4/3/2014, na [*] Hassan Nasrallah - Discurso
proferido em 16/2/2014 na Comemoração
Anual dos Dirigentes Mártires do Hezbollah
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Sayed Hassan
Nasrallah analisa o perigo que o terrorismo takfiri representa para
todas as confissões e países da região e do mundo.
Evocando
brevemente o exemplo das experiências soviéticas no Afeganistão ou da guerra
civil na Argélia, detém-se sobre a situação dos países ocidentais, como França
ou os EUA, ou países árabes, como a Tunísia: de fato, vários deles, num
primeiro momento apoiaram declaradamente a insurreição na Síria e manipularam
grupos terroristas, mas agora se dão conta do perigo que são todos esses jihadistas
para o Oriente Médio e também para seus próprios países, buscando uma porta de
saída para essa crise que eles mesmos criaram.
Quanto ao
Líbano, o lugar do país no Eixo da Resistência faz dele alvo privilegiado para
esses grupos terroristas. E o Hezbollah, ao intervir na Síria, em zonas
estratégicas, por meios próprios, o que o Hezbollah faz é tomar a dianteira e
bloquear a avançada dos terroristas.
Vídeo (18’ 44”)
do discurso legendado em potuguês:
Sayed Hasan Nasrallah:
Tratemos
agora do segundo perigo, da segunda ameaça [depois de Israel], da qual
seguidamente falamos no passado, e que ameaça todos os países da região, tanto
quanto Israel ameaça todos os países, todos os governos e todos os povos da
região.
Hoje, esse
perigo ameaça todos os países e todos os povos da região: falo do perigo que é
o terrorismo takfiri. Na verdade, vejam, a ideologia takfiri,
tomada nela mesma e isoladamente, não representa perigo algum. Se alguém fala
comigo e me diz “você é infiel”, ora, nada significa, fica por aí.
Nunca pedi
a ele que me desse algum atestado de que sou crente ou não crente. Que me acuse
de infiel o quanto queira, é problema dele. Se o problema da ideologia takfiri
se limitasse à esfera intelectual e legal, seria nada, porque, afinal, nesse
mundo, ninguém pede a ninguém qualquer atestado (de que crê ou de que não crê),
ninguém pede isso a ninguém, nem entre nós nem entre outros. E no que tenha a
ver com o além, as chaves do Paraíso não pertencem aos takfiris, eles
não conseguem nem dar entrada nem proibir a entrada a quem bem entendam. Todos
sabemos bem quem é o (Único) Senhor das chaves do Paraíso.
O problema
não está só na acusação de “não crentes” que fazem os takfiris. O
problema é que ao acusarem alguém de não ser crente, eles não aceitam sequer
que essa outra pessoa exista, esse outro, diferente deles no plano teológico,
intelectual, de escola de pensamento ou, mesmo, apenas político. Ao contrário,
atacam diretamente o anátema, o que implica a pena de morte, e assunto
encerrado. Assim tratam como se fossem lícitos o assassinato, a desonra, o
roubo dos bens de quem eles acusem. Chegam ao ponto de eliminar, suprimir,
erradicar, fazer desaparecer quem seja diferente deles. Tudo isso é bem sabido
de vocês e não preciso dedicar muito tempo a isso, nem apresentar muitas
provas. Hoje, todos sabem, no país e em toda a região, de tudo isso. Quando eu
falar mais detalhadamente do contexto geral, apresentarei as provas.
Não há
dúvidas de que esse terrorismo takfiri está hoje presente em toda a
região. Está composto de grupos armados presentes na maioria dos países da
região, e talvez, mesmo, em todos os países da região. Esses grupos ou
movimentos têm uma visão takfiri radical e impiedosa, que condena à
morte quem se oponha a eles e, mesmo – porque aqui já não se trata apenas da
questão de sunitas e não sunitas, ou de muçulmanos e cristãos: os cristãos também
são tomados como alvos, sim, mas mesmo na esfera islamista, os xiitas, os
alawitas, os ismaelitas, os zaydis, todos que não sejam sunitas estão
condenados. E mesmo no que concerne aos sunitas, se se opuser a eles, qualquer
sunita que se oponha a eles também pode ser acusado de ser não crente, de ser
infiel. Nada mais fácil para eles, no mundo, que declarar, a um sunita ou a
quem seja: “Você é infiel, você não crê, você é um apóstata”.
