27/3/2014, [*] Pepe Escobar,
Asia Times Online – The Roving Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Angela Merkel ensinando... |
A chanceler
alemã Angela Merkel pode ensinar umas coisinhas ao presidente Barack Obama dos
EUA sobre como estabelecer um diálogo com o presidente Vladimir Putin da
Rússia.
Mas...
Obama nada ouve. Obama prefere detonar o próprio currículo de professor de Direito
Constitucional e pôr-se a emitir bobagens pomposas para uma plateia de
pressuposta elite eurocrática, no coruscante Palais des Beaux-Arts em Bruxelas, como fez na 4ª-feira (26/3/2014),
sobre Putin ser a maior ameaça à ordem global gerenciada pelos EUA desde a IIª
Guerra Mundial. Mas não deu muito certo: a maioria dos eurocratas de escol
estava ocupada fotografando selfies ou tuitando.
Putin,
enquanto isso recebia, em casa, em sua residência oficial nos arredores de
Moscou, o presidente da Siemens, conglomerado industrial alemão de engenharia e
eletricidade. A Siemens investiu mais de US$1,1 bilhão na Rússia ao longo dos
últimos dois anos e, foi o que disse Kaeser, quer continuar a investir. Não há
dúvidas de que Angela anotou o recado.
Obama não
saberia fazer diferente. O especialista em Direito Constitucional sabe nada,
zero, sobre a Rússia, e nunca, em sua magra carreira política sentiu-se
obrigado a entender como a Rússia funciona; é possível também que tenha medo da
Rússia – cercado, como vive, por aquela coorte de auxiliares espetacularmente
medíocres. Seu tour de force retórico em Bruxelas deu em absolutamente
nada – além de mais ameaças de que, se Putin persistir em sua “agressão” contra
o leste da Ucrânia ou a países membros da OTAN, o presidente dos EUA dará jeito
de montar pacote muito mais duro de sanções.
Robert Gates |
Sem novidade,
se se considera que, nos EUA, o que passa por análise
política é o que escreve Bob Gates, senhor do Pentágono no primeiro
governo Obama e agente honorário eterno da CIA.
O US $1
trilhão que vira o jogo
Demonizado
24 horas por dia sete dias por semana pela máquina de propaganda ocidental como
cruel agressor de ucranianos, Putin e seus conselheiros no Kremlin só tem de
seguir Sun Tzu. Os mudadores de regime em Kiev já estão naufragados no mais
violento vale-tudo, (Moon) entre eles mesmos.
E até o primeiro-ministro
em exercício na Ucrânia, Arseniy Petrovych Yatsenyuk (“Yats”, como o chama com
intimidade Victoria Nuland, do “Kaganato dos Nulands”) já falou dos tristes
tempos que vêm por aí para a Ucrânia, ao confirmar que a assinatura da parte
econômica do tratado de associação da Ucrânia à União Europeia fora adiada – e,
assim, se evitariam as “consequências negativas” da tal “associação à Europa”,
para todo o leste industrializado da Ucrânia.
Tradução:
até “Yats” sabe que a associação à Europa será o beijo da morte para a
indústria ucraniana, e que, além do mais, a tal “associação” virá acompanhada
de um já iminente ajuste estrutural à moda do Fundo Monetário Internacional,
sem o qual dificilmente haverá qualquer “resgate”, pela União Europeia, que
salve a Ucrânia da total bancarrota.
Spengler |
Spengler,
de Asia Times Online, cunhou uma fórmula:
Um espectro ronda a Europa: o espectro da
aliança russo-chinesa à custa da Europa.
A aliança
já está em andamento – manifesta no G-20, no grupo dos BRICS e na Organização
de Cooperação de Xangai. Há sinergias nas tecnologias militares à vista – o
ultrassofisticado sistema aéreo de defesa S-500, que será apresentado por
Moscou e que Pequim adorará ter imediatamente. Mas, para assistir à grande
festança, esperem só mais umas poucas semanas, até que Putin visite Pequim, em
maio.
É quando
será assinado o famoso negócio de gás de US $1 trilhão, pelo qual a Gazprom
russa passará a fornecer à CNPC chinesa 3,75 bilhões de pés cúbicos de gás por
dia, durante 30 anos, a começar em 2018 (hoje, a demanda diária de gás na China
está em cerca de 16 bilhões de pés cúbicos).
A Gazprom
pode até continuar a recolher da Europa a maior parte de seus lucros, mas a
Ásia é seu futuro privilegiado. No front
da concorrência, a super propagandeada “revolução
do gás de xisto” dos EUA é mito – assim como o delírio de que os EUA
aumentarão repentinamente, em futuro próximo, a quantidade de gás que exportam
para o mundo. Simplesmente, não acontecerá.
