31/5/2012, *Paul
Buchheit, Commondreams
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Em
1889, em seu artigo O
Evangelho da Riqueza [Gospel of Wealth],
Andrew Carnegie ensinava que os norte-americanos deveriam considerar bem vinda a
concentração da riqueza nas mãos de poucos, porque “a superior sabedoria,
experiência e habilidade” dos ricos garantiria benefícios para todos.
Mais recentemente, Edward Conard,
autor de Unintended Consequences: Why Everything You've Been Told About the
Economy Is Wrong [Consequências indesejadas: por que tudo que lhe contaram
sobre a economia está errado], disse: “Como sociedade, não estamos oferecendo
aos nossos raros talentos recompensa suficiente. Estamos pagando pouco aos que
correm riscos”. [1]
Será
verdade? Será que, se dermos todo o dinheiro aos norte-americanos mais ricos,
estará garantido que o empregarão sabiamente e que criarão empregos e
estimularão os investimentos em pequenos negócios e, assim, beneficiarão toda a
sociedade? Isso parece ser o que pensam os 18 altos executivos de grandes
empresas que escreveram, em carta ao Secretário do
Tesouro Timothy Geithner, que qualquer
aumento nos impostos sobre ganhos de capital reduzirá o
investimento,
“quando precisamos formar capitais nos EUA para criar empregos e expandir nossa
economia.”
Os
18 empresários e executivos que assinam a carta não listam qualquer prova a
favor de suas ideias, porque não há o que prove esse tipo de delírio. Os fatos
são outros:
Os
muito ricos não gostam de investimentos de risco
Analistas
de mercado de Marketwatch
estimam que mais de 90% do patrimônio acumulado pelos milionários está aplicado
numa combinação de investimentos de baixo risco (bonds e dinheiro), no
mercado de ações e em propriedade imobiliária.
Segundo o economista Richard
Wolff,
cerca de metade do patrimônio do 1% mais rico está aplicado em fundos não
incorporados (contas comerciais pessoais). O Wall Street
Journal
anota que cerca de mais de ¾ do patrimônio dos que valem individualmente mais de
$20 milhões está investido em fundos hedge.
A
parte do investimento aplicada em negócios
iniciantes
em 2011 não chegou a 1% dos investimentos dos ricos nos EUA.
A
pesquisa de Mendelsohn
Affluent Survey
confirmou que os muito ricos gastam menos de 2% do próprio dinheiro para
estimular negócios iniciantes. A última coisa que querem, pelo que se pode ver,
é investir no arriscadíssimo negócio de contratar gente para inovar.
Os
muitos ricos não gostam de arriscar em empregos
Os
profissionais da alta gerência e da administração financeira representavam, em
2005, cerca de 60% do 1% de norte-americanos mais ricos. Os empresários
empreendedores não chegavam a 3%. Estudo
recente constatou que menos de 1% de todos os empresários empreendedores vinham
de ambientes muito ricos ou muito pobres.
A
grande massa dos investimentos dos norte-americanos mais ricos toma o rumo do
exterior – para fora dos EUA, onde os mais ricos aplicam 57% do próprio dinheiro
e enchem suas fábricas com trabalhadores mal remunerados e superexplorados.
Números do Departamento de Comércio mostram que as empresas norte-americanas
cortaram cerca de 2,9 milhões de empregos nos EUA entre 2000 e 2009. Ao mesmo
tempo, criaram 2,4 milhões de subempregos fora dos EUA.
O
mais provável é que os muito ricos absolutamente nunca pensem em criar empregos,
sejam quais forem, nos EUA. Pesquisas mostram
que 60% dos investidores com patrimônio de $25 milhões ou mais estão investindo
no exterior até 1/3 de tudo que têm. Nos EUA, a riqueza extra que teria sido
criada pelos cortes de impostos da era Bush
evaram
aos “piores números do trabalho, de toda a história”. O grande criador de
empregos nos EUA, como diria Nick Hanauer, [2] é o
consumidor de classe média.
