12/1/2014, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Charges de Latuff
Ariel Sharon "higienizado" pela imprensa-empresa... |
Duas mortes, de dois líderes estrangeiros, no período de um
mês, produziram sentimentos diferentes em Moscou.
A morte de Nelson Mandela foi apenas registrada, em tom de
nota rotineira, assinada por funcionária de nível médio do Departamento
de Informação do Ministério de Relações Exteriores da Rússia. Mas a morte de Ariel Sharon, ao
contrário, foi registrada pelo presidente Vladimir Putin, em pessoa, em mensagem de condolências
excepcionalmente elaborada, publicada na página do Kremlin.
Realpolitik? Não, não pode ser, porque não importa o
que Mandela tenha defendido, a África do Sul também é país BRICS, e Moscou não
se cansa de repetir a alta importância que atribui a esse grupo em suas
prioridades de política externa. Então... por quê?
Claro que Sharon era russo de origem, nascido em família de
judeus russos, grupo de eleitores aos quais a política russa sempre foi muito
sensível, inclusive no período soviético. É verdade também que Sharon reforçou
laços de amizade entre Israel e Rússia. De fato, Sharon é visto como herói aos
olhos dos israelenses, e a diplomacia russa está jogando para a plateia, num
momento em que seus diplomatas trabalham duro para dar conteúdo estratégico aos
laços com Israel.
Tudo isso é perfeitamente compreensível. Mesmo assim...
Moscou não terá exagerado?
Mais um genocida que não foi sequer julgado... |
Para responder, consideremos o que fez o presidente Barack
Obama dos EUA, movimento que oferece interessante caso para estudo em
contraste: Obama enviou mensagem
de condolências sóbria, apropriada ao momento, mas na qual deixa
absolutamente claro que, na análise final, nenhuma personalidade interessa ou
conta, e – mais importante – sem fingir que ignora a dura realidade conhecida
de todos: a opinião pública mundial, hoje (e, provavelmente ainda por muito
tempo) só se refere a Sharon como “O carniceiro de Beirute”.
Fato é que Obama não escreveu uma única palavra de elogio a
Sharon. Esse é ponto importante, e conta a favor de Obama. A verdade é que,
como escreve hoje o jornal
porta-voz do governo chinês, China Daily, Sharon foi
homem altamente controvertido, com muito sangue (humano) nas mãos.
Não esqueçamos que a comissão de inquérito israelense que
investigou o massacre de centenas de palestinos nos campos de refugiados em
Beirute em 1983 recomendou a renúncia ou a demissão de Sharon, então Ministro
da Defesa. Conta a favor de Israel que aquele relatório
daquela comissão de inquérito permaneça disponível, até hoje, na página
do ministério de Relações Exteriores.
Disso tudo, nasce uma questão difícil: quem, afinal, Putin
ou Obama, está do “lado certo” da história?
O destino de Ariel Sharon |
A questão importante aqui é que os povos árabes também
estão acompanhando os
acontecimentos, o ambiente
político do Oriente Médio está em transformação e os povos podem decidir não
permanecer como meros observadores por mais muito tempo.
Isso, provavelmente, explica por que Pequim e Nova Delhi
ainda não distribuíram qualquer nota de condolências pela morte de Sharon.
[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços
na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão,
Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Irã, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias
publicações, dentre as quais The Hindu,Asia Times Online
e Indian Punchline. É o filho mais velho
de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de
Kerala.
E eu pensava que Ariel Sharon havia desencarnado há alguns anos.
ResponderExcluirVivendo e se informando.