sexta-feira, 15 de junho de 2012

Lei do Departamento de Defesa de Panneta/Obama Legaliza a Propaganda de Guerra dos EUA nos EUA


11/6/2012, Lawrence Davidson, Consortiun News 
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Comentário de internauta, na página de Consortium News
Blackbird on June 12, 2012 at 9:04 am
Até parece que há alguma diferença entre o que a lei “legalizará” e o que a imprensa-empresa já faz, todos os dias, há anos.
O 1% controla o estado, o estado e a grande finança controlam a imprensa-empresa – e sempre foi assim.
O jornalismo já é exclusivamente propaganda das guerras de Bush-Obama, praticamente em todo o mundo.
Mas agora, porque mais gente está percebendo que a imprensa-empresa existe para arrastar o planeta para as guerras sem fim dos EUA de Obama & Clinton... Obama & Clinton & Panneta e a empresa-imprensa inventam uma lei que “legalizará” as mesmas mentiras da mesma empresa-imprensa, que continuará a arrastar os EUA para as guerras de Obama etc.
De novo, só que agora, o jornalismo-mentira foi legalizado; e os mentirosos de sempre podem mentir mais despreocupadamente pelos jornais e televisões de sempre.

Lawrence Davidson
A Lei de Autorização da Defesa Nacional [orig. National Defense Authorization Act (NDAA)[1] leva nome errado: é lei mais de autorização de ataque, que de autorização de defesa. A lei ataca não só a lista eternamente crescente de inimigos dos EUA, mas também, do ponto de vista do que a Constituição determina, ataca também direitos dos cidadãos norte-americanos e de todos que vivem nos EUA.

Grandes trechos da legislação baseiam-se no pressuposto de que a proteção que a lei sempre garantiu aos indivíduos seria incompatível com as exigências da segurança nacional. O resultado é que os norte-americanos estão agora presos entre os “terroristas” e as inclinações totalitárias do próprio Estado norte-americano e respectivo governo Obama.

A Lei de Autorização da Defesa Nacional (NDAA) – especificadamente a seção 1.021(b) [2] – já institucionalizou a competência dos militares dos EUA para manter em prisão por tempo indeterminado, sem acusação nem julgamento, cidadãos norte-americanos e, também, cidadãos de outras nacionalidades. É grave abuso de poder. A autoridade monárquica da qual os Pais Fundadores dos EUA tentaram escapar praticava esse tipo de “desaparecimento” de pessoas. E também as ditaduras contemporâneas que Washington tão empenhadamente apoia e sempre apoiou.

Agora, os norte-americanos, aparentemente porque não têm nem talento, nem imaginação nem paciência para buscar soluções de segurança compatíveis com as próprias leis, já podem meter na cadeia qualquer um de quem os EUA tenham (com razão ou sem razão) medo.

Judge Katherine Forrest
Decisão recente de uma juíza da Corte de Apelação de New York, Katherine Forrest[3] suspendeu a vigência dessa parte da Lei de Segurança Nacional dos EUA, depois de ação impetrada, contra a tal lei, por sete jornalistas ativistas dos movimentos antiguerra. A sentença da juíza Forrest causou surpresa (e embaraço) aos advogados do Departamento de Justiça do governo Obama que defendiam uma suposta “legalidade” de manter cidadãos presos por tempo indefinido, sem acusação e sem julgamento.

Daqui em diante, devem-se esperar redobrados esforços para derrubar ou minimizar os efeitos da sentença da Juíza Forrest, sob o argumento de que ela “restringe futuras operações militares” [4] que venham a ser ordenadas pelo comandante-em-chefe em tempos de guerra. No primeiro movimento, o governo Obama alegou que a sentença da Juíza Forrest só se aplicaria aos sete autores da ação. Mas a Juíza Forrest rapidamente esclareceu que sua sentença “impede a aplicação contra qualquer cidadão, do que dispõe a Seção 1.021(b)”.

Com certeza os advogados do governo Obama recorrerão da decisão da Juíza Forrest. Se for preciso, defenderão na Suprema Corte a necessidade de rasgar a Constituição dos EUA que todos os juízes juraram cumprir e fazer cumprir. Mas a maioria do atual corpo de juízes daquela corte suprema é hoje tão míope, que quase com certeza a Corte Suprema dos EUA concordará com rasgar a Constituição e desonrar-se, ela mesma.

Mas o potencial destrutivo da Lei de Segurança Nacional dos EUA não para na legalização da detenção indefinida. Já se sabe que a versão 2013 daquela lei (já aprovada na Câmara de Deputados, mas ainda não apreciada no Senado) [5] permite que o Departamento de Estado e o Departamento de Defesa dos EUA conduzam o mesmo tipo de propaganda massiva, dentro dos EUA, que já está em andamento, como parte do esforço de guerra dos EUA, em terras estrangeiras.

Essa mais recente manobra é obra de dois deputados: Mac Thornberry (Republicano) do Texas e Adam Smith (Democrata) do estado de Washington. Os dois dizem que a lei hoje vigente, que proíbe as agências estatais de fazer propaganda política em território dos EUA, “amarra as mãos dos funcionários da diplomacia, dos militares e de outros agentes do Estado nos EUA, inibindo nossa capacidade para fazer comunicação confiável de modo efetivo”.

E a opinião pública? E o discurso público?

(O grande irmão está observando você) 1984 - George Orwell

A ação conjunta de Thornberry e Smith levanta a questão da atenção à opinião pública e ao discurso público. Claro: o discurso do governo sempre foi oblíquo. Mas até agora havia o reconhecimento, pela lei, de que as autoridades públicas não deveriam mentir nem manipular os cidadãos eleitores do mesmo modo como mentem e manipulam cidadãos eleitores em outros países.