As
empresas norte-americanas muito ricas não gostam de investir nos EUA
Como
as empresas gastam o próprio dinheiro? Em larga medida, não gastam. Segundo a
agência Moody's, o caixa de empresas não financeiras norte-americanas subiu 3%
entre 1980 e 2011 e chega hoje a $1,24
trilhões.
A razão
patrimônio/dinheiro das
empresas quase triplicou entre 1980 e 2010. Estima-se que o dinheiro
paralisado como
reserva de caixa nas empresas norte-americanas bastaria para manter empregados
3,5 milhões de pessoas a mais, durante cinco anos, com salário anual de $40 mil
dólares.
As
empresas
que mais preservam suas reservas de caixa, entre
as quais Apple, Google, Intel, Coca Cola e Chevron, gastam seu dinheiro na
recompra de ações (o que faz subir o preço das ações preferenciais), em
dividendos para investidores e na compra de empresas subsidiárias. Segundo
Bloomberg, a recompra de ações alcança hoje um dos mais altos picos dos últimos
25 anos.
A
empresa Apple alega ter criado 500
mil empregos para
a economia dos EUA, mas aí estão contados entusiastas da construção de
aplicativos e os motoristas da Fedex que entregam iPhones a domicílio. A Apple
emprega hoje nos EUA 47 mil pessoas: é 1/10 da força de trabalho da General
Motors nos anos 1990s.
Os
riquíssimos investem, isso sim, no exterior.
Também investem mais em “drenar cérebros”
para
o exterior – empresários, cientistas, médicos – do que em apoiar a melhoria da
educação nos EUA.
Há
um campo no qual as grandes empresas gostam de gastar dinheiro: em bônus aos
altos executivos. Bancos, sobretudo, cujos gastos extras são muitas vezes
cobertos por empréstimos de juro zero que lhes
garante o FED - Federal Reserve.
Os
mais ricos – indivíduos e empresas – são muito bons em acumular fortunas. E são
melhores ainda na arte de cultivar o mito de que seriam “criadores de
empregos”.
Notas
de rodapé
[1]
New York Times, 1/5/2012, “The
Purpose of Spectacular Wealth, According to a Spectacularly Wealthy Guy”
[O objetivo da riqueza espetacular, segundo alguém espetacularmente
rico], assinado por Adam Davidson, onde se lê:
“(...)
recentemente, encontrei Edward Conard na 5ª. Avenida, entre a Av. Madison e a
Rua 57, bem em frente de seu escritório [na empresa] Bain Capital, o Fundo de
Investimento em Participações que ele ajudou a converter em negócio
multibilionário, à custa de comprar empresas em frangalhos, consertá-las e
revendê-las com gordos lucros. Conard, que se aposentou há três anos, quando
completou 51 anos, não é membro só do 1%: é membro também do 0,1%. Sua fortuna
está na casa das centenas de milhões: vive em uma casa no Upper East Side, perto da 5ª. Avenida; e
é um dos principais doadores de campanha de seu antigo patrão, depois sócio, e
amigo, Mitt Romney”.
Conard
pode ser ouvido, em entrevista a Fareed
Zakaria , da CNN, a seguir:
[2] Para saber quem é,
ver em: “Raise
Taxes on Rich to Reward True Job Creators: Nick Hanauer” (em inglês)
E também em: “TED
rejeita palestra de um capitalista contra o papel dos capitalistas” (em
português)
*Paul Buchheit
é professor universitário, membro ativo dos US Uncut Chicago, fundador e
desenvolvedor de sites educacionais e promotores de justiça social (UsAgainstGreed.org, PayUpNow.org, RappingHistory.org); e autor e editor
principal do “American
Wars: Illusions and Realities” (Clarity Press). e-mail: paul@UsAgainstGreed.org .
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