21/3/2013, Pepe Escobar, Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Pepe Escobar |
Examinemos o caso. Antes, deem uma olhada nessa coluna assinada publicada pelo Wall Street Journal em setembro de 2002, no auge da histeria em torno da invasão do Iraque.
Os EUA invadem o Iraque |
Está
tudo ali: “um ditador que rapidamente amplia seu arsenal de armas químicas e
biológicas” e o qual “tenta febrilmente construir a própria bomba atômica”;
equivalente a Saddam, só Hitler; Israel (potência nuclear, de facto e
conhecida) pintada como vítima indefesa do “terror” palestino; a “revelação” de
que Saddam poderia produzir combustível nuclear em “centrífugas do tamanho de
máquinas de lavar roupa que podem ser escondidas no interior do país – e o
Iraque é país extenso”; a cantoria monocórdia sobre ataque unilateral
preventivo; e a conclusão de sempre: “não nos satisfaremos com nada menos que o
desmonte total do governo de Saddam”.
A popularidade de Netanyahu sobe quanto mais Israel assassina palestinos |
Faça
avançar a fita para essa semana, mais de 10 anos depois daquela coluna de Bibi,
no WSJ. Cenário: conferência de imprensa, o Primeiro-Ministro de Israel
Bibi Netanyahu e o Presidente dos EUA, Barack Obama, que o visita. Todos que
assistiram ao vivo pela rede al-Jazeera, do Oriente Médio ao leste da Ásia,
devem ter suposto que assistiam à versão geopolítica de De volta ao
futuro – e, francamente, Michael J Fox pelo menos, tinha charme.
Ali,
nenhum charme; mais parecia versão em terno e gravata de A volta dos mortos
vivos. Bibi e Obama não sabiam o que mais fizessem para repetir e repetir
que o laço entre EUA e Israel é “eterno”. Na verdade, Bibi estava mais
interessado em repetir e repetir que as armas nucleares iranianas (que não
existem) são ameaça existencial contra Israel. E repetiu, e repetiu e repetiu
que Obama dissera e repetira e repetira e repetira que Israel tem direito de
fazer qualquer coisa para defender-se, e que a segurança de Israel não é
responsabilidade de mais ninguém, nem de Washington.
Obama,
por sua vez, repetiu mais uma vez que a política oficial de Washington para o
Irã não é política de contenção – mas, sim, impedir que o Irã obtenha a bomba
atômica. Destacou que a “janela de oportunidade” está cada vez mais estreita; e,
claro: todas as opções estão sobre a mesa.
A
ideia de que o Presidente dos EUA [President Of The US, POTUS)
deliberadamente ignora laudos e relatórios de uma longa lista de suas próprias
agências de inteligência sobre o Irã levanta(ria) suspeitas em qualquer mundo
racional. Mas aqui não se cogita de mundo racional: é uma espécie de reality
show do submundo.
O sonho
erótico molhado dos colonos israelenses
Os
poderes no poder em Israel – e não importa quantos neguem pela imprensa-empresa
norte-americana infestada de neoconservadores – foram determinantes para
construir toda a operação-mentiras que levou à guerra do Iraque. Ariel Sharon
naquele momento rugia que a coordenação estratégica entre Israel e os EUA havia
alcançado “dimensões sem precedentes”.
Assentamentos de Israel exclusivos para judeus em terras roubadas dos palestinos |
Bibi não passava de uma engrenagem
naquela máquina – como Jim
Lobe explica – citando as pérolas de sabedoria
que Bibi distribuiu a um muito mal informado Congresso dos EUA, em 2002.
Todos
os “funcionários de Israel” e suspeitos de sempre naquele momento repetiam
ininterruptamente que Saddam estaria a poucos meses de ter sua bomba atômica. O
núcleo de toda a “inteligência” sobre as tais armas de destruição em massa que
havia (mas não havia) no Iraque, que foi apresentada ao Congresso e
aplicadamente papagueada pela imprensa-empresa, foi implantada, se não
integralmente inventada, pela inteligência israelense – tema dissecado, dentre
outros, por Shlomo Brom em “An Intelligence Failure” [Um fracasso da
inteligência], estudo publicado pelo Jaffee Center for Strategic Studies da
Universidade de Telavive, em novembro de 2003.
Claro
que não fez qualquer diferença que os inspetores da ONU não tenham encontrado
nenhuma prova do tal programa de construção de bombas atômicas no Iraque. Claro
que não fez qualquer diferença que o genro de Saddam, Hussein Kamel, que
desertou e fugiu para a Jordânia em 1995, tenha explicado em detalhes aos
inspetores da ONU que desde 1991 não havia nenhuma arma de destruição
em massa no
Iraque.
Hoje,
aí está, tudo outra vez, a segunda tragédia e a segunda farsa. Até os nepalenses
que constroem aquelas torres de purpurina fulgurante em Dubai sabem que a
histeria de “bombardeiem o Irã” é tática-golpe de Telavive para desviar a
atenção mundial do incansável assalto/roubo de terras palestinas/limpeza étnica
que segue em câmera lenta na Palestina e, consequentemente, a total
impossibilidade real de chegar-se a alguma solução de dois estados.
Jonathan Cook detalha sucintamente a configuração política francamente apavorante depois das recentes
eleições em Israel. O site israelense Ynet noticiou que os colonos
israelenses não se cansam de saudar o novo sonho erótico molhado que veem
realizado no novo Gabinete. Tradução: já se pregou o último prego no caixão do
“processo paz”, morto e enterrado.
Eis
pois uma moderna parábola geopolítica que intrigaria até Esopo. Bibi insulta
publicamente o presidente dos EUA. Bibi apoiou aberta e desavergonhadamente o
candidato Mitt (quem?!) Romney nas eleições presidenciais dos EUA. Atacou o
“processo de paz” com fogo cerrado de “fatos” Hellfire “em campo” (e vastos
“danos colaterais” palestinos). Só faz repetir e repetir uma única e sempre a
mesma mensagem: Bombardeie, bombardeie, bombardeie, bombardeie o Irã. E é quando
o presidente dos EUA, em teoria sua excelência Oh, Obama, que tem licença para
matar (em listas), mas age, de fato, como turista acidental, aterriza em Israel
com a licença para matar escondida entre as pernas, para maior glória de Bibi.
Não
surpreende que a sórdida massa de norte-americanos neoconservadores / ”Israel
antes dos EUA” / “Bombardeie o Irã” esteja em festa. Há mais de dez anos, o mantra
dessa gente era “homens de verdade vão para Teerã”. A questão hoje é quando (ou
se!) o Presidente dos EUA arranjará par operante de colhões para obrigar aquela
gente a baixar o facho.
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