20/1/2014, [*] Moon
of Alabama
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Ban Ki Moon, Secretário Geral da ONU |
Ainda não
se conhece a história toda por trás disso, mas parece que o secretário-geral da
ONU Ban Ki-Moon criou colhões repentinamente e, agora, os EUA tentam novamente
capá-los.
Ban Ki-Moon convidou, parece
que contra a vontade dos EUA, o Irã, para participar das conversas de Genebra-2
sobre a Síria.
Decidi distribuiu alguns convites adicionais
para a reunião de um dia em Montreux. São eles: Austrália, Bahrain, Bélgica,
Grécia, a Santa Sé, Luxemburgo, México, Países Baixos, República da Coreia e
Irã. Acredito que a presença internacional expandida naquele dia será
mostra importante e útil de solidariedade antes do duro trabalho que o governo
sírio e delegações da oposição iniciarão dois dias depois em Genebra.
Como já disse repetidas vezes, creio fortemente
que o Irã tem de ser parte da solução da crise síria.
Falei longamente nos últimos com o ministro
de Relações Exteriores do Irã Sr. Javad Zarif. Ele assegurou-me que, como todos
os demais países convidados para o dia da abertura das discussões em Montreux,
o Irã compreende que a base das conversações é a plena implementação do
Comunicado de Genebra de 30/6/2012, inclusive do Plano de Ação.
O ministro Zarif e eu concordamos que a meta
das negociações é estabelecer, por consentimento mútuo, um corpo provisório de
governo de transição, com plenos poderes executivos. Foi nessa base que o
ministro Zarif prometeu que o Irã desempenhará papel positivo e construtivo em
Montreux.
Assim, como anfitrião e organizador da
Conferência, decidi enviar um convite para
que o Irã participe.
Montreux Palace, hotel onde está sendo realizada a Conferência de Paz sobre a Síria |
Não há
praticamente coisa alguma que se possa dizer contra o Irã participar da
Conferência. Se até México e Luxemburgo foram convidados (e para quê?!), o Irã,
muito mais envolvido no conflito, evidentemente merece ter lugar à mesa. É até
necessário que lá esteja, porque qualquer acordo que saia de Genebra-2 exige a
concordância do Irã (sem isso, o Irã fica livre para sabotar qualquer acordo,
caso queira fazê-lo).
Mas o
Departamento de Estado dos EUA quer agora detonar a conferência, na qual tem
pouco a ganhar, e inventou de impor condições, as mesmas que
Ban Ki-Moon, com sua escolha cuidadosa das palavras, tentou deixar de fora:
Os EUA veem o convite do secretário-geral da
ONU ao Irã, para que participe da próxima conferência de Genebra como
condicionado a uma declaração do Irã de que explícita e publicamente apoia a
plena implementação do Comunicado de Genebra, inclusive a criação de um corpo
de governo transitório, constituído por consentimento mútuo com plenas
autoridades executivas. É algo que o Irã jamais fez publicamente e algo que nós
há muito tempo dizemos claramente que é indispensável.
Javad Zarif |
O ministro
de Relações Exteriores do Irã respondeu que, uma vez que o Irã não participou
da conferência Genebra-1, não se pode pressupor nem esperar que o Irã
aceite todos os resultados do Comunicado final de “Genebra-1”.
Sob pesada
pressão dos EUA, os estrangeiros patrocinados por estrangeiros que são a oposição
Síria no exílio concordaram, com menos da metade dos “membros” votando
sim, com comparecer a Genebra. Agora, encontraram uma razão para voltar atrás;
e lançaram um ultimato a Ban Ki-Moon, para que “desconvidasse” o Irã, ou a “oposição”
se retiraria da conferência. Ban Ki-Moon está exposto demais. Não é admissível
que deixe um bando de doidos que nada são ou representam, ditar a política da
ONU. Ignorará a tal “oposição”. Caberá aos EUA assumir a “oposição” em Genebra.
Apesar de o
governo sírio ter concordado há muito tempo com estar presente em Genebra, o
presidente Assad, em entrevista
publicada hoje (20/1/2014), deixou novamente claro que não renunciará
nem deixará que a “oposição” financiada por estrangeiros tome conta da Síria:
O presidente Bashar al-Assad da Síria disse
que há “significativa” probabilidade de que concorra a novo mandato e descartou
qualquer tipo de partilha do poder com a oposição que tenta derrubá-lo, em
entrevista exclusiva à Associated France Press, antes do início das
conversações de Genebra.
Falando no domingo, do palácio presidencial
em Damasco, Assad disse que entende que a guerra síria prosseguirá.
Disse que as conversações previstas para
começar na 4ª-feira (22/1/2014) em Montreux, Suíça, devem focar-se no que
chamou de sua “guerra contra o terrorismo”.
Bashar al-Assad |
Foco contra
o terrorismo é agora também o objetivo dos governos “ocidentais” que tentaram
derrubar Assad. A Síria é hoje um campo
de treinamento para vários grupos e subgrupos que, mais dia menos dia,
voltarão aos seus países de origem, e criarão problemas.
Até os EUA
precisam que Assad
permaneça no governo da Síria.
Dois
carros-bomba explodiram hoje num posto de fronteira entre Síria e Turquia, o
último ainda não oficialmente controlado pelo grupo ISIS ligado à
al-Qaeda. Os ataques obrigam
os turcos a não esquecer que eles também enfrentam problema gigante. Mais
uma descoberta de armas
contrabandeadas por
funcionários
da inteligência turca para jihadistas faz aumentar a pressão sobre Erdogan,
para que encontre saída rápida para aquela situação.
Assim
sendo, todos, exceto talvez o Qatar e a Arábia Saudita, estão à procura de
algum modo para deixar Assad no governo da Síria, pelo menos por enquanto, para
que expulse da Síria os terroristas.
Mas o
ataque dos EUA contra a conferência de Genebra-2, por causa da participação do
Irã, torna ainda mais difícil para quem está de fora ter qualquer influência sobre
o que se passa na Síria.
As lutas
internas que acontecem entre vários grupos extremistas dentro da Síria ajudou o
governo sírio a obter considerável
avanço militar em campo, em Damasco e arredores e em Aleppo.
Se
Genebra-2 não acontecer, ou se fracassar, quem menos perde é o governo do
presidente Assad.
[*] “Moon of Alabama” é título popular de “Alabama
Song” (também conhecida como“Whisky Bar” ou “Moon over Alabama”)
dentre outras formas. Essa canção aparece na peça Hauspostille (1927)
de Bertolt Brecht, com música de Kurt Weil; e foi novamente usada pelos dois
autores, em 1930, na ópera A Ascensão e a Queda da Cidade de Mahoganny.
Nessa utilização, aparece cantada pela personagem Jenny e suas colegas putas no
primeiro ato. Apesar de a ópera ter sido escrita em alemão, essa canção sempre
aparece cantada em inglês. Foi regravada por vários grandes artistas, dentre os
quais David Bowie (1978) e The Doors (1967). No Brasil, produzimos versão
SENSACIONAL, na voz de Cida Moreira, gravada em “Cida Moreira canta Brecht”,
que incorporamos às nossas traduções desse blog Moon of Alabama, à guisa
de homenagem. Pode ser ouvida a seguir:
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