22/3/2013, Vladimir Putin – Presidente da Rússia -
Ag. ITAR-TASS
Entrevista traduzida pelo pessoal
da Vila Vudu
“A proposta
de Putin tem potência para reorientar a base dos BRICS. A palavra chave é
“mecanismo para estratégias de ampla escala”, que “buscará soluções para as
questões globais chaves, em vez de apenas coordenar seletivamente suas posições
em algumas poucas questões de momento”. Putin destacou que não vê os BRICS como
“concorrente geopolítico” em oposição ao ocidente”.
Vladimir Putin |
Ag.
ITAR-TASS: O
fenômeno relativamente recente dos BRICS atrai cada vez maior atenção global, em
função das previsões otimistas para o crescimento desses países, sobretudo se se
consideram os desdobramentos da crise na economia mundial. O que significa o
grupo BRICS para a Rússia, imediatamente e no longo prazo? Esse formato é
adequado para que se desenvolvam melhores relações entre esses
países?
PRESIDENTE VLADIMIR
PUTIN:
á
inúmeros fatores de longo prazo que operam a favor do sucesso dos BRICS. Por
vinte anos as economias de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul aparecem
na dianteira do crescimento econômico global. Em 2012, o crescimento médio do
PIB no grupo chegou a 4%; para o G7 [1] a-se crescimento de 0,7%. Além
disso, o PIB dos países BRICS tem a ver com a paridade do poder de compra das
respectivas moedas nacionais, atualmente acima de 27% do PIB global, e a fatia
dos BRICS continua a aumentar.
O
grupo BRICS é elemento chave de um mundo multipolar que está emergindo; o grupo
tem afirmado repetidas vezes seu compromisso com os princípios fundamentais da
lei internacional e contribuído para reforçar o papel central da ONU. Nossos
países não aceitam políticas de força nem violações à soberania das nações.
Partilhamos também de visão semelhante nas mais graves questões internacionais,
inclusive na crise síria, na situação criada em torno do Irã e no Oriente Médio.
A
credibilidade e influência dos BRICS no mundo traduzem-se em contribuição
crescente nos esforços para estimular o crescimento global. Esse é um dos
importantes temas a ser discutidos no Fórum e Diálogo dos Presidentes dos
BRICS-África, que acontecerá durante a reunião de cúpula de Durban. [2]
Os
países BRICS advogam a constituição de um sistema mais equilibrado e mais justo
de relações econômicas globais. Os mercados emergentes têm interesse em
crescimento econômico mundial sustentável, duradouro; e querem reformas na
arquitetura financeira e econômica, para que seja mais eficiente. Resultado
disso é a decisão conjunta, tomada no ano passado, de os BRICS contribuírem com
$75 bilhões de dólares para o programa de empréstimo do FMI, que implica aumento
da participação no capital do Fundo, das economias que mais crescem.
A
Rússia, como iniciadora do formato BRICS e presidente da primeira reunião em
Yekaterinburg em 2009, vê o trabalho dentro desse grupo como uma de suas
prioridades de política externa. Esse ano, aprovei o Conceito da Participação da
Federação Russa no grupo BRICS, que propõe quatro metas estratégicas que visamos
a alcançar mediante a interação com nossos parceiros Brasil, China, Índia e
África do Sul.
Essa
cooperação em questões internacionais, comércio, câmbio e na esfera humanitária
facilita a criação do ambiente mais favorável para o crescimento da economia
russa, melhoria do clima para investimentos, qualidade de vida e bem-estar de
nossos cidadãos.
Nossa
participação nessa associação ajuda a promover relações bilaterais privilegiadas
entre as nações BRICS, baseadas nos princípios de boa vizinhança e cooperação
mutuamente proveitosa. Entendemos que é crucial ampliar a presença linguística,
cultural e de informação da Rússia nos países BRICS, assim como nos interessa
expandir o intercâmbio educacional e os contatos interpessoais.
Ag.
ITAR-TASS: Quais
são os objetivos de curto prazo do grupo? E como o senhor vê as diretivas
estratégicas para o desenvolvimento econômico dos
BRICS?
VLADIMIR
PUTIN: Os
BRICS identificam-se quanto ao que se deve fazer, conforme os planos de ação
adotados nas reuniões anuais. Ano passado, o Plano de Ação de Delhi demarcou 17
áreas de cooperação, inclusive reuniões dos ministros de Relações Exteriores, a
serem realizadas simultaneamente com a sessão da Assembleia Geral da ONU;
reuniões dos ministros de Finanças e presidentes dos Bancos Centrais, paralelas
às reuniões do G20; reuniões com o Banco Mundial e o FMI, além de contato entre
outras agências dos países BRICS.
Nesse
momento, estamos construindo um novo plano, a ser discutido na reunião
em Durban.
Tenho confiança que nos ajudará a aprofundar a parceira.
Esperamos conseguir aprofundar a coordenação entre as abordagens nacionais, nas
questões chaves da agenda da próxima reunião do G20 em São Petersburgo , aumentar
nossa cooperação na luta contra a produção e o tráfico de drogas e nossos
esforços para conter ameaças criminosas em geral, terroristas, militares e no
ciberespaço.
É
extremamente importante para a Rússia ampliar a cooperação de comércio e
investimentos com os parceiros BRICS e lançar projetos de negócios multilaterais
envolvendo parcerias empresariais. Em Durban, esperamos já poder anunciar a
criação formal do Conselho de Negócios dos BRICS, criado para apoiar essa
atividade comercial. Antes da reunião de cúpula, haverá o Fórum de Negócios dos
BRICS, que reunirá representantes de mais de 900 empresas de nossos países.
