A
agenda oculta do ministro do Interior de Israel, do governo de
Netanyahu
13/6/2012, Assaf Adiv,
Haaretz, Israel
“Eli Yishai's hidden agenda: Sudanese out, Chinese in”
Traduzido
pelo Coletivo de Tradutores da Vila
Vudu
Ver
também:
- 23/6/2012, redecastorphoto em: “Aos refugiados do Sudão: Israel está com o homem branco”
Assaf Adiv |
Por
trás da demagogia do ministro do Interior de Israel o que há é tentativa de
ajudar as empresas construtoras israelenses, substituindo os africanos por mão
de obra mais lucrativa.
O
ministro do Interior de Israel, Eli Yishai – filho de família que emigrou da
Tunísia para a Palestina e Líder Supremo do Partido Sefardita Shaas, de judeus
fundamentalistas – tem-se imposto como principal porta-voz de uma campanha
nacional para expulsar estrangeiros de Israel. Mas, ao mesmo tempo, aprovou
emendas a acordos com a China, a Moldávia e Sri Lanka, pelas quais dá luz verde
à entrada de mais trabalhadores estrangeiros em Israel, segundo matéria assinada
por Ofer Petersburg publicada no diário Yedioth Ahronoth.
Eli Yishai |
Que
ninguém se engane: as empresas construtoras e de importação de mão de obra
pressionam, e o ministro israelense obedece. No auge das manifestações por
justiça social em Israel, no verão passado, e com aprovação de Yishai, o governo
autorizou a entrada em Israel de 6.800 operários estrangeiros para trabalhar na
construção civil. Só o ministério das Finanças opôs-se ao arranjo e exigiu
garantias de que os operários não seriam importados de outros países (da China,
por exemplo) nos quais os operários têm de pagar taxas aos contratantes
intermediários – que, em alguns casos, alcançam milhares de dólares por pessoa.
Resultado da objeção do ministério das Finanças, ficou acertado que os
trabalhadores só seriam importados da Bulgária, mediante acordo direto entre os
dois governos, sem intermediação de agências privadas de recrutamento de mão de
obra.
Parece
ótimo, não parece? Parece. Mas não é, porque as empresas construtoras e as
agências de importação de mão de obra a elas ligadas burlaram o acordo que, até
agora, só foi usado para trazer 60 operários da Bulgária para Israel. Apesar de
não usar os meios legais que lhe foram facultados, a Associação de Empresas
Construtoras em Israel continuou a “exigir” que se importassem mais
trabalhadores para a construção civil. Dizem que hoje apenas 2.500 trabalhadores
importados trabalham na construção civil em Israel, apesar de o programa oficial
que garante vistos a trabalhadores estrangeiros autorizar a contratação de até
8.000 operários estrangeiros para a construção civil.
Por
que as construtoras israelenses preferem importar operários chineses? Em poucas
palavras: porque a importação de operários chineses é importante fonte de lucros
para as construtoras. Um operário chinês pagará $20 mil dólares só para obter o
visto de trabalho em Israel; os búlgaros podem entrar em Israel sem nada pagar.
Um cálculo matemático simples mostra que importar 6 mil trabalhadores chineses
“autoriza” as empresas construtoras israelenses e as empresas importadoras de
mão de obra a elas associadas a embolsar 120 milhões de dólares, antes mesmo de
um único operário imigrado ter posto a mão no primeiro bloco de concreto.
Família sudanesa expulsa de Israel |
Desde
2002, os economistas concordam em que esse massivo influxo de mão de obra
estrangeira na construção civil e na agricultura em Israel faz aumentar o
desemprego nos segmentos mais pobres da população israelense – na vasta maioria,
árabe-israelense. Os 26 mil operários tailandeses empregados na agricultura
israelense tiraram os empregos de milhares de mulheres árabes, entre as quais a
taxa de desemprego alcança hoje 75%.
Nada
disso tira o sono dos empresários israelenses da construção civil, que impõem
seus interesses econômicos ocultos, disfarçados em discursos sobre “escassez de
mão de obra”. Dizem que a escassez de mão de obra fará aumentar o custo da
moradia em Israel. Seu lobby chantageia o governo e suborna funcionários
públicos. Cada vez com mais frequência, o lobby da construção civil em
Israel consegue legislar o quanto queira, sempre a favor dos próprios
interesses.
No
verão passado, centenas de milhares de israelenses foram às ruas, protestar,
precisamente, contra esse tipo de atitude – e a inaceitável chantagem a que o
capital submete o governo de Israel.
Sudaneses e apoiadores protestam contra deportação em Israel |
Mas
o que o governo faz é uma coisa. A realidade é outra. Ao mesmo tempo em que
Yishai e seus parceiros da coalizão governante em Israel dedicam-se a discursos
de demagogia e racismo, os mesmos judeus fundamentalistas instalaram uma porta
giratória pela qual podem importar e deportar trabalhadores estrangeiros.
Em
vez de importar mais trabalhadores estrangeiros desnecessários em Israel e
incitar a opinião pública com propaganda racista, cabe ao governo de Netanyahu
trabalhar com seriedade a favor dos operários árabe-israelenses e israelenses
mais pobres, em vez de explorar do modo mais sórdido, além dos israelenses
pobres, também os pobres de outras regiões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.