Arábia Saudita.
Não sei
qual seria o problema com a Arábia Saudita. Esse país não tem alternativa, a
não ser permanecer sob o guarda-chuva de segurança dos EUA. A Casa Branca deve
dizer ao rei Abdullah saudita que ponha fim ao exército de terroristas
mercenários do príncipe Bandar bin Sultan na Síria, “porque se não...”.
Os sauditas
realmente desejam confrontação fundamental com os EUA, exatamente quando o Irã
já se apresenta como alternativa viável para influenciar o Golfo Persa a favor
dos EUA?
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama Song” (também conhecida como“Whisky Bar”
ou “Moon over Alabama”) dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927) de Bertolt Brecht, com
música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois autores, em 1930, na
ópera A Ascensão e a Queda da
Cidade de Mahoganny. Nessa utilização, aparece cantada pela personagem
Jenny e suas colegas putas no primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita
em alemão, essa canção sempre aparece cantada em inglês. Foi regravada por
vários grandes artistas, dentre os quais David Bowie (1978) e The Doors (1967).
No Brasil, produzimos versão SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em
“Cida Moreira canta Brecht”, que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa de
homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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