2/3/2014, [*] Finian Cunningham,
PressTV, Irã
Traduzido p[elo pessoal da Vila Vudu
Os EUA entraram em novo surto de
excepcionalismo, com o presidente Barack Obama a ameaçar a Rússia, sobre
respeitar a soberania da Ucrânia e não desestabilizar a região.
Por
“excepcionalismo norte-americano” designa-se a capacidade de Washington, , para
excepcional arrogância e excepcional dizer uma coisa e fazer outra, capacidade
aparentemente sem limites.
Obama ainda não
acusou a Rússia diretamente de “invasão militar” no país destroçado pela crise,
mas essa é inferência clara, se se ouve o que ele disse na conferência de
imprensa desse fim de semana. Numa ameaça velada de confrontação militar, o
presidente dos EUA ‘avisou’ que haverá “custos” para Moscou.
Barack Obama |
“Qualquer
violação da soberania e da integridade territorial da Ucrânia será
profundamente desestabilizadora e os EUA unem-se à comunidade internacional
para afirmar que haverá custos [pela violação]” – disse Obama, em declaração à
imprensa, redigida às pressas, em Washington, na 6ª-feira (28/2/2014).
A Casa Branca
está obviamente transtornada pelas notícias de movimentação de tropas russas
pela península da Crimeia, no sul da Ucrânia. Moscou diz que sua presença
militar na república autônoma da Crimeia na Ucrânia está plenamente de acordo
com tratado vigente há muito tempo, que a autoriza a manter soldados
estacionados ali, como parte da guarnição de sua base naval no Mar Negro.
Esse acordo foi
renovado em 2010, entre Moscou e Kiev, por mais 20 anos, assegurando a presença
militar russa na Crimeia, especialmente na base naval de Sebastopol, onde está
ancorada a Frota do Mar Negro russa.
Vitaly Churkin |
O embaixador
russo à ONU, Vitaly Churkin, negou que a Rússia tivesse invadido território da
Ucrânia e disse que “Estamos operando sob os termos desse acordo [com a
Ucrânia].” (...)
Há uma ironia
risível nos protestos de Obama. Os recentes aparentes movimentos militares dos
russos acontecem depois de meses de desestabilização da Ucrânia patrocinada
pelos EUA. Essa interferência ilegal e clandestina sapateou durante muito tempo
sobre a soberania ucraniana; exatamente o que, agora, ironicamente, Obama acusa
o presidente Putin, de estar fazendo. (...) Washington invadiu a Ucrânia com
agentes da CIA e com milhares das chamadas “organizações não governamentais”, e
o faz desde o início dos anos 1990s – sempre com o objetivo de agitar uma
mudança de regime na ex-República Soviética.
Victoria
Nuland, do Departamento de Estado dos EUA disse, ela mesma, recentemente, que
Washington “investiu” cerca de $5 bilhões para “promover a democracia” (quer
dizer, em subversão e sedição) na Ucrânia ao longo das últimas duas décadas.
Viktor Yanukovich |
A crise eclodiu quando o
enfraquecido presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, desapareceu do próprio
gabinete, semana passada, e pediu asilo à Rússia. O parlamento ucraniano,
depois disso, foi invadido por seus opositores patrocinados pelo ocidente e
instalou-se um governo provisório. Washington e Bruxelas rapidamente
reconheceram a suposta nova autoridade em Kiev. Mas a Rússia, amparada em
sólido argumento legal, denunciou a derrubada do presidente eleito Yanukovich e
seu governo, como golpe de estado.
Os tumultos na
Ucrânia, sim, tem todas as marcas de operação para “mudança de regime”
comandada por Washington. Desnecessário dizer que se trata de interferência
absolutamente criminosa, que zomba da lei internacional. O alvo final dessas
operações, como foi pretensiosamente exposto no início dos anos 1990s por
Zbigniew Brzezinski e outros estrategistas do Império dos EUA, sempre foi a
desestabilização da própria Rússia.
Agora,
ridiculamente, o novo presidente-fantoche-de-Washington em Kiev, Oleksandr
Turchynov, pôs-se a acusar forças russas de “tomar e capturar” o parlamento
regional e outros prédios públicos na Crimeia, ao sul da Ucrânia. (...)
Até agora, o presidente
Vladimir Putin da Rússia manteve-se em silêncio. Mas Putin conhece muito bem a
infinita capacidade de Washington para a mentira e a hipocrisia, e também sabe
da agenda clandestina de Washington para “mudanças de regime” – agenda que os
EUA ainda seguem contra a Síria, aliada árabe da Rússia.
Vladimir Putin |
Por hora,
Moscou parece interessada em agir em termos de calma legalidade e jogando pelas
regras. Só fez dizer que a presença de soldados russos na Crimeia é parte de
acordo militar bilateral legal e vigente, com a Ucrânia.
Mas os
norte-americanos sabem que, de fato, o que Putin disse foi: “Querem jogar sujo,
OK. Também sabemos jogar sujo. Agora, deem o fora daqui.” (...)
Putin está
absolutamente correto, ao impor um marcador militar não dito às ambições de
Washington sobre a Ucrânia, exatamente como fez quando os norte-americanos
tentaram intrometer-se militarmente na Ossétia Sul, em 2008, usando como braço
armado a Geórgia, agente da OTAN.
Os EUA são caso
excepcionalíssimo de arrogância e desconsideração pela lei internacional; por
isso não entendem a linguagem da diplomacia. A única linguagem que os EUA
entendem, como argumento contra sua força bruta, é a força bruta.
____________________
[*] Finian Cunningham nasceu em Belfast,
Irlanda do Norte, em 1963. Especialista em política internacional. Autor de
artigos para várias publicações e comentarista de mídia. Recentemente foi
expulso do Bahrain (em 6/2011) por seu jornalismo crítico no qual destacou as
violações dos direitos humanos por parte do regime barahini apoiado pelo
Ocidente. É pós-graduado com mestrado em Química Agrícola e trabalhou como
editor científico da Royal
Society of Chemistry, Cambridge, Inglaterra, antes de seguir carreira no
jornalismo. Também é músico e compositor. Por muitos anos, trabalhou como
editor e articulista nos meios de comunicação tradicionais, incluindo os
jornais Irish Times e The
Independent. Atualmente está baseado na África Oriental, onde escreve um
livro sobre o Bahrain e a Primavera Árabe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.