por Luiz Carlos Azenha
Amigos me relatam casos de filhos que sofreram profundamente com a desclassificação do Brasil da Copa do Mundo. Crianças que estavam certas de que a “sequência natural” do torneio seria a de uma novela ou de um filme açucarado de Hollywood: no final, vence o mocinho, ou seja, era apenas uma questão de tempo até o triunfo brasileiro. Eu disse a eles que era natural, que as crianças sofrem mais que os adultos por causa do futebol, se entregam mais às suas paixões, são mais inocentes. “Você não está entendendo. É um sofrimento profundo, de perder o apetite”. Será um fenômeno geracional? Um fenômeno das crianças mimadas da classe média? Um fenômeno de crianças cujos pais vivem em função de fazê-las felizes 24 horas por dia? Não tenho como responder, já que as minhas crianças tem 20 e 21 anos de idade!
Mas eu puxo pela memória dos tempos de Bauru, nos anos 60 e 70. Meu pai, o seo José, me colocou desde muito cedo na prática de esportes, junto com meu irmão. Jogamos basquete em equipes da Associação Luso-Brasileira de Bauru. Nadamos em equipes do Bauru Atlético Clube. Lutamos judô pelo Bauru Tênis Clube, onde também praticamos um pouquinho de polo aquático e de tênis. Como tanto eu quanto meu irmão começamos a trabalhar muito cedo, no Jornal da Cidade, nossa rotina era estafante. Escola, trabalho e esporte. Bauru, naquele tempo, era uma cidade de muitas atividades do esporte amador. Foi onde surgiram grandes jogadoras de basquete, como a Jaci Guedes, a Suzete e a Simone e onde atuou o técnico da seleção brasileira, Antonio Carlos Barbosa. No tênis, tínhamos a família Sacomandi, o Roger Guedes, o Meca e muitos outros. Eram vários clubes competindo em disputas amadoras estaduais.
Na correria a gente nunca parou muito para pensar ou conversar a respeito. Era um dado da infância e da adolescência: estudar e praticar esportes. Mas um dia eu resolvi perguntar ao meu pai, que amava esportes mas não os praticava e era um homem de muita ação e poucas palavras, o que tinha dado nele de nos inscrever e incentivar a participar de tantas atividades coletivas. “É para aprender a perder”, ele disse. Com certeza ele viu muitas derrotas da Portuguesinha (time de futebol amador de Bauru que mais tarde se tornou o Internacional) e do Luzitana (na época, já com o novo nome, Bauru Atlético Clube, o time do craque Dondinho, onde começou a jogar bola ainda menino um certo Pelé).
Quem não perde, diria eu, nunca aprende direito o gosto da vitória.
texto de Luiz Carlos Azenha no Viomundo