28/3/2014, [*] Andrew Levine,
Counterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
O IVº Reich − por Maurício Porto
|
Barack
Obama, candidato, prometeu mudanças; eleito, só entregou continuidade,
continuísmo. Mas, na sequência, tanto continuísmo provocou mudança – para pior.
Em 2008,
“mudança” significava qualquer coisa que os eleitores desejassem que
significasse. Como o candidato, a palavra era como uma mancha de teste Rorschach.
Muitos,
provavelmente a maioria dos eleitores de Obama, não tinham sequer ideia de que
tipo de mudança esperavam. Só sabiam que, no governo de George W. Bush, o país
perdera dramaticamente o próprio rumo. Supunham que Obama daria algum jeito
naquilo.
Alguns
eleitores tinham expectativas mais específicas. Alguns pensavam que Obama
varreria do país o neoliberalismo. Com um derretimento financeiro e econômico
galopante, a hora parecia ter chegado, o momento parecia maduro.
Alguns
esperavam que Obama restaurasse o Estado de Direito e o respeito à lei,
devolvendo as coisas, no mínimo, ao que eram antes do 11/9; muitos esperavam
que os criminosos de guerra da era Bush fossem levados aos tribunais.
Outros
supunham que o Partido Democrata voltaria a ser mais parecido com o que fora
antes de os Clintons darem cabo dele.
Claro,
ninguém sabia o que “mudança” significaria para Obama. Talvez nem Obama
soubesse. Não haveria como ele ser mais vago.
Mas num
ponto, todos, exceto talvez o próprio candidato e seus assessores mais
próximos, concordavam: Obama transformaria o regime Bush-Cheney pós-11/9,
transformaria totalmente, seria outro, completamente outro.
Não
poderiam ter errado mais do que erraram.
Talvez
tivessem ideias diferentes; talvez Obama fosse doente do que os antigos gregos
chamavam de akrasia, desejo débil. Talvez jamais tenha havido qualquer
lá, por ali.
Os mais
ardentes apoiadores de Obama, os que continuaram com ele quando já se tornara
bem claro que nenhuma mudança viria, culparam os Republicanos; muitos ainda
culpam, até hoje. Os EUA-empresa garantem-lhes palco noturno, todas as noites:
chamam a coisa de MSNBC.
Mas
enganam-se a si próprios. Nem ante a obstinação e determinação dos
Republicanos, o governo Obama precisaria ser tão perfeitamente igual ao governo
Bush-Cheney como se tornou.
George Bush e Dick Cheney |
Seja como
for, os elogiadores de Obama têm um ponto a seu favor: os Republicanos são
realmente aplicados, realmente se dedicaram a garantir que o governo Obama
fosse retumbante fracasso.
Assim,
pode-se dizer que os elogiadores de Obama não são, propriamente ditos,
iludidos. Apenas, que deram ao homem deles – e à oposição – demasiado crédito.
Quem lá
sabe o que Obama realmente pensa sobre os assuntos do dia, ou como compreende a
relação entre o que diz e suas reais intenções. A única coisa que se pode
afirmar com certeza é que as palavras de Obama são vagas, sem compromisso; e
que, para todos os objetivos práticos, Obama e seus companheiros Democratas são
idênticos aos Republicanos.
Nada, aí, é
surpreendente; comem no mesmo cocho. O antagonismo entre eles é tático, não
estratégico, nem ideológico.
De fato, o
racismo modela as atitudes Republicanas, além de outras ansiedades de status e convicções
ideológicas básicas. Os Democratas, no geral, são gente mais simpática. Mas, no
fundo, os dois partidos só querem vencer as próximas eleições. Para eles, o
negócio sempre é quem consegue mais bem servir ao 1%.
São
péssimas notícias para os 99% de nós, cujos interesses e bem-estar não poderiam
estar mais entregues às traças. Mas isso é o de menos. Quando nossos “líderes”,
não importa o partido, põem os olhos em pontos bem além de nossas (cada dia
mais policiadas e militarizadas) fronteiras, todo o planeta padece.
