domingo, 16 de março de 2014

EUA e Rússia concordam em deixar rolar a bola na Ucrânia

16/3/2014, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Sergey Lavrov e John Kerry em Londres (13/3/2014)
Conforme já escrevi no postado de ontem – e diferente do que a imprensa-empresa está informando (que a reunião de cinco horas entre os ministros de Relações Exteriores da Rússia e dos EUA em Londres na 5ª-feira, 13/3/2014, teria fracassado) – os dois diplomatas, sim, abriram uma via para negociações sérias.

O entendimento alcançado na reunião de Londres parece ser que o referendo na Crimeia prosseguirá, mas a Rússia adiará a decisão de responder ao resultado do referendo; e que Moscou e Washington manterão as consultas.

Por sua vez, os EUA e seus aliados podem vir a impor sanções contra a Rússia, além das sanções apenas cosméticas anunciadas antes.

Significativamente, foi o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry quem telefonou ao Ministro russo de Relações Exteriores Sergey Lavrov, no sábado (15/3/2014). Isso apesar de já se saber que o referendo na Crimeia seria, sim, realizado no domingo, e da alta probabilidade de que o povo escolha unir-se à Rússia.

Já estava claro, de fato, desde quando Kerry informou o presidente Obama sobre o andamento dos entendimentos em Londres e retornou para retomar a conversação com Lavrov.

O Ministério de Relações Exteriores em Moscou revelou:

Lavrov e Kerry concordaram em manter os contatos em busca de solução para a situação na Ucrânia, com reforma constitucional a ser feita o mais depressa possível, acompanhada pela comunidade internacional de forma aceitável para todos, com o devido respeito aos interesses de todas as regiões da Ucrânia.

"Todos com Rússia 16 de março-Referendo" - Sinferopol, capital da Crimeia, 14/3/2014
Sim, é importante passo adiante e bem obviamente foi ideia que Obama já adiantara. De fato, a ideia pode ser que se deve encontrar meio pelo qual as reformas constitucionais na Ucrânia respeitem também os interesses vitais da Rússia.

O pensamento parece ser fixar fundamentos constitucionais que assegurem que o governo em Kiev não poderá impor decisões inaceitáveis para a Crimeia ou outras regiões do campo russo. Significa que nenhum majoritarismo pode prevalecer numa sociedade multicultural como é a Ucrânia.

O Ministério de Relações Exteriores da Rússia falou de um papel a ser desempenhado pela comunidade internacional “de forma aceitável para todos” – o que significa que a Rússia poderia estar diretamente envolvida de algum modo em qualquer processo que leve a mudanças constitucionais na Ucrânia.

A declaração do Ministério de Relações Exteriores da Rússia também dava a impressão de que Washington está sensível à profunda ansiedade que se vê em Moscou, ante a ascensão ao poder de grupos ucranianos ultranacionalistas.

Lavrov procurou a intervenção de Washington junto às autoridades em Kiev para pôr sob controle aqueles grupos radicais; e Kerry, parece, respondeu que os EUA estavam agindo e seus esforços dariam resultado. Lavrov e Kerry concordaram em manter futuros “encontros de trabalho” sobre a Ucrânia.

Notícias de Kiev sugerem que foi aberto o acesso a bases militares ucranianas e a instalações na Crimeia, para reabastecimento de suprimentos ao pessoal, nos dois casos.

Deve-se pressupor que os ministros da Defesa de Rússia e Ucrânia estiveram em contato. Se foi assim, é mais um sinal de que as previsões catastrofistas da imprensa-empresa sobre as conversações de Londres e as recriminações retóricas estão comprovadamente erradas.



[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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