6/6/2012, Jean-Luc
Mélenchon, Blog da Front de Gauche
(excerto)
Traduzido pelo
pessoal da Vila
Vudu
Jean-Luc Mélenchon |
La semaine passée,
la droite imposait à l’ordre du jour...
Semana
passada, a direita impôs na ordem do dia do Parlamento Europeu, a votação de uma
resolução condenando a Venezuela. Momento escolhido a dedo, com a Venezuela em
plena campanha eleitoral.
Comissão Interamericana de DD HH |
Qual
o pretexto? A decisão, do governo venezuelano, de retirar-se da Comissão
Interamericana dos Direitos do Homem [orig. Commission Inter-américaine des
Droits de l'Homme (CIDH) e da Corte Interamericana dos Direitos do Homem
[orig. Cour Inter-américaine des Droits de l'Homme]. São, ambos,
organismos de proteção dos direitos humanos da Organização dos Estados
Americanos (OEA).
A
direita, que nunca condenou o golpe de Estado em Honduras, é lépida ao condenar
a decisão da Venezuela. Bastaria dizer isso, para que todos soubessem quem é
quem.
Mas,
não. Estou empenhado em praticar toda a pedagogia necessária, para que todos
entendam essas condenações e indignações “de vitrine”, nas quais os direitos
humanos sempre entram como pretexto que os reacionários usam contra os governos
democráticos.
Preparem-se.
Porque, depois dessa e depois da condenação da nacionalização do petróleo na
Argentina, não demorará, e vocês verão ondas da mais ardente indignação contra
violações dos direitos humanos na Grécia. E nem uma palavra a favor de se por
fim ao real martírio dos gregos. Assim será, enquanto os martirizados sejamos
nós, não os banqueiros.
Só
até aqui, em mais esse ataque contra a Venezuela, vê-se já um certo excesso de
zelo com os tais direitos humanos, na OEA: porque a direita, mais uma vez,
condenou antes de votar. A decisão legal ainda não foi tomada. O processo
legislativo apenas começou: e a notícia já corre o mundo, como se já fosse caso
decidido. Só a Assembleia Geral poderá decidir. E ainda nada decidiu.
Mais cette Cour des
Droits de l’Homme, que vaut-elle?
Corte Interamericana de DDHH |
E,
afinal, o que vale essa Corte dos Direitos Humanos? Dos 34 países da OEA, só 24
estão lá representados. Nem os EUA nem o Canadá participam. Mas... ora! Nada
disso faz qualquer diferença para a direita europeia!
A
direita europeia jamais apresentou qualquer protesto contra os EUA, que
repetidamente violam resoluções aprovadas por quase unanimidade na ONU contra o
embargo a Cuba. Nem contra outros estados que também se retiraram dessa “Corte”.
Essa
não é a primeira vez que um país decide desligar-se da OEA. Em 1998, Trinidad y
Tobago também lhes deu as costas e partiu.
E
quem, na Europa, protesta conta esse santo trono das virtudes humanistas e
liberais que é o nobre parlamento da União Europeia? Ninguém, é claro.
Na
Venezuela, os cidadãos têm boas razões para nada esperar, de útil, dessa “Corte”
da OEA e de sua concepção do que sejam Direitos Humanos. Durante os 30 anos de
repressão que os venezuelanos sofreram, entre 1969 e 1999, a Corte Internacional
de Direitos Humanos da OEA só acolheu cinco denúncias contra o Estado
venezuelano. E houve ali muitas violações de direitos humanos, repressão
violenta, gente desaparecida, tortura, assassinatos denunciados de todos os
lados.
Hugo Chávez |
Contudo,
desde a eleição do presidente Hugo Chávez, em 1999 – quer dizer, em 12 anos –, a
CIDH já acolheu mais de 36 denúncias contra seu governo, ignorando todos os
grandes avanços que a Venezuela conseguiu, também no campo dos direitos humanos.
Mas o pior não é isso.
O
pior aconteceu dia 11/4/2002, quando a Corte Internacional dos Direitos do Homem
da OEA reconheceu e tentou legitimar o golpe de Estado tentado contra o
presidente Chávez! E por acaso seria justo e belo que uma Corte de Direitos do
Homem aprove e apoie um putsch? Nada mais coerente e lógico, pois, que,
desde 2002,
a Venezuela recuse-se a receber visitas da CIDH em seu
território.
E
a CIDH, por sua vez, admite toda e qualquer denúncia que por lá apareça contra a
Venezuela, por mais imprecisa, vaga, sem qualquer prova, sem nomes, sem datas,
sem local preciso onde a “violação” denunciada teria ocorrido. Muitas vezes
aquela “corte” funcionou como caixa de ressonância do que dizem a imprensa e
outras organizações políticas abertamente hostis ao governo do presidente
Chávez.
A
CIDH também tem acolhido e divulgado denúncias mentirosas contra hipotéticas
consequências ditas “perigosíssimas” de leis aprovadas no Parlamento. Mas jamais
alguém ouviu qualquer tipo de retratação, depois que não se veem os “efeitos”
que as tais denúncias tanto temiam.
Em
resumo, a Corte Interamericana dos Direitos do Homem da OEA é instrumento hostil
e sem qualquer influência. O mundo está cheio de outras referências
em matéria
de Direitos Humanos e muitas dizem coisa muito diferente do que
diz a CIDH da OEA.
Ainsi ces prises de
position contrastent singulièrement...
Conselho de DD HH da ONU |
As
posições da corte interamericana contrastam espantosamente com as do Conselho de
Direitos do Homem da ONU – que reconhece que a Venezuela adotou a maioria das
recomendações do Conselho. Dentre as quais, vale lembrar, também recomendações
de nosso amada União Europeia. O Conselho de Direitos Humanos da ONU também
reconheceu que a Venezuela continua a aprofundar esforços para fazer avançar o
respeito aos direitos humanos na Venezuela.
Na
declaração dos sociais-democratas, dos Verdes e da GUE/NGL (meu bloco no
Parlamento Europeu), apresentada ao Parlamento Europeu, registra-se,
precisamente, o reconhecimento, pela ONU, dos avanços da Venezuela no campo dos
direitos humanos. Mas o que diz a direita, agora, é mensagem dirigida
exclusivamente a influenciar o processo eleitoral na Venezuela.
O
próprio texto da “resolução” está construído, na prática, para pautar os jornais
“éticos” e “independentes”: “Europa denuncia a Venezuela de Chávez”.
CIA vista por WikiLeaks |
Agências
que operam sob influência da CIA-EUA, que montam esse tipo de encenação, podem,
na sequência, justificar a própria existência e pedir mais dinheiro para
manter-se. Isso, sim, é golpe que dá resultado, porque a moção da direita foi
lida e acolhida. Agora, os cretinos de sempre passarão a declarar-se
“preocupados com os direitos humanos”, e o resto é a novela de sempre. Boa
jogada, Tio Sam!
Aviso
que eu não estava presente àquela sessão do Parlamento Europeu. Estava
em
Pas-de-Calais , em campanha para eleger deputados da Front de Gauche. Em Pas-de-Calais , as
mesmas agências e agentes só fazem repetir a cantoria de sempre, a favor dos
candidatos de madame Le Pen.
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