24/1/2014, Nikolai
Malishevski, Strategic
Culture
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Militar dos EUA-OTAN patrulha uma plantação de papoula (ópio) no Afeganistão |
Pelo 3º ano
consecutivo, o Afeganistão ocupado pela OTAN cultivou número recorde de
papoulas do tipo que produz ópio. Segundo relatório do Gabinete da ONU para
Drogas e Crimes [orig. United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC)],
em 2013 as culturas de papoula de ópio no Afeganistão ocuparam a maior
superfície de terra, ultrapassando todos os registros anteriores. Apesar das
condições climatológicas desfavoráveis, sobretudo em áreas no oeste e no sul do
país, as plantações para produção de ópio ocupavam um total de mais de 209 mil
hectares, 36% a mais que no ano anterior.
Taxa de crescimento das plantações de papoula-ópio.
Tabela 1. Em duas décadas, segundo o relatório.
Tabela 2. Comparação (em %), de 2012 e 2013.
|
Oficialmente,
o cultivo da papoula-ópio – principal componente para a produção de heroína – é
proibido por lei no Afeganistão, embora o número de províncias nas quais a
planta está sendo cultivada não pare de crescer. A produção de ópio alcançou a
marca de 5.500 toneladas, mostrando crescimento de 49% em comparação com 2012.
A
propaganda ocidental culpa os Talibã pela produção de ópio, ou representantes
do regime, que estariam imersos no tráfico de drogas. Mas essas alegações não
se confirmam, se se observa o que está realmente acontecendo.
O comando
da OTAN diz que os Talibã
(...) opunham-se
inicialmente às drogas, mas agora ou cultivam eles próprios, ou criam “impostos”
sobre as colheitas das fazendas produtoras .
Mas os
comandantes dos Talibã têm repetido, com insistência, que os mujahideen afegãos
estão em luta de jihad contra as forças de ocupação; e que o Islã proíbe
estritamente tanto o consumo de álcool quanto de drogas. E deve-se dizer que,
sim, os islamistas fanáticos seguem essa regra ao pé da letra.
Militares da OTAN e plantadores de papoula (ópio) no Afeganistão |
Quanto aos
fantoches do ocidente, como Karzai e os que o cercam, aí, sim, há provas mais
do que suficientes de envolvimento deles na produção e no comércio de drogas. Em
outubro de 2013, eclodiu um escândalo em Kabul quando, durante inspeções no
Afeganistão, descobriu-se que 65 altos funcionários da inteligência afegã eram
dependentes de heroína. Alguns anos antes, se soubera que a CIA financiava
Ahmed Wali Karzai, irmão mais moço do presidente Hamid Karzai, o qual era
conhecido, já há mais de oito anos, como um dos principais traficantes de ópio
na região.
Nikolai Malishevski |
Pesquisadores
norte-americanos insistem que o tráfico de ópio nos EUA está sendo controlado
por redes e cartéis que foram descobertos durante o caso “Irã-Contras” e que
não suspenderam suas atividades desde os anos 1980s:
O pilar do regime de Karzai é o apoio que
recebe do tráfico de drogas, e, para nós, esse pilar é intocável. Os EUA
convertemos o Afeganistão no maior fornecedor mundial de heroína. E isso
aconteceu sob o comando da CIA – observam aqueles pesquisadores.
Segundo
informação recolhida de vários jornais de grande circulação (The Daily Mail,
The New York Times, Pakistan Dail etc.), os principais fornecedores de
heroína para o mercado global seriam:
- Izzatullah Wasifi, governador da província Farah; presidente da Administração Geral Afegã Independente contra a Corrupção, cujas atribuições incluem o combate ao cultivo de papoulas e à produção de ópio, e amigo de infância de Hamid Karzai; e que foi preso por autoridades dos EUA, em julho de 1987, por tráfico de heroína de alto grau (!);
- Jamil Karzai, presidente do Partido Nacional da Juventude Solidária do Afeganistão [orig. National Youth Solidarity Party of Afghanistan], membro do Conselho Nacional Afegão de Segurança e sobrinho de Hamid Karzai, que manteria relações de negócios com Haji Mohammad Osman, proprietário de um laboratório de produção de drogas no distrito de Achin, na província de Nangarhar (na pequena região do Damgal);
- Abdul Qayum Karzai, membro da Câmara Baixa da Assembléia Nacional Afegã, ex-empregado da Unocal, empresa norte-americana, e irmão de Hamid Karzai, e que seria o grande barão da droga em Kandahar;
- Shah Wali Karzai, irmão de Hamid Karzai, proprietários de campos de plantação de papoulas nas províncias de Kandahar, Nangarhar, Urozgan, Zabul, Paktia, Paktika e Helmand; e dúzias de autoridades do Executivo e do Judiciário afegãos, além de funcionários do Ministério de Relações Interiores do Afeganistão.
