segunda-feira, 25 de março de 2013

“Tráfico humano” e a agenda de Direitos Humanos contra a Eritréia


19/3/2013, Simon Tesfamariam, Black Agenda Report
Traduzido e resumido pelo pessoal da Vila Vudu


Eritréia (País, do qual JAMAIS se ouviu falar ou viu-se escrito no "jornalismo" [só rindo] brasileiro - NTs) é dos pouquíssimos estados africanos que evitaram qualquer associação com a máquina de guerra dos EUA. Consequência disso a Eritréia tem sido alvo de uma campanha de sanções, ameaças e mentiras, baseadas em acusações de tráfico humano e uso de crianças soldados. A Eritréia não é autorizada a defender-se em nenhum tribunal, nem na mídia, nem em parte alguma da arena internacional. (...)

Mapa da Eritreia (às margens do MarVermelho)
Voltemos a gravação até 5/5/2009. Num dos telegramas diplomáticos distribuídos por WikiLeaks, que levava o título de “Promovendo oportunidades educacionais para a juventude antigoverno da Eritréia”, o então embaixador dos EUA na Eritréia, Ronald K. McMullen explicou que:

Esse posto planeja reiniciar a emissão de vistos  (completamente suspensa em 2007) para estudantes; planejamos dar oportunidades de estudos nos EUA a estudantes que se oponham ao governo.

E prossegue:

Esta embaixada planeja começar a distribuir vistos, independente de se o governo dê ou negue passaporte ou visto de saída ao solicitante. Se o solicitante for considerável apto para receber visto de estudante, a embaixada emitirá um Formulário DS-232. (...) Mesmo sem passaporte eritreu, mas com o visto F1 em Formulário DS-232, esse jovem felizardo pode embarcar para os EUA. Para os que recebam visto e consigam deixar o país e obter status de refugiado do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, um documento de viagem emitido pela ONU permitirá que o jovem estudante viaje para os EUA com seu F1 no Formulário DS-232.

Isaias Afewerki
Dadas as atuais restrições que o regime de Isaias Afewerki  impõe à Embaixada em Asmara, esta embaixada não pensa em reiniciar todos os serviço de fornecimento de vistos em futuro próximo. Mas, ante a esperança dos jovens eritreus, que sonham com a chance de uma educação e de aprender as capacidades que os ajudarão a reconstruir esse país depois que o governo Isaias já não estiver aqui, os vistos para jovens são dos mais fortes sinais que podemos dar ao povo da Eritréia, de que os EUA não os abandonaram. Se fornecermos os vistos e exigirmos passaporte eritreu, seremos vistos  como solidários à ditadura local. O sistema que concebemos, de vistos especiais para estudantes da oposição, é essencial.


O Regime Global dos Direitos Humanos

Intervenção, em nome de defender direitos humanos, é a mais recente arma do imperialismo, e já se vê aumento dramático no número de ações contra nações soberanas – particularmente contra nações africanas – pelo Regime Global dos Direitos Humanos [orig. Global Human Rights Regime (GHRR; a expressão não é invenção minha). Antes de 1990, só dois países africanos haviam sido atingidos por sanções da ONU: a Rodésia, 1966; e a África do Sul, em 1977. Em nenhum desses casos as sanções obtiveram os resultados para os quais foram (declaradamente, pelo menos) implantadas.

Nos anos 1990, aconteceu um boom de sanções da ONU predominantemente contra nações africanas. Apesar de serem sempre recomendadas por “especialistas” em inúmeros seminários e painéis, e dos muitos “grupos de monitoramento”, em nenhum caso as sanções contribuíram para democratizar coisa alguma. Depois de inúmeros estudos, a ONU então decidiu passar a usar sanções “dirigidas a alvos especificados”, nos anos 2000s. Mais uma vez, nada funcionou como o previsto.