Ainda
assim, seria de esperar que houvesse alguma, qualquer, pouca, que fosse,
competência na Casa Branca e em todo o establishment da Política Externa
dos EUA, proporcional à magnitude das tarefas. O que se constata de mais
impressionante é que essa expectativa foi negligenciada igualmente, por
governos Republicanos e Democratas, já há um quarto de século.
James Baker |
Quando
James Baker e Brent Scowcroft deixaram o governo, quem, em sã consciência,
suporia que teriam sido os melhores de tudo que viria depois deles? E, ainda
antes, quem suporia que os dias de Zbigniew Brzezinski e Henry Kissinger seriam
vistos como uma Idade de Ouro, quando gigantes marchavam sobre a face do
planeta?
Barack
Obama, como Bill Clinton e George W. Bush antes dele, puseram um bando de
imbecis sem-noção, encarregados de lançar o peso dos EUA contra todo o mundo.
Não é surpresa que, agora, a coisa toda já esteja desabando sobre a cabeça
deles mesmos.
No caso de
Bush, a loucura foi de tal ordem que até o cachorrinho de Bush poderia
consertar alguma coisa. Mas então veio o presidente da “mudança” para dar andamento
ao servicinho de antes.
Resultado
disso, as vítimas do império sofreram um enormidade, mas, até agora, o império
sobrevive sem arranhões. Grande demais para falir. Mas, ah, sim, até para isso,
há limites.
O governo
Obama extrapolou esses limites duas vezes. E duas vezes Vladimir Putin salvou
Obama.
Putin
salvou Obama de ser arrastado para uma guerra catastrófica contra o Irã, e
Putin salvou-o de fazer naufragar os EUA envolvidos na guerra na Síria.
Mas o
arqui-inimigo dos EUA não promete ter a mesma serventia, quando os gênios do
Departamento de Estado e do Conselho Nacional de Segurança miram suas maquinações
contra a própria Rússia.
O establishment
de política exterior de Putin supera o de Obama em todos os campos e medidas. No
instante em que deixar de interessar a eles ajudar a salvar Washington, a boa
sorte de Obama acabará num minuto (hora de Nova York ou de Moscou, tanto faz).
Era melhor
no tempo de Bush-Cheney? Não era. Mas o mundo mudou – em parte, porque as políticas
de Obama nunca mudaram. Por isso, na maior parte, aquelas mesmas políticas são
hoje mais tóxicas do que foram nos dias de Bush-Cheney.
Nesse
sentido, até que mudamos, afinal de contas. Mas quando se fazem as contas,
vê-se que estaríamos melhor, se tivéssemos conseguido menos do mesmo, em vez de
mais do mesmo, como temos hoje.
Bush e
Cheney atropelaram o devido processo legal e os direitos de privacidade, em
nome da segurança. Com eles no poder, as limitações Constitucionais eram apenas
pequeno inconveniente que eles se sentiam a vontade para ignorar.
Edward Snowden |
Também para
Obama. Mas, ao dar prosseguimento ao trabalho dos dois que o precederam, Obama
piorou qualitativamente, tudo. Graças a Edward Snowden, temos hoje ideia de
como era ruim e de como ficou muito pior.
Não sabemos
o quanto de terrorismo foi contido, se algum terrorismo, de fato, foi contido,
por Bush e Cheney – ou por Obama. O que, sim, sabemos, é que eles aumentaram
muito a oferta de terroristas possíveis. Para isso serve invadir países dos
outros; para isso serve aterrorizar populações civis, lançando sobre elas morte
e desgraça.
Obama fez
aumentar muito o nível do terror, mesmo que talvez tenha reduzido o nível geral
de violência bélica.
Seus
antecessores também usaram assassinos profissionais e drones. Mas, na
quantidade, preferiram soldados e bombardeiros. No geral, faziam a coisa à moda
antiga.