Se se
acredita na imprensa-empresa ocidental, os responsáveis pelos crimes de
produção e tráfico são fantoches do ocidente, como a família Karzai e seu
círculo, aos quais a mesma imprensa-empresa ocidental culpa pelo rápido
crescimento do número de dependentes de heroína em todo o mundo.
Mas a
verdade é que só 20% das papoulas-ópio são cultivadas nos distritos do norte e
do centro do Afeganistão, que são as regiões controladas pelo governo Karzai.
Todo o
resto da produção desse veneno tão lucrativo vem das províncias do sul, da
fronteira com o Paquistão – áreas controladas pelas forças da OTAN. O principal
centro de produção de drogas é a província de Helmand, que está sob comando de
forças do exército britânico.
Áreas de cultivo de papoula (ópio/heroína) no Afeganistão em 2012 (clique na imagem para aumentar) |
Em vez de
ajudar os agricultores afegãos a mudar-se para colheitas alternativas, os
“pacificadores” limitam-se exclusivamente a discutir por que a produção só
aumenta; e, segundo provas recolhidas de fontes locais e internacionais, os
“pacificadores” também participam ativamente do “negócio”. Alguns analistas
estão atribuindo essa “participação” ao fato de que os EUA tentam por todos os
meios evitar um conflito potencial contra os barões da droga, cujo apoio
político é importante para a existência do governo Karzai.
Mas o que
se vê, de fato, é que os EUA estão ignorando deliberadamente o elo que há entre
o tráfico de drogas, a crescente instabilidade no Afeganistão e o crescimento
de atividade terrorista na região. Dito de forma simples: se os EUA estão
garantindo aos barões da droga toda a liberdade de que precisam para manter o “negócio”
(em troca de apoio político ao governo de Karzai), os EUA estão, de fato,
trabalhando contra os próprios objetivos pelos quais invadiram o Afeganistão:
garantir paz e segurança ao país.
Thomas Ruttig |
Especialistas
ocidentais como Thomas Ruttig, co-diretor do centro de pesquisa independente Afghanistan Analysts Network, observa
que:
(...) com
a próxima retirada das forças da OTAN do Afeganistão, diminuiu muito a pressão,
pelas autoridades, contra os plantadores de papoula-ópio. O relatório divulgado
pela ONU diz, dentre outras coisas, que em 2013 as autoridades destruíram 24%
de pés de papoula-ópio a menos, que antes.
Resultado:
o Afeganistão está-se afirmando, consistentemente, como o maior fabricante de
ópio do mundo, produzindo mais de 90% de tudo que o mundo produziu em 2013.
Há três
anos, os mesmos analistas da ONU observaram que as papoulas estavam sendo
cultivadas em apenas 14, das 34 regiões do país; no início de 2014, esse número
já subiu para 20. Enormes plantações reapareceram em províncias do norte do
Afeganistão, como Balkh e Faryab, nas quais a papoula-ópio havia sido declarada
erradicada. Essas províncias afegãs são vizinhas de dois países da Commonwealth
of Independent States (CIS, organização que reúne 11 repúblicas
ex-soviéticas, inclusive a Rússia) – o Uzbequistão e o Turcomenistão.
Simultaneamente,
se observa que está em andamento um processo para militarizar os grupos
internacionais de drogas concentrados na região.
Viktor
Ivanov, chefe do Serviço Federal de Controle das Drogas da Federação Russa
[orig. Federal Drug Control Service of the
Russian Federation (FSKN)], diz:
Viktor Ivanov |
Já se vê que estão surgindo grupos armados
que, vários deles, são ramificações dos cartéis de drogas no norte do
Afeganistão. Esses grupos têm suas próprias unidades de combate (...) No Afeganistão, já está em andamento a
rápida militarização de grupos ligados ao tráfico. De modo geral, são bem
armados. Têm armas leves, armamento portátil, granadas e lança-granadas, e usam
regularmente essas armas. O orçamento de grupos ligados aos tráfico como esses
é de cerca de 18 bilhões de dólares norte-americanos. É dinheiro que obtêm da
produção da droga, e motivo pelo qual esses grupos converteram-se em fator
importante em tudo que tenha a ver com a situação política, econômica e criminal
dentro dos estados da Ásia Central.
Já há
muitos anos, os
EUA vêm usando o
tráfico de drogas para manter sua Guerra Fria
contra os estados pós-soviéticos, porque consideram que a droga seria elemento
eficiente para minar o potencial humano dos exércitos adversários naquelas
áreas.
Às vésperas
de se retirarem do Afeganistão, as forças de ocupação da OTAN tratam de
reforçar a produção de papoulas-ópio, por todos os meios possíveis. Assim,
contam com empurrar o conflito para confrontos cada vez mais violentos, usando
grupos armados das máfias da droga, que se concentram ao longo da fronteira sul
da ex-URSS. Por isso, lá circulam hoje tantas armas e tantos grupos armados
mantidos pelo tráfico, mas que se ocultam por trás de “bandeiras” islamistas e
de slogans “jihadistas”...
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