Ag.
ITAR-TASS: O
potencial das economias BRICS leva à questão da coordenação entre políticas
econômicas, mas leva também à questão de interação geopolítica mais estreita.
Qual o papel e a missão geopolítica dos BRICS no mundo contemporâneo? Ultrapassa
a agenda simplesmente comercial e econômica? Caberá aos países BRICS o dever de
aceitar maior responsabilidade nos processos geopolíticos? Qual a política dos
BRICS em relação ao resto do mundo, inclusive em relação aos grandes atores,
como EUA, União Europeia, Japão... Que futuro o senhor antevê para o bloco,
nesse quadro?
VLADIMIR
PUTIN: Em
primeiro lugar e sobretudo, os países BRICS buscam ajudar a economia mundial a
alcançar crescimento estável e autossustentado e a reformar a arquitetura
financeira e econômica internacional. Nossa principal tarefa é encontrar modos
para acelerar o desenvolvimento global, encorajar o fluxo de capitais da
economia real e criar empregos. São objetivos particularmente importantes em
contexto de baixo crescimento econômico em todo o mundo, e de desemprego
inadmissivelmente muito alto. Embora esse seja o quadro que se vê em muitos
países ocidentais, todos os BRICS são também afetados negativamente; os mercados
de exportação estão encolhendo, falta estabilidade nas finanças globais e até
nossas taxas internas de crescimento estão mais lentas.
Ao
mesmo tempo, convidamos nossos parceiros a, gradualmente, transformarem os
BRICS, de um fórum que coordena abordagens em número limitado de questões, em
mecanismo de cooperação estratégica em larga escala, o que nos permitirá buscar,
juntos, soluções para as questões chaves da política
global.
Tradicionalmente,
os países BRICS manifestam abordagens assemelhadas para a solução de todos os
conflitos internacionais, prestigiando sempre os meios políticos e diplomáticos.
Para a cúpula de Durban, estamos trabalhando numa declaração conjunta que
manifeste nossas ideias fundamentais sobre as mais prementes questões
internacionais – a saber: as crises na Síria, no Afeganistão, no Irã e no
Oriente Médio.
Não
vemos o bloco BRICS como concorrente geopolítico em oposição aos países
ocidentais ou suas organizações. Bem o contrário disso: estamos abertos a
discussão com qualquer país ou organização disposta a discutir sob os parâmetros
de uma nova ordem mundial, comum e multipolar.
Ag.
ITAR-TASS: Rússia
e China são importantes parceiros estratégicos e históricos. Como o senhor vê o
significado dessa parceria, não só para o desenvolvimento dos dois países, mas
também para todo o sistema de relações internacionais e a economia mundial?
VLADIMIR
PUTIN: Rússia
e China são dois membros influentes na comunidade internacional, são membros
permanentes do Conselho de Segurança da ONU e estão entre as maiores economias
do mundo. Por tudo isso, a parceria estratégica entre nossos países tem tanta
importância, simultaneamente em escala bilateral e em escala global.
Hoje,
as relações sino-russas passam por excelente momento, o melhor numa história de
vários séculos. São relações caracterizadas por alto grau de confiança mútua,
respeito pelos interesses dos dois lados, apoio nas questões vitais. É
verdadeira parceria, genuinamente aberta e abrangente.
Hoje,
o presidente da República Popular da China, Xi Jinping, está em visita oficial à
Rússia. A evidência de que o novo presidente da China tanto tenha nos honrado,
escolhendo a Rússia para sua primeira viagem oficial como presidente, confirma a
natureza especial da parceria estratégica que construímos entre Rússia e China.
Só
nos últimos cinco anos, o volume de comércio bilateral mais que dobrou. A China
assumiu solidamente o primeiro lugar dentre nossos parceiros comerciais. Em
2012, o volume de comércio russo-chinês aumentou 5,2%, já alcançando hoje $87,5
bilhões (em 2007, estava em $40 bilhões).
A
correspondência e a proximidade de nossas abordagens nas questões mais cruciais
da ordem mundial e nos problemas internacionais chaves é importante fator de
estabilização, hoje, na política mundial. No quadro da ONU, do G20, dos BRICS,
da Organização de Cooperação de Xangai, da Organização dos Países Produtores de
Petróleo e de outros formatos multilaterais, estamos trabalhando lado a lado,
ajudando a modelar uma nova ordem mundial, mais justa; a promover paz e
segurança; a defender intransigentemente os princípios básicos da lei
internacional. É nossa contribuição comum, fortalecer o desenvolvimento global
sustentável.
Rússia
e China são hoje exemplo de abordagem pragmática e equilibrada com vistas a
superar as questões mais críticas que abalam o mundo hoje, como a situação no
Oriente Médio e Norte da África, o problema nuclear na Península Coreana e a
discussão mundial sobre o programa nuclear do Irã.
******
FIM DA ENTREVISTA ******
Notas dos tradutores
[1] G7 -Grupo no qual se reúnem os
ministros das Finanças das sete nações mais industrializadas: EUA, Grã-Bretanha,
França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão.
[2]
Sobre relações Rússia e África do Sul, sem interesse imediato no nosso fórum, os
interessados podem ler em: “Russian-South Africa
Talks”
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