Obama, o
candidato da paz, manteve todas aquelas guerras; escalou, até, algumas delas
por algum tempo – o suficiente para repaginar as ocupações do Iraque e do
Afeganistão.
Mas Obama
deu preferência ao assassinato clandestino – a maioria dos assassinatos
cometidos por Obama foram cometidos por assassinos mascarados e por drones.
Com isso, Obama modificou a postura dos militares norte-americanos. De um ponto
de vista moral, ficaram piores do que eram.
Agora, o
terror já não é só o último recurso dos humilhados; agora, já é também primeira
escolha de um exército super equipado, mais mortífero que todos os demais
exércitos do mundo somados.
Ao assumir
a coisa no ponto em que Bush e Cheney a deixaram, esse laureado do Prêmio Nobel
pôs à solta o equivalente funcional de um exército de suicidas-bombas, lançando
partes imensas do mundo muçulmano num perpétuo reino de terror.
Os drones
de Obama são especialmente daninhos.
Drone MQ-1 |
Por um
lado, porque são ainda piores que suicidas-bombas, porque aterrorizam mais eficientemente
populações civis. Gente comum pode evitar locais que suicidas-bombas tendem a
escolher como alvos; mas ninguém consegue pôr-se a salvo daqueles drones.
E, de um
ponto de vista moral, matar com drones é, visivelmente, crime pior.
Suicidas-bombas dão a vida pela própria causa. No fim do dia de trabalho, os
operadores de drones norte-americanos jantam em casa com a família.
Os "operadores" não assistem o enterro de civis no Paquistão (principalmente velhos, mulheres e crianças) assassinados pelos drones dos EUA |
Os seus
superiores, os que ordenam a matança, esses, envolvem-se ainda menos. Quem decide
quem morrerá é Obama; seus funcionários decidem onde e quando; os sub-dos-subs
apertam os botões. Quanto mais altos na cadeia de comando, mais eles têm cara de
satisfeitos consigo mesmos.
Em questões
ambientais, Obama também piorou as coisas, só por ter prosseguido nas políticas
de nada fazer dos predecessores. Enquanto isso, as mudanças ecológicas
continuam e rapidamente todos os perigos só fazem aumentar.
O governo
Obama introduziu algumas poucas mudanças para melhor: por exemplo, nos padrões
de emissões de gás carbônico. Mas nada fez contra as grandes causas do
aquecimento global. Assim, a cada ano que passa, aproximam-se os pontos sem
volta; alguns já ficaram para trás.
E há também
a tendência, em Obama, de aprofundar os danos iniciados pelos predecessores, o
que Obama consegue mediante políticas de implementação mais efetivas.
Mas o que
Obama mais faz é falar e engambelar quem o ouça. Por exemplo: Obama falou
muitas vezes a favor da reforma das leis da imigração; sim, mas... o recorde de
deportações de Obama é muito superior ao de Bush. Contra o trabalho organizado,
também, Obama fez muito mais que Bush.
Em linha
semelhante, Obama jamais disse uma palavra que não fosse a favor da
transparência no governo e da importância de uma imprensa crítica vigorosa. Quem
o ouça falar, pensará que é o melhor amigos dos vazadores. Sim, mas, também
nesse quesito, Obama tem sido pior que Bush e Cheney ou, na verdade, pior que
todos os presidentes antes dele, exceto talvez, Richard Nixon.
O homem
fala como papagaio. Não diz coisa com coisa. Claro, nas questões domésticas,
ele tem lá suas razões, prestem ou não. Mas no front diplomático, parece não haver sequer uma linha de pensamento
coerente por trás do que ele diz; nem ele nem sua equipe, nada, sequer alguma vaga
ideia.
Por isso o
mundo hoje é ainda mais perigoso do que quando Obama assumiu.
O problema
não é só que a Guerra ao Terror, e sua continuação no governo Obama, tenha sido
estupendamente contraproducente; que criou e reuniu terroristas muito mais depressa
do que os assassinos profissionais e os drones e os “coturnos em solo”
conseguiam matá-los.