A Gazprom
usará esse meganegócio para ampliar os investimentos no leste da Sibéria – que
a qualquer momento, antes do que muitos estimam, estará configurada como fonte
privilegiada de exportação de gás, por mar, para o Japão e para a Coreia do
Sul. Essa é a razão básica, substancial, pela qual a Ásia
não “isolará” a Rússia.
Gazprom já está projetando os oleogasodutos para a China, Japão e Coreia
(clique nas imagens para aumentar)
Isso, para
nem falar do risco “termonuclear” a que está exposto o petrodólar, uma vez que
Rússia e China definirão que o pagamento no negócio Gazprom−CNPC pode ser feito
em Yuans (chineses) ou em Rublos (russos). Será a alvorada de uma cesta de
moedas a ser usada como moeda internacional de reserva – objetivo-chave dos
países BRICS e o mais impressionante, radical, incendiário novo fato
(econômico) em campo.
É hora de
investir no Oleogasodutostão
Embora a
importância dela empalideça, na comparação com a Ásia, a Europa não é
“desperdiçável” para Rússia. Ouviram-se rumores em Bruxelas, distribuídos por
alguns daqueles poodles, sobre o cancelamento do gasoduto Ramo Sul
[orig. South Stream] – para bombear gás russo pelo subsolo do Mar Negro
(passando longe da Ucrânia) para Bulgária, Hungria, Eslovênia, Sérvia, Croácia,
Grécia, Itália e Áustria. O Ministro da Economia e da Energia da Bulgária,
Dragomir Stoynev, desmentiu tudo. Disse que não, de modo algum. O mesmo fez a
República Tcheca, porque precisa muito do investimento russo; e a Hungria, que
recentemente firmou um acordo de compra de energia nuclear com Moscou.
O gasoduto Ramo Sul (South Stream) pode ser cancelado... (clique na imagem para aumentar) |
A única
outra possibilidade para a União Europeia seria o gás do Cáspio, a partir do
Azerbaijão – seguindo a trilha do oleoduto Baku-Tblisi-Ceyhan (BTC) negociado
por Zbig Brzezinski e concebido expressamente para passar longe de Rússia e
Irã. Como se a União Europeia tivesse a vontade, o tempo sobrando e o dinheiro
necessário para pôr bilhões de dólares na construção de mais um oleoduto que
teria de já estar em operação, pode-se dizer, amanhã cedo; e, isso,
assumindo-se que o Azerbaijão tenha capacidade suficiente de oferta (o que o
Azerbaijão não tem; outros atores – como o Cazaquistão ou o
ultra-nada-confiável Turcomenistão, o qual prefere vender seu gás à China –
teriam de participar desse quadro).
Ora,
ninguém jamais perdeu dinheiro apostando na absoluta falta de noção dos
eurocratas de Bruxelas. O Ramo Sul e outros projetos de energia criarão muitos
empregos e investimentos em muitas das super atribuladas nações da União
Europeia. Sanções extras? Nada menos de 91% da energia da Polônia, e 86% da da
Hungria, vem da Rússia. Mais de 20% do total do dinheiro que bancos franceses
emprestam ao exterior está emprestado a empresas russas. Nada menos que 68
empresas russas negociam seus papéis na Bolsa de Valores de Londres. Para os
países do Club Med, o turismo russo é hoje uma linha de salvação (1 milhão de
russos foram à Itália ano passado, por exemplo).
A Think-tankelândia norte-americana está
tentando enganar a opinião pública nos EUA, induzindo-a a crer que o governo
Obama poderia aplicar alguma espécie de replay da política de
“contenção” dos anos 1945-1989, para “conter o desenvolvimento da Rússia como
potência hegemônica”. A “receita”? Armar todo mundo, todos, por todos os lados,
e também seu vizinho, das nações do Báltico ao Azerbaijão, para “conter” a
Rússia. É a Nova Guerra Fria, mesmo que, do ponto de vistas das ditas “elites”
norte-americanas, a Velha nunca tenha terminado.
Entrementes,
as ações da Gazprom estão subindo. Compre. Você não se arrependerá.
[*] Pepe Escobar (1954) é jornalista,
brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em
inglês. Mantém coluna (The Roving Eye) no Asia Times Online; é
também analista de política do blog Tom Dispatch e correspondente/ articulista
das redes Russia Today, The Real News Network Televison e
Al-Jazeera. Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português
pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros:
− Globalistan: How the
Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of
Baghdad During the Surge,
Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
Bom.
ResponderExcluirAlguns detalhes simplórios estão esquecendo.... .
China, talvez Irã e Síria já tenham aqueles mísseis Moskit próprios para mandar ao fundo Porta Aviões.
Recentemente na Crimeia dois drones norte-americanos foram prô saco com a mesma tecnoloogia (cedida pela Russia) empregada no Irã.
Desde que aquele "bombardeiro furtivo" foi abatido, só se ouve falar em "furtivos" no bombardeamento de países pobres.
