sexta-feira, 2 de julho de 2010

DEM-PSDB: Índio quer apito

Osvaldo Bertolino

A manobra que o PSDB fez ao lançar o trêfego senador Álvaro Dias a vice na chapa de José Serra e depois recuar para acomodar a imposição do deputado Índio da Costa (DEM-RJ) em seu lugar não passou de rastejos. São comuns, nessas circunstâncias, os oportunistas de olho nas oportunidades para abrir as asas nos espaços das disputas miúdas.

O que o DEM fez foi tão somente recuperar seu espaço para poder apitar a plenos pulmões na campanha da direita. Não fazia o menor sentido, portanto, as especulações sobre possíveis rupturas entre essas duas reservas do consevadorismo. Elas representam um papel muito bem definido no jogo cujas regras foram definidas pela redemocratização do país nos anos 80.

Na década de 90, houve no Brasil um acentuado acirramento da histórica disputa ideológica entre as forças progressistas e conservadoras. Nesse período, prevaleceu no país a idéia liberal mais dura, que exacerbou a lógica que identifica no indivíduo a grande mola propulsora do desenvolvimento econômico. Havia por trás dessa teoria, evidentemente, os interesses das principais classes sociais dominantes. E em seu reformulado projeto de sociedade, totalmente atrelado ao capital financeiro, não cabia a imensa maioria que não se encaixava nessa regra.

União de bens

Prevaleceu, nesse período, a filosofia do Estado grande e eletrizado ao tratar dos interesses dessa simbiose de poderes econômicos e néscio ao tratar dos interesses do povo. A sustentação política era egenhosa. Para o objetivo do PSDB, a chamada nova direita, o PFL era a sustentação política perfeita. E para o PFL, o PSDB era a melhor chance de continuar no poder — condição que vinha conseguindo manter já há décadas. Ou seja: foi um matrimônio regido pela união de bens e por uma forte paixão entre os noivos.

Naquele momento, foi importante ao PSDB a sustentação política de um partido, o PFL, ligado às oligarquias mais atrasadas do país, ideologicamente comprometido com o fisiologismo e o clientelismo. E foi importante também ao PFL a proposta neoliberal do PSDB, de fortalecer os laços dessas oligarquias com o capital financeiro. O partido tucano surgiu como ala organizada dentro do PMDB quando Franco Montoro, eleito em 1982, assumiu o governo do Estado de São Paulo. Na ocasião, Orestes Quércia já era o principal líder do PMDB no Estado e aceitou, em nome da unidade, ser vice de Montoro.

Choque de capitalismo

FHC foi eleito senador pela sublegenda, de carona. Mário Covas foi nomeado prefeito de São Paulo e José Serra assumiu como o poderoso secretário de Planejamento. Sérgio Motta — ministro das Comunicações no governo FHC — assumiu a presidência da Eletropaulo. Paulo Renato e Bresser Pereira ficaram com o controle das finanças. Na sucessão de Montoro, o empresário Antônio Ermírio de Moraes candidatou-se pelo PTB e era um dos concorrentes de Quércia. Mas não lançou candidatos ao Senado. Covas e FHC eram os candidatos a senadores pelo PMDB. A deputada peemedebista Ruth Escobar — que mais tarde virou tucana de carteirinha e num banquete chamou Lula de “aquele mecânico” — criou um grande comitê Ermírio, Covas e FHC.

Em seguida, pipocaram comitês semelhantes pelo Estado. Foi a senha para a criação do PSDB. Logo o partido, majoritariamente, bateu asas para a direita. Já em 1989, quando os tucanos lançaram Covas para concorrer à Presidência da República, estava claro que este era o destino do partido. No dia 28 de junho daquele ano, em seu lançamento como candidato a presidente, Covas pronunciou o discurso que ficou famoso sob o título “Choque de Capitalismo”. “Basta de tanto subsídio, de tantos incentivos, de tantos privilégios sem justificativas ou utilidade comprovadas. Basta de empreguismo. Basta de cartórios. Basta de tanta proteção a atividades econômicas já amadurecidas”, disse ele. (Esse discurso, até na forma, também ficou famoso na boca de Fernando Collor de Mello.)

Marina Silva

Logo depois, em 1991, um setor tucano capitaneado por FHC defendeu a incorporação do partido ao governo Collor. A manobra seria um desastre político. Foi combatida por Covas, o que possibilitou, mais tarde, a FHC ser o principal executor de uma espécie de golpe branco contra o presidente Itamar Franco ao comandar o processo de transição da economia para a “estabilização” e o casamento com o PFL, que acabara de se divorciar de Collor. Como a política dos liberais tem discurso e prática diferentes, FHC assumiu a Presidência da República empalmando as promessas de Covas e o resultado de seus dois mandatos foi a tão comentada herança maldita.

Por tudo isso, não se deve acreditar que existe um vácuo na disputa presidencial deste ano. Nem tampoco forças para fraturar a estrutura da plataforma da direita. O DEM tem um peso muito bem quantificado nessa composição. De resto, estas também serão eleiçãoes nas quais dois campos bem definidos disputam os corações e mentes dos brasileiros. Não há espaço para “terceiras vias”, nem à esquerda nem à direita. A candidata Marina Silva, do PV, que assumiu o abertamente discurso direitista, que o diga.

sugado de Osvaldo Bertolino