A PROPÓSITO DE: 28/3/2014, [*]
Glenn Greenwald, The Intercept
[excerto]
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Entreouvido na Viela do Xixi na Vila Vudu: Esse artigo não é nenhuma brastemp, não tem novidade, ainda não é
propaganda política de democratização, mas já é jornalismo de democratização E
É MUITO BOM, como exemplo disso. Greenwald é jornalista liberal e ainda crê no
jornalismo liberal. Além disso, trabalha em ambiente de (muuuito) melhor
jornalismo, que nós, cá no Brasil, condenados todos ao monopólio e à
mediocridade quase INACREDITÁVEL do “jornalismo” das empresas − imprensa do Grupo
GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão). Mas até Greenwald, por jornalista liberal que
seja, JÁ SABE que se pôr a criticar “a
mídia”, sem dar nomes aos bois, é perder tempo e energia.
Criticar “a mídia” só faz algum sentido e tem alguma
serventia no mundo real, se a crítica inclui nome, RG, CPF, profissão e
residência , bem divulgados, dos agentes da tal de “mídia”, os próprios
jornalistas (editores e repórteres, todos, agentes discursivos MUITO MAIS
DIRETAMENTE ATIVOS de fascistização da opinião pública, até, que os patrões
deles), caso a caso: é indispensável dar
nomes aos bois.
Ou só se critica uma palavra (a tal de “mídia”) e não se
critica nem o pensamento (sujo) nem o serviço (ainda mais sujo) que OS
JORNALISTAS, alguns políticos que sabem servir-se da tal de “mídia” e seus marketeiros são pagos para fazer e fazem
(e alguns, jornalistas empregados fascistas sinceros, fascistas convictos,
fariam também, igualzinho, mesmo que tivessem de PAGAR pra fazer).
Vejam aí que a crítica é personalizada, dirigida, nome,
história, profissão e endereço e tuuuudo.
Tommy Vietor foi porta-voz do Conselho de Segurança Nacional do presidente
Obama, no primeiro mandato. Deixou o posto para criar uma empresa de
consultoria (associado a Jon Favreau, que escrevia discursos para Obama), a
serviço da qual pôs seus contatos
na Casa Branca, para
construírem estratégias de ação nas redes sociais e na mídia em
geral para empresas que negociam (grandes negócios)
com o governo. Sua sala de trabalho, hoje, é adornada com pôsteres do presidente
Obama (como
se vê no vídeo).
A função de Vietor [não são
INCRÍVEIS esses jovens empreendedores?! 8-))))))) [NTs]),
que ele cumpre aplicadamente é simples: expressar e incorporar as ideias mais
definitivas, mais convencionais, do que a Washington imperial pensa sobre ela
mesma.
Na 2ª-feira (24/3/2014), Vietor foi ao
Twitter, para atacar
publicamente Oliver Stone, por ter manifestado seu apoio ao governo de Maduro
na Venezuela:
[no tuíto:] @Oliver Stone: Como você
pode apoiar Maduro, quando ele mantém ilegalmente presos líderes da oposição
como #LeopoldoLopez?
Aí, claro, nada se vê além da velha tática preferida da Washington
oficial: fingir cinicamente que se preocupa com direitos humanos, ao mesmo
tempo que trabalha para minar governos que não obedeçam às ordens dos EUA.
Para os tommy vietors do mundo,
o governo de Maduro não é ruim porque “mantém ilegalmente presos líderes da
oposição”; é ruim porque se opõe a políticas dos EUA, recusa-se
a obedecer ordens dos EUA e derrota,
em eleições livres e populares, os candidatos neoliberais subservientes
preferidos dos EUA. Até aí, nada de novo.
A coisa para de me parecer cômica, contudo, quando vejo a habilidade dos tommy vietors do mundo para convencerem,
em primeiro lugar eles mesmos e, na sequência, também outros, de que conseguem
distribuir esse tipo de “comentário”, sem serem imediatamente arrastados para
praça pública, em desgraça. A mesma pessoa que invoca preocupações com direitos
humanos a ponto de condenar publicamente Stone por apoiar governo
democraticamente eleito na Venezuela passou anos apoiando tiranias – essas sim!
– brutais e viciosas, que jamais foram eleitas para governar coisa alguma.