Já se vai
tornando claro também que as guerras Bush-Obama desestabilizaram toda a região
– da Líbia ao Paquistão e ultimamente, sob o “comando” de Obama, também das
margens do Tigre ao Mar Mediterrâneo.
O Leste da
África, áreas muçulmanas muito distantes, no Oceano Pacífico, também foram
incendiadas, e estão hoje em situação pior que antes.
O Irã como potência regional, cercado de bases dos EUA |
As guerras
do governo Bush-Obama também reforçaram o papel do Irã como potência regional. Seja
isso bom, ou mau, é claro que esse jamais foi o objetivo dos EUA e de Israel.
Claro, o
sem-noção total é faca de dois gumes. A América Latina muito se beneficiou do
fato de os EUA estarem metidos simultaneamente em vários pântanos no Oriente
Médio.
Enquanto
Bush e Obama olhavam para outro lado, floresceram movimentos populares na
Nicarágua, no Equador, na Bolívia e no Uruguai. E também o Brasil e a Argentina
começam a deslocar-se para a esquerda.
E, apesar
de várias tentativas desde o 11/9 – a mais recente está ainda em andamento
nesse momento – os EUA não conseguiram derrubar o governo democraticamente
eleito da Venezuela. A guerra sem fim que os EUA fazem contra Cuba está hoje
mais perdida que antes.
Ao sul dos
EUA, os ataques do 11/9 – ou, melhor dizendo, a reação dos EUA àqueles ataques
– foram, pode-se dizer, um presente de Deus.
Já é cada
dia mais evidente que, pelo menos num sentido, também foram presente de Deus
para o resto do mundo. As manobras contraproducentes dos EUA contra o mundo
muçulmano levaram a um beco sem saída os planos de EUA e União Europeia para
levar as fronteiras do “ocidente” até as portas da Rússia e para cercar a
Rússia com bases da OTAN.
Esse plano
foi posto em andamento nos tempos de Clinton. A Rússia então não estava em
posição de poder oferecer muita resistência – não naquele momento, quando
cleptocratas governavam o país, e a maioria da população russa padecia
dificuldades econômicas, desemprego e perda de serviços públicos, resultados da
restauração, na Rússia, de um sistema econômico antiquado.
O sucesso
dos EUA−Europa (principalmente, a Alemanha), no desmembramento da Iugoslávia,
serviu então como prática e estímulo. Com o novo milênio chegando, o futuro
parecia aberto para eles.
World Trade Center, 11 de setembro de 2001 |
Mas então veio
o 11/9 e as prioridades mudaram. Hoje, parece que estão mudando outra vez, para
trás.
Evidentemente
os sétimos céus da política exterior dos EUA convenceram-se de que, além de
prosseguirem contra o Oriente Médio, a Ásia Central e o subcontinente indiano,
é hora de meterem também a Rússia, de volta, na alça de mira.
Tudo isso
pode ter a ver também com o petróleo, pelo menos em alguma medida; mas o petróleo
não é o fator principal. E vai bem além das exigências de comandar algum
império global ou tornar o mundo seguro – ou ainda mais seguro – só para os
capitalistas ocidentais.
Os
capitalistas ocidentais não precisam de nenhum tipo de renascimento do fascismo
europeu e do antissemitismo europeu. Nem eles precisam, nem nós precisamos. Tampouco,
nem eles nem nós precisamos de movimentos à Al-Qaeda brotando por todo o
Oriente Médio, ou pelo centro e sul da Ásia.
Mas as
políticas de nossos “líderes” levaram todos a isso. Desnecessário dizer que
chegaram onde não lhes interessava chegar. Mas, sendo assim, o que, afinal,
eles têm em mente? Bobagem procurar. Nada têm em mente que seja, sequer
remotamente, coerente; o mais provável é que absolutamente não saibam o que
fazem.
Mesmo
assim, seguem “em frente”. Com os velhos “satélites” soviéticos já pendurados nos
EUA e na Europa, a única coisa que lhes resta é levar a União Europeia e a
própria OTAN para dentro da própria velha União Soviética.
