domingo, 18 de julho de 2010

Washington não ajudará os palestinos

18/7/2010, Nicola Nasser, Middle East Online - Traduzido por Caia Fittipaldi

Nicola Nasser é veterano jornalista. Trabalha em Bir Zeit, Cisjordânia, Território Palestino Ocupado. Versão desse artigo, traduzido do árabe, foi publicado em Al-Ahram Weekly, Cairo, 15/7/2010.

Funcionários da OLP no governo de Mohamed Abbas sempre reclamam que consomem mais tempo em negociações com os EUA do que com os isrealenses.

Nos últimos tempos, isso parece ser mais verdade do que nunca. Desde o ataque de Israel contra Gaza, há quase um ano e meio, o governo de Abbas suspendeu todas as conversações com Israel e não faz outra coisa além de conversar com norte-americanos. O enviado especial do presidente Obama George Mitchell tem estado quase permanentemente na Região desde maio 2010, esforço que não dá sinais de qualquer resultado proveitoso.

Os palestinos não tiveram melhor sorte com os EUA, que com os israelenses. Não passa dia sem que alguém ‘solicite’ que os palestinos aceitem os termos da paz proposta por EUA-Israel, termos que não preveem qualquer outra via além de rendição e desastre. Além de exaurir os palestinos e empurrá-los para posições de desespero, de onde EUA-Israel esperam obter concessões, nada de mais substancioso brotou até agora das conversações, seja com os EUA seja com Israel.

Os EUA venderam falsas esperanças aos palestinos e deram tempo a Israel para ocupar mais terras e acomodar a demografia conforme seus projetos. Agora, já nem a folha de parreira das boas intenções esconde a verdade.

No encontro entre Barack Obama e Binyamin Netanyahu, na 3ª-feira passada, afinal, aconteceu o tiro de misericórdia, para por fim a qualquer fantasia que algum palestino ainda acalentasse, de que os EUA pudessem ajudar.

Os negociadores palestinos só fazem repetir que não lhes resta outra alternativa além de negociar com os EUA. Não é verdade. O povo palestino não quer que as negociações prossigam, e nosso espírito de luta continua vivo e forte. Se todas as demais vias fracassarem, sempre aí estará o povo e as soluções que o povo palestino encontrará, mais uma vez. Sempre aconteceu assim em toda a história do mundo: povos sob ocupação sempre resistiram. Os palestinos não somos exceção.

O presidente Abbas tem dito aos palestinos que a bola está no campo de Israel. Mais uma vez, a Casa Branca diz claramente que a bola, o campo, o árbitro e todos os jogadores têm de fazer o que os EUA mandem. Agora, então, Obama devolveu a bola ao campo palestino.

O processo de paz tem sido, no máximo, exercício de propaganda de EUA-Israel. No mínimo, é artifício político que visa a dar tempo aos sionistas e a enfraquecer os árabes. O processo de paz visa, exclusivamente, a criar uma 5ª Coluna entre os palestinos. O processo de paz jamais visou a construir paz alguma. A equação jamais tendeu ao equilíbrio.

É hora de os árabes, sobretudo os árabes palestinos, declararem que basta. É hora de ver que o processo de paz levou a nada, que não há paz, nem segurança nem desenvolvimento nessa Região.

Obama festejou Netanyahu, como George Bush festejava Ariel Sharon. As palavras que os dois presidentes usaram para os chefes israelenses foram praticamente as mesmas. Sharon foi apresentado como “homem da paz”. Agora, Netanyahu herdou o título, como se ninguém soubesse que, apenas alguns dias antes, ele ordenara o massacre dos ativistas da Flotilha da Paz; como se ninguém soubesse que, no mesmo dia em que Obama festejava Netanyahu, o grupo israelense B'Tselem distribuía relatório obsceno sobre a expansão das colônias exclusivas para judeus na Cisjordânia.

Obama só teve elogios para o primeiro ministro de Israel. Não há diferenças entre Israel e os EUA, disse Obama, para quem as conversas com Netanyahu teriam sido “excelentes” e os laços que unem os EUA e Israel seriam “extraordinários”. Washington continua tão comprometida com a segurança de Israel como sempre esteve, e os “laços especiais” continuam firmes como sempre, como disse Obama a jornalistas.

Por sua vez, Netanyahu disse aos jornalistas que notícias sobre algum abalo nas relações EUA-Israel não passaram de boatos.

Para recompensar Netanyahu pelo que lhe parece ser “progresso” rumo à paz, Obama aceitou convite para visitar Israel.

Algum desses eventos surpreendeu o presidente Mahmoud Abbas?

Obama foi só gentilezas com Netanyahu. Palavras mais duras, ele as reservou sempre contra os palestinos. Aconselhou que parássemos de provocar e criar dificuldades para os israelenses. Os palestinos, que paremos logo de inventar “pretextos” para atrasar o processo de paz, que sentemos imediatamente à mesa para negociar com os israelenses. Todas as condições que Obama apresentara antes, para gerar melhores condições de negociações para os dois lados, parecem ter sido esquecidas. A posição atual dos EUA é que os palestinos ‘temos de’ aceitar negociações, imediatamente e sem condições.

Não era o que o presidente Abbas mais gostaria de ouvir. Em vez de estimulados, os palestinos recebemos ordens sobre como nos comportar adequadamente.

Funcionário próximo do presidente Abbas disse ao jornal Al-Quds Al-Arabi que “tudo sugere que o governo Obama forçará a Autoridade Palestina a aceitar negociações diretas” sem qualquer garantia e sem precondições. É exatamente o que Mitchell tenta conseguir nas muitas visitas recentes que tem feito à Região.

Agora, cabe a Abbas decidir. Se cede aos EUA, que é o que tem feito sem parar desde Annapolis em 2007, ou se enfrenta os norte-americanos. No primeiro caso, perderá a pouca credibilidade que lhe resta. No segundo, terá de sair do governo. Abbas já apostou todas as suas cartas nas negociações. E não resta qualquer esperança de que alguma negociação dê algum fruto.

Aos palestinos só resta a opção de resistir e resistir. É caminho, mais que longo e dificílimo, que exige união nacional. A OLP só chegou ao governo por ação da resistência e efeito da unidade nacional. Agora, a falta de resistência e de unidade nacional ameaça banir a OLP para sempre do cenário, ou a converterá em lacaios das forças de ocupação.

O artigo original, em inglês, pode ser lido em: No Help from Washington