O governo Obama, do qual Vietor foi porta-voz, várias vezes forneceu
armas ao governo do Bahrain para esmagar brutalmente manifestações
democráticas de opositores do ditador. O mesmo governo Obama
apoiou vigorosamente o repelente regime de Mubarak, aliado dos
EUA por muito tempo, até que a
queda tornou-se inevitável; Hillary
Clinton, logo depois de nomeada Secretária de Estado, não
teve pejo:
Realmente
considero o Sr. e a Sra. Mubarak amigos de minha família.
Obama várias vezes abraçou os monarcas
do Qatar, dos Emirados
Árabes Unidos e do
Kuwait. E tudo isso, independente do apoio político, financeiro,
diplomático e militar inigualável que os EUA dão com prodigalidade a Israel, mesmo depois de décadas ininterruptas de ocupação,
repressão e agressão aos palestinos.
E há também o mais íntimo dos aliados dos EUA, o principal, que é também
uma das ditaduras mais brutalmente repressivas do mundo: a Casa de Saud.
Durante o mandato de Vietor, o governo Obama revelou
planos para entregar aviões de guerra à Arábia
Saudita, negócio de mais de US$ 60 bilhões, o maior negócio de vendas de armas
nos EUA em toda a história, e “conversações com o reino saudita sobre upgrades
nos sistemas naval e de mísseis de defesa que poderiam chegar a mais dezenas de
bilhões de dólares”.
Há cinco meses, o Pentágono
anunciou “planos para vender à Arábia Saudita e aos
Emirados Árabes Unidos US$ 10,8 bilhões em armamento avançado, incluindo
mísseis Cruiser ar-terra e munição de
precisão”, um pacote que “inclui as primeiras vendas dos EUA a aliados no
Oriente Médio das novas armas fabricadas por Raytheon e Boeing que podem ser
lançadas à distância pelos aviões F-15 da Arábia Saudita, e F-16 dos Emirados
Árabes Unidos”.
A Casa Branca de Obama repetidas
vezes afirmou sua “forte
parceria” com a tirania
saudita.
Hoje [anteontem, 28/3/2014)], Obama chega a Riad, para garantir aos
monarcas sauditas que os EUA continuam tão firmes como sempre na íntima
parceria entre os dois governos, e tentar acalmar as ansiedades sauditas.
Vai-se encontrar com o rei Abdullah, “terceiro encontro entre Obama e o rei, em
seis anos”.
(...) tentar suavizar
as relações com a Arábia Saudita, mostrando ao antigo aliado dos EUA que não
está esquecido.
De fato “altos conselheiros do presidente dizem que a visita é um investimento numa das mais importantes
relações dos EUA no Oriente Médio”.
Se você quer justificar tudo isso e argumentar cinicamente que seria
benéfico para os EUA apoiar tiranias brutais e repressoras, OK, vá em frente.
Pelo menos, será falar conforme age, postura honesta. Mas não se ponha a falar
como se os EUA fossem alguma espécie de bastião contra a repressão política e a
violação de direitos humanos, quando já se sabe que a verdade é, tão
dolorosamente, o contrário disso.
E se você já trabalhou tanto, por tanto tempo, para garantir todos os
tipos do mais irrestrito apoio vital a todos os regimes mais brutais do mundo,
não se meta, agora, a fazer pose de líder da gangue, a criticar os que defendem
governos mais democráticos e benignos.
[*] Glenn Greenwald (6 de março de 1967) é advogado
um norte-americano, especialista em Direito Constitucional dos EUA, colunista, blogueiro, comentarista
político e escritor estadunidense. Atualmente (2014), vive no Rio de Janeiro Brasil.
Divulgou, inicialmente através do jornal britânico The Guardian, as informações sobre os programas de Vigilância Global
dos Estados Unidos, que vieram as claras através dos documentos fornecidos por Edward
Snowden. Foi colunista do sítio Salon.com,
do jornal britânico The Guardian e atualmente,
desde o início de 2014 lançou o site
de notícias The Intercept, uma
publicação da First Look Media,
criado pelo próprio Glenn Greenwald juntamente com Laura Poitras e Jeremy
Scahill.3
Greenwald é premiado colunista de política
nos Estados Unidos e autor dos best-sellers,
How Would a Patriot Act? (2006), A Tragic Legacy (2007), e Great
American Hypocrites (2008). Suas análises sobre a vigilância
governamental americana e a Teoria da separação dos poderes são usualmente
citados nos jornais The New York Times, The Washington Post e em debates no Senado e na Câmara de Representantes
dos EUA.
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