Leio atentamente os comentários em blogs norte-americanos, tenho acompanhado de uns dois anos pra cá uma insatisfação perigosa, muita gente falando em Guerra Civil, os caras estão com desemprego insano que nunca viram antes, um governo incompetente, impressão de dinheiro como cresce mato, população desconformemente singular no que tange ao peso, a maior população carcerária e o maior número per capta de advogados no mundo dentre outras "cositas más" como radiação sublime na Costa Oeste.
Afora tudo isso, uma nação com medo do próprio governo, falido que, de tanto medo, controla a população de forma mais insana que a Guestapo ou STASI na Alemanha Oriental.
Argentários da Saúde, nem pensar em comentar, o próprio "Obamacare" se explica por sí.
Educação? Pobres dos ricos que mandam filhos para os EUA! Engenheiro formado nos EUA quando volta para a China precisa passar por vários estágios de conhecimento até provar que está nos padrões chineses de excelência! Kkkkkkkkkkkkkkk!
Mesmo assim uma ou outra ponte cai! Kkkkkkkkkkkkkkk
Hoje, aos 52 anos de idade, dou graças a Deus de meus ascendentes poloneses e austríacos terem vindo para o Brasil ao invés de se emigrarem para os EUA.
Talvez algum instinto aguerrido ao calor, terras, cultivo os trouxe a cá, sei que não foi por falta de dinheiro, sei que não foi por falta de passaportes. Simplismente gostaram do que viram e ficaram.
Melhor ficar por aqui eu também.
"-Quem sabe de onde vem, sabe muito bem para onde vai." já dizia minha avó polaca, dona Bronislava Teledzinski (a vó "Bronilda") lá em Ponta Grossa-PR nos idos da década de 70.
Não escrevo muito por aqui, cada vez que se "clica" na página abre outra de propaganda, talvez outros também sintam como eu como isso ser uma página suspeita que insere spam.
Talvez isso impeça muita gente que quer comentar aqui.
Fica a dica de quem está "do outro lado".
Deixarei aqui um link, uma entrevista d'um cara que respeito muito (já falecido), um brasileiro:
http://www.museudapessoa.net/_index.php/historia/6918-historia-de-vida
Parabéns ao pessoal do Vila Vudu e, ao Castor Filho.
Atenciosamente.
Alexandre.
:-)
Comentário enviado com link, q foi retirado, postado por Castor
ResponderExcluirBom.
Alguns detalhes simplórios estão esquecendo.... .
China, talvez Irã e Síria já tenham aqueles mísseis Moskit próprios para mandar ao fundo Porta Aviões.
Recentemente na Crimeia dois drones norte-americanos foram prô saco com a mesma tecnoloogia (cedida pela Russia) empregada no Irã.
Desde que aquele "bombardeiro furtivo" foi abatido, só se ouve falar em "furtivos" no bombardeamento de países pobres.
Leio atentamente os comentários em blogs norte-americanos, tenho acompanhado de uns dois anos pra cá uma insatisfação perigosa, muita gente falando em Guerra Civil, os caras estão com desemprego insano que nunca viram antes, um governo incompetente, impressão de dinheiro como cresce mato, população desconformemente singular no que tange ao peso, a maior população carcerária e o maior número per capta de advogados no mundo dentre outras "cositas más" como radiação sublime na Costa Oeste.
Afora tudo isso, uma nação com medo do próprio governo, falido que, de tanto medo, controla a população de forma mais insana que a Guestapo ou STASI na Alemanha Oriental.
Argentários da Saúde, nem pensar em comentar, o próprio "Obamacare" se explica por sí.
Educação? Pobres dos ricos que mandam filhos para os EUA! Engenheiro formado nos EUA quando volta para a China precisa passar por vários estágios de conhecimento até provar que está nos padrões chineses de excelência! Kkkkkkkkkkkkkkk!
Mesmo assim uma ou outra ponte cai! Kkkkkkkkkkkkkkk
Hoje, aos 52 anos de idade, dou graças a Deus de meus ascendentes poloneses e austríacos terem vindo para o Brasil ao invés de se emigrarem para os EUA.
Talvez algum instinto aguerrido ao calor, terras, cultivo os trouxe a cá, sei que não foi por falta de dinheiro, sei que não foi por falta de passaportes. Simplismente gostaram do que viram e ficaram.
Melhor ficar por aqui eu também.
"-Quem sabe de onde vem, sabe muito bem para onde vai." já dizia minha avó polaca, dona Bronislava Teledzinski (a vó "Bronilda") lá em Ponta Grossa-PR nos idos da década de 70.
Não escrevo muito por aqui, cada vez que se "clica" na página abre outra de propaganda, talvez outros também sintam como eu como isso ser uma página suspeita que insere spam.
Talvez isso impeça muita gente que quer comentar aqui.
Fica a dica de quem está "do outro lado".
Parabéns ao pessoal do Vila Vudu e, ao Castor Filho.
Atenciosamente.
Alexandre.