domingo, 10 de março de 2013

Teatro do absurdo


Alfredo Pereira dos Santos

Cenário: laboratório de informática de um pólo de ensino a distância de uma universidade federal. Dia de prova de matemática.

A prova versará sobre temas como equações exponenciais, logaritmos e trigonometria, coisas que antigamente eram aprendidas no ensino fundamental e médio mas que hoje a universidade precisa ensinar, pois os alunos conseguem passar no vestibular sem as ter aprendido.

Teorema de Pitágoras
Uma aluna diz a um colega que está completamente por fora da matéria e pede ajuda. Em todos os demais ramos da matemática do ensino médio essa aluna apresenta as mesmas dificuldades. 

No meio da explicação aparece o “Teorema de Pitágoras”. A aluna em dúvida não conhece o teorema e diz que vai anotar o seu enunciado numa folha de papel. Ao se aproximar o fim da anotação ela pergunta:

-- Hipotenusa se escreve com I ou com H?

Desce rápido o pano. A platéia chora. Chora principalmente porque sabe que não se trata de ficção, mas de uma história real.

Pitágoras de Samos
Os espectadores saem e alguns, em grupos, se põem a falar sobre o futuro da personagem. Conseguirá ela superar as suas dificuldades e levar o curso a bom termo? Uns dizem:

-- Deus queira que ela consiga.

Pessimistas dizem:

-- Impossível, será muito difícil para ela recuperar o tempo perdido. Eu acho que ela vai desistir.

Um outro concorda e pergunta:

-- De fato, se ela tem dificuldades agora o que não dizer de quando chegar a hora de aprender Limites, Derivadas e Integrais?.

Um terceiro aventa a hipótese da universidade “baixar o nível”, facilitando a vida dessa aluna. Nada de novo sob o Sol, pois não dizem que até o Instituto Rio Branco e o Instituto Militar de Engenharia “baixaram o nível”, gerando o protesto de alguns? Um outro diz:

-- Eu já vi esse filme antes, com o aluno chegando ao terceiro período mas devendo matérias de períodos anteriores em que não consegue ser aprovado. De reprovação em reprovação ele acaba desistindo.

Alguém diz que: “

-- É um absurdo que uma universidade federal permita o ingresso de uma pessoa sem condições, para massacrá-la, gerando frustração e sofrimento.

As comparações surgem, inevitavelmente. Um espectador, que já esteve em Cuba quatro vezes e duas na China, fala sobre o sistema educacional daqueles países. Diz que:

-- O sistema educacional da China é o melhor do mundo e na média, os médicos cubanos são melhores do que os brasileiros, pois o ensino médio de lá é muito melhor do que o daqui, de modo que os alunos chegam à escola de medicina com muito mais base em química, física, biologia e matemática.

Ressalta que:

-- Cuba forma médicos aos borbotões e que é dessa quantidade que surge a qualidade.

Alguém pergunta:

-- Porque as nossas autoridades educacionais não vão ver o que está acontecendo em matéria educacional em Cuba e na China?

Um outro responde:

-- São realidades diferentes!

Procuram-se culpados e responsáveis. A ditadura militar de 1964 aparece como ré, por diversas ações e omissões. Alguém exclama:

-- São os famigerados acordos MEC-USAID!

A classe política é também arrolada no processo.

Um coronel diz que:

-- O Brasil não tem jeito, pois esse é o nosso KARMA.

Um professor universitário aposentado diz que:

-- O Brasil não deu certo e não vai dar .

Não falta quem diga que:

-- Os culpados são os alunos, que não querem nada com os livros.

Pais também são culpados:

...pois deixam os filhos muito tempo vendo televisão.

As opiniões se sucedem, as horas passam, o cansaço sobrevém e cada um vai para sua casa dormir. O tempo está bom e amanhã vai dar praia. Pela tarde tem jogo no Maracanã e à noite tem o FANTÁSTICO. Depois é dormir que segunda-feira é dia de batente.

E La Nave Va - Catherine Burg


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