A distinção que Thornberry e Smith querem agora apagar, implica incluir, nas as atribuições dos Departamentos de Estado e da Defesa, a missão de “vender” aos cidadãos e eleitores norte-americanos os projetos da política externa dos EUA e todas as suas correspondentes guerras, em todo o mundo, mediante massivas campanhas de publicidade e propaganda políticas.

Evidentemente, nem Thornberry nem Smith veem seus esforços como declarado patrocínio a esforços cada vez mais sofisticados para desinformar. Os dois deputados, muito obviamente, já engoliram todo o roteiro oficial patriótico e, agora, concluíram que todos os cidadãos norte-americanos devem ser igualmente intoxicados.

É o que pode acontecer quando representantes eleitos não conhecem a diferença entre propaganda de manipulação e “comunicação confiável, feita de modo efetivo”. Essa ignorância não é bom sinal. Sugere que o que tantas vezes não funciona em terras distantes poderia funcionar melhor aqui mesmo, nos EUA.

Cidadãos no Vietnã, no Iraque e no Afeganistão sabem que os EUA estão ou estiveram em seus países como conquistadores e força militar de ocupação. É possível que em todos esses lugares alguns aprovem a conquista e a ocupação. Mas pode-se dizer com segurança que a maioria não aprova e jamais aprovará. A desgraça que sempre acompanha as conquistas e as ocupações é para eles tão imediata, tão próxima de casa, que os milhões de dólares norte-americanos consumidos para plantar notícias nos jornais e nos noticiários de televisão e em outras modalidades e veículos de desinformação profissionalizada e planejada não bastam para encobrir a realidade próxima e melhorar a imagem dos EUA. Tampouco bastam para vencer guerras.

Mas, sim, quando e se os Departamentos do Estado e da Defesa lançam campanhas similares de desinformação profissionalizada e planejada aqui nos EUA, sim, aqui o sucesso é garantido. E acontece assim, porque não há aqui o contexto complexo da realidade da guerra, que sirva de contraponto para que os cidadãos norte-americanos, inclusive muitos de seus representantes no Congresso, possam ver e avaliar o quanto, na guerra psicológica de propaganda, não passa de absoluta mentira noticiada como se fosse fato.

A violência e a brutalidade da invasão, da ocupação e da resistência não têm impacto direto sobre a vida local dos norte-americanos – exceto no caso das famílias dos soldados dos EUA, os quais, para contrabalançar, sempre são considerados heróis, não importa os crimes que cometam. E assim os cidadãos e os eleitores norte-americanos são deixados à mercê de uma mensagem patriótica incansável, doentiamente repetida por fontes nas quais os cidadãos e os eleitores são treinados para confiar.

É interessante observar, e sem dúvida é fato muito significativo, que, embora as campanhas de propaganda de guerra conduzidas pelos Departamentos de Estado e da Defesa nos EUA sejam atualmente proibidas por lei e ilegais em território dos EUA, nem por isso são inexistentes: os EUA vivemos, de fato, sob campanha massiva de desinformação conduzida pelas autoridades do Estado e dos governos. (Para conhecer, de uma perspectiva histórica, esse tipo de massiva propaganda doméstica, ver Lost History, de Robert Parry. [6])

Nem o Departamento de Estado nem o Departamento de Defesa algum dia conseguirão fazer campanha de propaganda massiva melhor que a que se viu em operação nos EUA, feita pelo governo de George W. Bush, e que culminou na invasão do Iraque em 2003. O Estado norte-americano mentiu sem parar, sem alívio, assessorado por jornais e jornalistas também competentíssimos mentirosos profissionais, e assim se pavimentou o caminho que arrastou os EUA para um fracasso sangrento, que contou com massivo apoio popular e que dura já uma década. No caso da guerra do Iraque, a mesma propaganda “jornalística”, contextualizada como foi com violência sem limites, só trouxe ceticismo e sofrimento para os norte-americanos.

Seja qual for o modo como se faça o mesmo em terras estrangeiras, parece não haver dúvidas de que o sucesso da propaganda ‘'jornalística'’ que o governo Bush comandou em 2003 está servindo hoje como inspiração para os “agentes de comunicações” do governo Obama, que agora querem legitimação por lei, como cobertura para suas “campanhas de marketing  e Relações Públicas” gigantes, construídas por profissionais da “comunicação efetiva”, para vender dentro dos EUA, para os próprios cidadãos e eleitores, a política externa dos EUA e suas correspondentes guerras. Daí os esforços suprapartidários de Thornberry e Smith.

É preciso ter em mente que as burocracias, sejam civis sejam militares, não são espaços de discurso livre e livre manifestação de pensamento. São ambientes de “cumpra a missão e obedeça ordens”.  Por mais que seus representantes, saídos como são do público norte-americano, muito tagarelem sobre democracia e debates democráticos e significativos, a verdade é que nada sabem e nada fazem nesses campos. O mais provável é que tampouco acreditem, eles mesmos, no que dizem e “declaram” aos jornais e televisões e jornalistas.

Eis a razão pela qual, em tempos em que o dinheiro compra a manifestação do pensamento e a escraviza, e os conservadores já são donos de, a cada dia, parcelas maiores das empresas de comunicação e jornalismo, a legislação proposta por Thornberry e Smith parece óbvia e lógica. Se for aprovada, será a coroação de um processo já em andamento, pelo qual a livre manifestação do pensamento e o discurso público estão sendo afogados num poço envenenado de doutrinação e desdemocratização.



Notas dos tradutores




[4] 6/6/2012, New York Times em: Detention Provision Is Blocked

[5]  22/5/2012, Rússia Today em: NDAA 2013: Congress approves domestic deceptive propaganda


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