A ideia é
ridícula, risível, e não só porque a Rússia é hoje muito mais poderosa do que
foi nos anos 1990s. Se o império Americano não estivesse em mãos tão
incompetentes, nada disso estaria acontecendo.
Derrubar
governos recalcitrantes nunca foi difícil para os serventes do império. Os
velhos métodos foram aperfeiçoados, primeiro, na América Latina. Depois da IIª
Guerra Mundial, foram aplicados no resto do mundo.
A fórmula é
simples: invista dinheiro pesado em criar o caos. Depois, no momento adequado,
apoie com discrição golpes de estado locais, perpetrados por fregueses ou
simpatizantes.
É
exatamente o que estão fazendo nesse momento – até aqui sem sucesso – na
Venezuela.
Mas, até
hoje, os “líderes” dos EUA sempre tiveram o bom senso de manter suas
maquinações confinadas nas esferas de influência dos EUA ou em áreas
periféricas que não gerassem graves preocupações de segurança para as grandes
potências.
Depois da
IIª Guerra Mundial, não havia grande potência maior que a União Soviética. Era
aceitável encorajar dissidentes lá e na Europa Oriental. Mas nenhum “líder”
norte-americano seria suficientemente doido para falar em “mudança de regime”;
não, é claro, com a possibilidade de desencadear uma guerra nuclear. O papel de
Eisenhower no Levante da Hungria em 1956 foi, nesse sentido, exemplar.
A Rússia
pós-1991 ainda era capaz de reduzir o planeta a poeira. Assim sendo, até Bill Clinton
mostrou algum bom senso. Foi levado pelas circunstâncias – mas não ao ponto de
total temeridade. E safou-se.
É pouco
provável que sua esposa tenha tido muito a ver com os planos de ampliar a União
Europeia ou de levar a OTAN para a fronteira da Rússia. Não parece tampouco que
fosse item de sua lista-de-supermercado quando foi Secretária de Estado do
governo Obama.
Hillary Hitler |
Mas Hillary
Clinton pula, lépida, em qualquer vagão que passe por ali. E, sim, já abraçou
abertamente a causa. Em sua alocução de estreia, já logo declarou que Vladimir
Putin “é Hitler”.
Frase
idiota. Mas, se se considera a fonte, perfeitamente esperável.
Obama foi
além dessa, nas imbecilidades. Falando na Bélgica, depois de reunir-se com
líderes do G-7 (mais, e agora menos, 1), não teve vergonha nem de insultar o
presidente da Rússia: disse que não passa (ria) de líder de potência regional cujas
ações manifestam fraqueza. Falou como maluco. Obama chamou Putin, de fraco.
Como consegue ainda olhar a própria cara no espelho?
Mas... e
como consegue olhar alguém de frente, depois de acusar Putin de ter violado a
lei internacional? Obama é inacreditável.
Será que a
ideia de reviver as políticas da era Clinton é ideia de Obama? Ou se devem
culpar eminências secundárias como John Kerry, ou aqueles horrendos
“interventores humanitários” que Obama cobriu de poderes? Seja a culpa de quem
for, a ideia de gerar riscos de segurança nacional para a Rússia é a pior ideia
que alguém teve, nos EUA, desde o dia em que George W. Bush, caído em desgraça,
saiu da Casa Branca.
Se Obama
era dito “menos ruim” que John McCain em 2008, era, precisamente, porque se
dizia não cúmplice desse tipo de ideia. Se se observa a inclinação que McCain
manifesta hoje de não se envergonhar de exibir a própria temeridade
tresloucada, Obama & McCain fazem, isso sim, perfeita dupla.
Seja como
for, já está claro que EUA e União Europeia – e os nacionalistas ucranianos
cujo golpe encorajaram – perderam tudo, pelo menos num item: nada e ninguém
desfará a incorporação da Crimeia à Rússia.
