Publicado em 12/06/2012 por Rui Martins*
Berna (Suiça) - De repente, umas
poucas linhas num tweet desencadearam
um terremoto na política francesa, a apenas cinco dias do segundo turno das
legislativas.
Teria sido ciúmes ? Em todo caso,
pouco mais de um mês da vitória de François Hollande, o novo presidente se vê às
voltas com seu primeiro abacaxi para descascar, envolvendo sua companheira, sua
girl friend como dizem os americanos,
e sua ex-esposa e por tabela a campanha legislativa do Partido Socialista na
circunscrição de La Rochelle.
Ninguém consegue imaginar como o
presidente François Hollande, que descartara de seu mandato qualquer mistura com
sua vida pessoal, vai sair da confusão criada por Valerie Trierweiler (à direita
na foto) em pleno confronto com sua ex-esposa Ségolène Royal (à esquerda na
foto).
Há coisas que só acontecem na
França, sem qualquer presságio e em meio à calma absoluta. Domingo, os
socialistas obtiveram a maior vitória nas eleições legislativas nunca antes
registrada. Nem mesmo Mitterrand conseguiu dar aos socialistas uma tal vitória
sem compromissos com outros partidos de esquerda.
Havia só um senão – a ex-esposa do
presidente François Hollande, ex-candidata à presidenta vencida por Sarkozy, a
bela e voluntariosa Ségolène Royal corre o risco de não ser eleita deputada
federal. Talvez para não deixar em má situação seu ex-marido, agora presidente,
Ségolène não pediu um posto de ministra, mesmo se batalhou pela vitória do pai
de seus quatro filhos.
Ségolène decidiu, meio sem
consultar seus amigos, se candidatar a deputada federal pela cidade de La
Rochelle, com o objetivo declarado de ser a presidenta da Assembléia Nacional,
equivalente à nossa Câmara de Deputados. O Partido Socialista autorizou sua
candidatura, porém surgiu um problema – um professor socialista da região,
Olivier Falorni, conselheiro da governança local, amigo de longa data do atual
presidente Hollande, queria se candidatar e não aceitou que em seu lugar fosse
colocada Ségolène Royal. Chamado à atenção pela chefe do Partido Socialista,
Martine Aubry, e convidado a retirar sua candidatura, Olivier Falorni se
declarou dissidente e disputou as eleições como candidato socialista
dissidente.
Domingo, conhecidos os resultados,
quem chegou em primeiro lugar foi Ségolène Royal, mas seus votos não eram
suficientes para se eleger sendo necessária se submeter a um segundo turno a fim
de disputar a maioria absoluta. Em segundo lugar, estava Olivier e em terceiro
lugar um candidato do partido de direita do ex-presidente Sarkozy.
Como em política as vinganças são
comuns, o candidato da direita se retirou da competição mas pediu aos seus
eleitores para votarem no candidato local, ou seja Olivier Falorni. É a primeira
vez que um candidato de direita renuncia em favor de um socialista, mesmo que
seja dissidente. Porém, o ato nada tem de louvável, o objetivo é o de tirar
Ségolène Royal da vida política.
Diante disso, todo Partido
Socialista se mobilizou e sua presidente, Martine Aubry, foi pessoalmente, nesta
terça-feira, fazer campanha por Ségolène Royal, enquanto o próprio presidente
deu seu apoio à ex-esposa contra Olivier Falorni.
O escândalo estourou logo de
manhã, quando Martine Aubry chegou a La Rochelle. Valerie
Trierweiler , quase nesse mesmo momento, enviou por seu tweet uma mensagem de apoio a Olivier
Falorni. Bastaram alguns minutos para toda imprensa francesa noticiar nos seus
online como a girl friend do
presidente Hollande passou por cima de todos os socialistas, inclusive de seu
marido presidente, para apoiar o adversário de sua ex-rival.
Enquanto a direita ri de euforia,
diante dessa cena de ciúme qualificada de cena de bulevard e a imprensa fala em
reedição de um ato digno de Cecília Sarkozy, conhecida por seu temperamento
forte, os socialistas se inquietam com receio de que o tweet da companheira do presidente
Hollande possa influir nos resultados do segundo turno, domingo, dia
17.
Outros se lembram também de que
Danielle Mitterrand também não era mulher de seguir docilmente as decisões do
marido. Valerie já havia dito que não queria ser uma mulher-decoração, tanto que
decidiu continuar com sua profissão de jornalista na revista Paris
Match.
Em todo caso, uma coisa ficou
evidente – o presidente Hollande que instaurou a “normalidade” no governo, tem
uma mulher “normal”, ciumenta, que não perdoa seus telefonemas escondidos à ex e
que, na Bastilha, depois do beijo do presidente no rosto de Ségolène foi
exigente – “eu quero beijo na boca”. Sem se esquecer de que Valerie não votou em
Ségolène quando sua rival era candidata a presidente.
As mulheres franceses não têm nada
a ver com as mulheres submissas dos islamitas.
Rui Martins*
reside em Berna
(Suíça ); é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado
durante a ditadura, é líder emigrante, ex-membro eleito no primeiro conselho de
emigrantes junto ao Itamaraty. Criou os movimentos Brasileirinhos Apátridas e
Estado dos Emigrantes. Escreve para o Expresso, de Lisboa, Correio
do Brasil e
agência BrPress.
Enviado por Direto
da Redação
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