Ora, o
Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), há algumas semanas, não
impôs essa sentença contra a Frente Al-Nusra ? E o EIIL partilha com a Frente
Al-Nusra uma mesma ideologia, uma mesma abordagem, e, antes, formavam uma só e
mesma organização, com um mesmo dirigente, mesmas alianças, respiravam o mesmo
ar e viviam sob uma mesma ética – estavam, sim, unidos em tudo: nas maneiras,
na aparência, na lógica, na linguagem, nos usos, no espírito e no coração. Mas
quando surgiu entre eles uma diferença numa questão política – talvez uma
simples disputa por um poço de petróleo sírio, ou na divisão do butim, o EIIL
lançou uma sentença de apostasia, de não crença contra a Frente Al-Nusra. Com a
maior facilidade. E depois vieram muitos outros veredictos semelhantes.
Hoje, essa
realidade é perfeitamente conhecida de todos, na região. Qualquer discordância
que surja entre eles e um “outro”, mesmo que esteja com eles, e ainda que seja
simples questão de administração, questão política ou mesmo financeira, aqueles
takfiris precipitam-se e declaram a apostasia, a falta de fé, e tomam a
medida que, para eles, é consequente: pena de morte.
O que está
acontecendo há algum tempo na Síria, os combates violentos e brutais entre o
EIIL, de um lado, e a Frente Al-Nusra e outras facções, de outro lado, aí está
uma realidade que deve nos obrigar a uma reflexão madura, não para
ridicularizá-las, se nos opomos àqueles grupos, claro que não.
A verdade é
que todo mundo deve considerar de perto essa realidade e extrair lições dela,
para poder decifrar a situação atual e prevenir o futuro. Considerem o que está
acontecendo, nas últimas semanas. O Observatório Sírio [de Direitos Humanos],
que faz parte da oposição, ele mesmo fala de mais de 2 mil mortos, em algumas
semanas de combates entre aquelas duas facções.
O número de
operações suicidas eleva-se a várias dezenas nessas últimas poucas semanas, uns
contra os outros, mandam carros carregados de explosivos para cidades muito
populosas, apenas porque a cidade é controlada pelo EIIL e outra é controlada
pela Frente Al-Nusra. Mas muitos moradores dessas cidades não estão nem com o
EIIL nem com a Frente Al-Nusra, talvez por posição política sejam favoráveis à
oposição. Mas ninguém é poupado. Sequestram mulheres, massacram crianças,
destroem as vilas – tudo entre eles mesmos. Não estou nem falando do conflito
deles com o regime, deixemos isso de lado. Organizam operações suicidas uns
contra os outros, entre eles.
E a
execução de prisioneiros e reféns sem qualquer misericórdia. E as carnificinas?
E os massacres em massa? Tudo isso, por quê? Opõem-se a quem? Não têm eles a
mesma abordagem, uma mesma ideologia, uma mesma escola, uma mesma direção, um
mesmo dirigente? A quê eles se opõem? Há alguma questão política? Há alguma
questão de organização, que envolva tal ou tal dirigente? Brigam por um poço de
petróleo? E não eram eles que se opunham a esse tipo de disputa? Pois aí está o
que fazem.
O modelo é
esse, a realidade é essa. Observem bem, reflitam bem sobre tudo isso. Verão a
mentalidade deles, a mentalidade que motiva os dirigentes deles e os membros
dessas facções.
Mas, seja o
que for, nada disso é novidade, nada disso é surpresa. Já esperávamos por isso.
Mas não porque nós saibamos mais que os outros, não, de modo algum. Já
esperávamos por isso, porque qualquer um que observou as experiências
anteriores poderia prever tudo isso que se vê hoje. Muito estranho, de fato, é
ignorar a situação atual. Vejam a experiência do Afeganistão.
Os grupos jihadistas
do Afeganistão combateram contra dois dos exércitos mais poderosos do mundo.
Primeiro, contra o exército soviético, e o derrotaram no Afeganistão. Na sequência,
os soviéticos se retiraram, graças a Deus... Mas uma coalizão de facções jihadistas,
porque alguns deles alimentavam essa ideologia takfiri, radical,
impiedosa, sangrenta e assassina, levantou-se contra as demais. Fabricaram até
um hadith, que atribuíram mentirosamente ao Profeta: “Vim a vocês com o
massacre”. Tal coisa não pode provir da religião de Deus, nem da religião do
Mensageiro de Deus, nem da religião de nenhum dos Profetas de Deus Todo
Poderoso.