Vladimir Putin |
Com todos
os erros e falhas, Putin e sua equipe são tão absolutamente melhores que Obama
e sua gangue, que, a partir do momento em que se organizam para agir, os russos
sempre se saem melhor, mesmo que tenham de jogar com cartas mais fracas.
Felizmente,
os russos não são só mais espertos: também são mais sábios. Sabem quando não
forçar a própria boa sorte; por isso, esperemos, saberão lidar com opositores
tão totalmente sem-noção, sem rumo e sem vergonha quanto os que lhes apareceram
agora.
Por isso, é
bem provável que os EUA nos safemos de mais essa. Os perigos que Obama et.
alii lançaram sobre o mundo, quando resolveram meter as garras na Ucrânia,
continuarão, provavelmente, contidos.
Diferente
dos EUA, a Rússia tem interesses legítimos de segurança nas repúblicas
ex-soviéticas. Obama e sua gangue são, portanto, como crianças brincando com
fósforos. Os russos, como tudo indica, também sabem resistir a provocações
imbecis.
Porque,
sim, os russos foram provocados. E continuarão a ser provocados. Obama pode,
sim, decidir pôr fim às provocações, mas, até aqui, só tem feito o contrário.
Nos últimos
dias, a animosidade anti-Rússia parece já ter ultrapassado todos os muros de
Washington. E para onde andem Democratas e Republicanos, atrás deles segue toda
a imprensa-empresa. Os suspeitos de sempre estão ocupadíssimos, tentando
provocar o máximo dano possível, com a maior velocidade possível.
Nunca mais,
desde a invenção da Guerra do Iraque, viu-se tanta propaganda de promoção dos
erros e loucuras do governo dos EUA, como agora. A National Public Radio (NPR) está excepcionalmente
insuportável. Eu, pessoalmente, já não suporto ouvir aquilo, nem para manter
uma vozinha de fundo, enquanto trabalho.
Se os
russos não morderem a isca e não descerem ao nível de Obama, as consequências
são terríveis.
E o futuro
não será melhor, se não morderem nem descerem. A equipe Obama faz o que bem
entende com tanta frequência, que quanto mais fazem, mais querem fazer.
Portanto,
se não forem detidos, as provocações continuarão, cada dia mais perigosas. Há
outras repúblicas ex-soviéticas por lá; e não se pode esquecer que Obama ainda
comicha de vontade de pivotear-se “na direção da Ásia”.
Em outras
palavras, Obama também está olhando na direção da China. É terrível. Tampouco
nisso, vê-se qualquer sinal de prudência naquela cabeça.
É grave
ironia – e patética ironia – que a melhor esperança dos norte-americanos para
evitar as piores consequências das políticas de Bush-Obama seja hoje um
conservador russo, homem-forte liberal – presidente com inclinações
autocráticas, mas, também, político consistente e competente, com senso
histórico, suficientemente esperto e sábio para não se pôr a cometer loucuras
armadas pelo planeta. Não é o melhor que se pode esperar da democracia. Apenas
mostra o quanto a democracia norte-americana está distante da democracia ideal.
Mas, com
presidente incompetente, sem vergonha e sem noção – e sistema político tão
corrupto e degradado que já não garante a mudança para a qual os eleitores
votam – o que temos hoje nos EUA é o máximo de “hope” e de “change”
que sobrou para nós.
[*] Andrew Levine é professor
sênior do Institute for Policy Studies, e autor de THE AMERICAN
IDEOLOGY (Routledge) e POLITICAL KEY WORDS
(Blackwell), bem como de muitos outros livros e artigos em filosofia
política. Seu
livro mais recente é In Bad Faith: What’s Wrong With the Opium of the People. Foi professor de Filosofia) na University of Wisconsin-Madison e
professor pesquisador (filosofia) na University of Maryland-College Park.
É co-autor de Hopeless: Barack Obama and the Politics of Illusion (AK Press).
O judeu Andrew Levine está dizendo que a judia Hilary Clinton é "Hilary Hitler"! Essa é boa!
ResponderExcluir