A Eritréia, que passou a ser alvo de sanções da ONU em 2009, é caso que comprova essa realidade. De fato, as sanções só atraíram mais desgraças e dificuldades sobre o povo eritreu, o que implicou apoio e suporte popular mais decidido ao governo. Foi o que se viu pelas campanhas internacionais Hizbawi Mekhete  (“resistência popular”), nas quais cidadãos, em todo o mundo, levantaram dinheiro para ajudar a luta do governo eritreu. Vídeo a seguir:


E, em 22/2/2o10, viram-se manifestações anti-ONU, a favor da Eritréia, em todo o mundo. Vídeo a seguir:


Também no mesmo espírito de resistir às sanções da ONU, os eritreus iniciaram a campanha E-SMART (“Eritrean Sanctions Must be Annulled and Repealed Today”/As sanções contra a Eritréia Devem ser Rejeitadas e Anuladas Hoje), que levou à criação de uma página na Internet, que é hoje fonte de informação confiável sobre pouco divulgados fatos e contra as muito repetidas mentiras sobre as sanções da ONU contra a Eritréia.  

O Conselho de Direitos Humanos é mais uma criação, de 2006, para promover a agenda do Regime Global de Direitos Humanos. O Alto Comissariado da ONU adotou regime especial para queixas e denúncias, e passou a enviar comissários especiais com poder para investigar qualquer denúncia de abuso contra direitos humanos. De início, os EUA ainda tentaram manter as aparências, como se não dominassem completamente a instituição. (...) Mas isso mudou depois da eleição de Obama em 2009, quando os EUA passaram a integrar o Alto Comissariado e rapidamente usaram sua influência: invocaram a “Responsabilidade de Proteger” [orig. Responsibility-to-Protect (R2P)] como justificativa para atacar a Líbia, em 2011.

As ações da Comissão de Direitos Humanos passaram a ser coordenadas com as ações do Conselho de Segurança da ONU. Usaram-se relatórios de direitos humanos preparados pela organização Human Rights Watch – que é membro da Coalizão Internacional pela Responsabilidade de Proteger – os quais, em seguida, foram usados também para justificar mais intervenção militar contra a Líbia. A Corte Internacional de Justiça, da ONU, estabelecida em 2002, já emitira 21 mandados de prisão (todos contra africanos!) antes de emitir mandado de prisão contra Muammar al-Gaddafi.

Numa sinfonia de destruição na qual se uniam o Conselho de Segurança da ONU, o Comissariado de Direitos Humanos, a Corte Internacional de Justiça, Human Rights Watch e outras instituições internacionais, a Líbia foi a primeira nação africana a ser completamente destruída, arruinada e subjugada. A bem azeitada máquina de guerra do Regime Global de Direitos Humanos agiu com força total e varreu do planeta a Jamahiriya Líbia, quase que num piscar de olhos.

Mas chama a atenção que o Regime Global de Direitos Humanos vise mais diretamente os países africanos que qualquer outra região do mundo. Agora, é a Eritreia, que começa a entrar na alça de mira desses “civilizadores” que “civilizam” à bomba.

Este ano, há previsão de presença de soldados norte-americanos em 35 países africanos Como Pepe Escobar escreveu em artigo de 2011 para Al Jazeera:

O comando dos EUA na África, AFRICOM, tem uma espécie de “parceria” militar – acordos bilaterais – com a maioria dos 53 países africanos, mas há quatro exceções: Costa do Marfim, Sudão, Eritréia e Líbia. A Costa do Marfim já foi “alinhada”. O próximo país a ser “alinhado” é o Sudão do Sul. Lá ficará a Líbia, que será, provavelmente, o próximo alvo. Restarão, ainda não incorporados ao AFRICOM, só a Eritréia e o Zimbábue.

A África cada vez mais se volta para a China visando investimentos e orientação econômica; o AFRICOM visa reverter essa posição geoestratégica da China na África
Portanto, cabe aos eritreus prepararem-se para a chegada de forças externas que virão para tentar fazer a “mudança de regime” – e o tentarão, enquanto a Eritréia não seguir as regras daqueles exércitos e não aceitar ajoelhar-se ante aqueles fuzis. Para tanto, jogarão a carta dos “direitos humanos”, porque não lhes resta outra. Na Eritréia a carta do “terrorismo” não funcionou. E o golpe de estado já foi tentado e fracassou.

Já se começa a ver os primeiros movimentos daquelas forças, hoje [24/3], na Suécia, onde foram destruídos vários centros comunitários de eritreus á residentes. São forças perigosas, porque estão desesperadamente à cata de pretextos. A campanha contra “o tráfico humano” pode bem ser usada como pretexto. Os eritreus se deixarão enganar pelo discurso dos “direitos humanos” implantados à bomba? Conseguirão destruir a Eritréia, como destruíram a Líbia? A resposta está nas mãos do povo da Eritréia.




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