Porque
algumas pessoas tinham essa mentalidade takfiri, as facções jihadistas
afegãs entraram num conflito sangrento, umas contra outras. O que eles
destruíram, em termos de quarteirões, cidades, vilas, o que infligiram em
termos de mortos e feridos uns aos outros, todos os grandes comandantes jihadistas
que os takfiri mataram, tudo isso ultrapassa em muito o que o exército
soviético, ele mesmo, conseguiu fazer. E hoje? O que é feito do Afeganistão?
Onde está, hoje, o Afeganistão? Onde está o Afeganistão hoje?
Desde o dia
em que os soviéticos se retiraram, até hoje, me digam um dia, um único dia em
que o Afeganistão não tenha conhecido matanças, feridos, deslocamentos forçados
de populações, destruição generalizada, todas as dificuldades para viver.
Digam-me um único dia em que tenha havido paz, alegria de viver, no
Afeganistão. E tudo, tudo isso, por causa dos grupos takfiris.
E
observemos a Argélia – porque alguém poderia objetar que o Afeganistão é país
montanhoso, de condições particularmente difícil, e sabe-se lá o que mais. Pois
bem. Na Argélia, o que os grupos armados trouxeram e causaram de sofrimento ao
povo argeliano? E o que dizer dos grupos armados entre eles, dirigentes que se
matam uns os outros em conflitos entre diferentes facções?
Nem é
preciso acrescentar muitos exemplos. Bastam esses, para que tenhamos tempo
para... (Alguém pode trocar esse meu relógio? Está apagado.) Isso é o que se
passa ante nossos olhos, e temos de ver e tirar daí todos os ensinamentos.
Agora,
passo a abordar a situação do Líbano.
O Líbano
sofreu atentados em várias regiões. Operações suicidas contra populações civis
– crianças, mulheres, em mercados, contra pessoas que andavam na rua... São os
crimes que foram cometidos aqui. De início, entre os que perguntavam “Quem
(cometeu esses atos terroristas)?”, “Como?”, houve alguns que acusavam o regime
sírio, outros acusavam os serviços secretos sírios, outros, ainda, evocavam o
Mossad. Sempre fui muito claro sobre esse tema.
Nós não nos
precipitamos em acusações ocas contra atores presuntivos daqueles atentados.
Sempre dissemos “Sejam pacientes, a identidade deles, sem dúvida alguma, será
revelada”. Será revelada, não porque eles sejam capazes ou incapazes de
executar operações secretas. Nada disso. A identidade deles se autorrevelará,
porque eles estão andando, claramente, na direção de guerra aberta, declarada.
Por isso eles filmam suas operações e as distribuem pela Internet, revelando-se
abertamente, anunciando o nome dos kamikazes,
enviando mensagens que especificam os alvos a atacar. A tal ponto, que a identidade
dos autores dos atentados já nem é questão a debater ou discutir. Os
responsáveis pelas operações suicidas e os atentados são assassinos takfiris
– não são jihadistas.
Se ainda há
alguém, no Líbano ou em qualquer parte do mundo, que queira refutar isso –,
sim, é claro que os israelenses infiltraram esses grupos.
É claro que
os norte-americanos utilizam esses grupos. Já os utilizavam no Iraque, por
longo tempo, e também foram utilizados em outros países. Mas não há dúvida de
que fulano, cicrano, beltrano – eles são conhecidos pelo nome e pela
nacionalidade – esse é libanês, o outro é palestino, o outro é sírio, sei lá,
um é saudita, outro marroquino ou iraquiano, são eles que dirigem essas redes,
que organizam essas operações suicidas e esses atentados no Líbano. O que isso
mostra? Tudo isso mostra esse tipo de enfoque, essa mentalidade takfiri...
Assim... À
luz dessas operações suicidas e desses atentados, emergiu no Líbano um debate.
Como sempre, os libaneses dividiram-se. Alguns declararam que as operações
suicidas e os atentados jamais teriam acontecido se o Hezbollah não estivesse
agindo militarmente na Síria. Depois, seguiram a mesma lógica para justificar
os atentados. Depois, e até hoje, insistem na mesma lógica. E essa lógica será
mantida, mesmo que todos participemos de um mesmo governo. Essa lógica se
perpetuará, porque ela é parte da animosidade, da luta política que se trava no
país. Pois bem. Analisemos um pouco essa lógica.
Quer dizer
então que antes de começarmos a agir na Síria, esses grupos não existiam, não
estavam em guerra no Norte, em vários campos de refugiados palestinos e em
várias regiões do Líbano? Já não preparavam e enviavam carros carregados de
explosivos contra áreas cristãs? Contra o exército, etc.? Todos sabemos disso
tudo, nem preciso listar os atentados. Os jornais e televisões estão cheios de
listas. Tudo aquilo aconteceu antes do início dos eventos na Síria. Tudo bem.
Já sabemos disso. Nem é preciso falar muito.
Ante essa
lógica, só há duas possibilidade, nem uma a mais: ou bem essas explosões nada
têm a ver com nossa ação na Síria, ou, então, sim, elas têm alguma relação com
nossa ação na Síria. Não há outra possibilidade. Que outra opção haveria? Não
há. Ou nossa ação na Síria é a razão desses atentados, ou não é – e os takfiris,
de um modo ou de outro, já tinham intenção de abrir uma frente no Líbano. Só há
essas duas vias.
Já
consideramos essas possibilidades e concluímos que a primeira é a única que
pode ser verdadeira, a saber, que os grupos takfiris sempre consideraram
o Líbano como um de seus alvos. De fato, anunciaram claramente nos seus
princípios e nos seus discursos. Declaram hoje que o Líbano é terreno
(secundário) de apoio, que não é terreno de jihad. A prioridade deles é
acabar com a Síria, e só depois, então, se ocuparão do Líbano. Não foi isso,
precisamente, que declararam? Está tudo na Internet, na televisão, na mídia,
etc..
Assim
sendo, agem agora segundo priorização bem definida, que consiste em se apossar
das regiões (sírias) que fazem fronteira com o Líbano – seja ao norte, seja na
região do Bekaa. Não é mais que uma questão de tempo.
Isso
significa que, por princípio, virão ao Líbano, de um modo ou de outro, aconteça
o que acontecer. Entendemos que, se não vierem hoje, virão amanhã. Já
declararam. Já disseram. Tudo isso é válido e bem claro, se se parte do
princípio de que esses atentados nada têm a ver com nossa ação na Síria.
O Líbano é
alvo para os grupos takfiris, por princípio. O Líbano faz parte
do projeto desses grupos takfiris. E se os norte-americanos e os
israelenses já infiltraram esses grupos, não pode haver dúvida alguma, nenhuma
dúvida, de que querem destruir toda a região.
E o Líbano
tem uma peculiaridade, como há também na Síria: no Líbano há uma Resistência,
que é hoje a maior ameaça contra o projeto israelense na região.
Por isso,
na nossa avaliação e do nosso ponto de vista, eles viriam para o Líbano de todo
modo, aconteça o que acontecer. Foram atraídos para a cena libanesa por sua
própria mentalidade, seu próprio projeto e sua visão de mundo. Por isso abriram
uma frente no Líbano. Esse é o raciocínio que decorre da nossa análise das
coisas. E, sim, há uma segunda análise.
Consideremos,
para argumentar, que a outra análise seja a melhor. Hoje, não quero defender
essa nossa análise. Quero fazer como se a análise alternativa fosse válida,
para poder argumentar e desenvolver o raciocínio.
Por essa
segunda análise, o povo libanês estaria pagando o preço de ter enviado combatentes
à Síria, através do Hezbollah. E essa seria a razão pela qual os grupos takfiris
organizaram os atentados e as operações suicidas no Líbano e fizeram essa
escolha. Consideremos essa interpretação, para analisar outra hipótese.
Antes,
quero dizer que nossos objetivos aqui têm de ser perfeitamente claros, e quero
falar com total franqueza. Antes de avaliar essa segunda hipótese, temos de
responder uma pergunta prévia: nossa ação na Síria justificaria tais
sacrifícios?
Vale a pena
sofrer tais consequências? Supondo-se, é claro, que os atentados sejam
consequência de nossa ação na Síria. Vale a pena ir combater em Al-Qusayr e em
Damasco? – Quero dizer, nas duas principais regiões nas quais estamos ativos:
Al-Qusayr, porque é região de fronteira; e Damasco, porque também tem de ser
considerada região de fronteira, porque se Damasco caísse – Deus nos livre! –
todas as regiões de fronteira entre o Líbano e a Síria seriam controladas por
aqueles grupos armados.
A pergunta
é: a ação que empreendemos vale a pena? Valem a pena, se têm como reação,
atentados terroristas e outras reações do mesmo gênero? Sim ou não?
Aqui, quero
relembrar o que eu disse no início de minha fala sobre a ocupação israelense no
Líbano (1982-2000), quando nos criticavam nos seguintes termos: “vocês
combateram os israelenses, atacaram os postos de controle deles, os
acampamentos deles, os campos militares deles, e, portanto, é claro que os
israelenses façam represálias. E houve quem assim justificasse a violência dos
israelenses contra os libaneses... Hoje, essa mesma lógica serve para
justificar ataques terroristas de grupos armados contra o Líbano.
Eu já
disse, e nós explicamos longamente, no passado, as razões de nossa ação na
Síria, as causas, as consequências, porque agimos lá e porque ainda estamos
agindo lá, e porque continuaremos a agir lá: “nós estaremos presentes e ativos
em todos os pontos onde devamos estar”. Nisso, nada mudou. Ao contrário. Os
dados em campo aumentam a convicção e a certeza dos libaneses quanto à solidez
e ao cabimento dessa decisão.
Não vou
analisar os eventos desde o início, mas desde o fim. Consideremos só os últimos
desenvolvimentos... Quais são os dados novos, no plano regional e
internacional?
O que se vê
hoje é que a maioria dos países que financiaram, apoiaram, ajudaram, deram
vistos e abriram as fronteiras, esses países todos que encorajaram e ajudaram
agentes de combate não sírios, agentes estrangeiros que estão hoje na Síria, a
maioria dos países que fizeram isso, hoje só fazem manifestar seu medo, suas
preocupações, seus temores ante os riscos de segurança que se criariam, caso
aqueles combatentes saíssem vitoriosos na Síria. Há também, consequentemente,
os riscos de eles voltarem aos seus países de origem, sobretudo países
vizinhos. E há todos os riscos que se criam para aquelas próprias sociedades.
Não é verdade? Estou, por acaso, inventando coisas? Ou essa é a realidade hoje?
Hoje, as
agências de informação ocidental, regionais e outras só se reúnem para ver o
que podem fazer para enfrentar essa situação.
E dizem
eles: Se esses grupos – que Deus nos livre! – saírem vitoriosos, eles terão,
afinal, uma base vastíssima. A Síria seria ainda pior que o Afeganistão. E os jihadistas
se voltariam contra nós. O que podemos fazer? Ou, então, alternativamente: se
eles forem derrotados, se começarem a recuar e sair da Síria, e se se mudarem
para outros países? O que faremos?
Sim. É uma
catástrofe, que eles mesmos criaram com as próprias mãos. É a serpente que eles
mesmos nutriram.
Hoje, esse
é o debate que se trava em todo o mundo. Ou não é? Essa é uma primeira
realidade indiscutível.
E em
segundo lugar, já há algum tempo, vários países impuseram leis que proíbem seus
cidadãos de viajarem à Síria para combater. A Tunísia, por exemplo, proíbe
viagens à Síria e tomou medidas coercitivas, invocando declaradamente esse
problema. Ora! E por que os tunisianos e o governo da Tunísia foram levados a
tomar essas medidas, quando, no início, apoiavam a insurreição na Síria?
Exatamente
porque os que foram combater na Síria e já retornaram à Tunísia perturbam a
sociedade tunisiana, o povo tunisiano e o futuro político da Tunísia,
fazendo-os conhecer na própria carne o que impuseram a outros povos da região,
a saber, atentados terroristas, assassinatos, violência, rebeliões, etc. Os
tunisianos acordaram e perceberam que se aqueles grupos persistirem na mesma
via, a Tunísia sofrerá. Assim, tiveram o bom senso e a coragem de tomar medidas
enérgicas, desse tipo, enquanto ainda havia tempo. Esse é o segundo ponto sobre
o qual queria falar hoje.
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