22-24/3/2013, Norman
Pollack, Counterpunch
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Norman Pollack |
A missão de Obama
no Oriente Médio, se se considera o tratamento de celebridade que o presidente
recebeu a cada passo demonstra, como o famoso discurso do Cairo no primeiro
mandato, o simulacro, o subterfúgio discursivo, a cobertura sempre à mão, para
infiltrar o poder dos EUA na região, ainda mais empenhado que qualquer dos seus
predecessores. O petróleo é motivo simplório demais, embora, claro, também lá
esteja. Mas Obama parece trabalhar numa estratégia geopolítica de hegemonização
global, hegemonia política e ideológica (da qual fluem os ganhos econômicos,
mais do que de algum imperialismo mais estreito), precisamente para impor a
influência e o poder dos EUA nos centros de poder do mundo, hoje, cada dia mais
multipolar. Israel é posto avançado, para fixar a presença dos EUA num dos
fronts.
Nenhum país
depende mais dos EUA que Israel, mas, sem querer expor-se a nenhum risco, os EUA
temos bases militares e entrepostos para a guerra dos drones implantados por toda a África. E assim os
EUA garantem cobertura regional saturada – nem é preciso haver “inimigo”
identificado: basta um “terrorismo” generalizante. Como já escrevi outras vezes,
“contraterrorismo” é codinome, hoje, para o que sempre foi
“contrarrevolução”.
Barack Obama |
Postura
internacional menos ambiciosa talvez desse o mesmo resultado, mas o Oriente
Médio, por importantíssimo que seja por si só, protege os portões da expansão da
Ásia na direção do ocidente; e da Rússia, rumo ao sul.
De fato, o que
Obama vê no alvo de sua mira é a China, que substitui a Rússia, no plano de
inaugurar uma Nova Guerra Fria, tão útil, para as mesmas finalidades, quanto a
velha: desde fazer calar a crítica doméstica contra “resgatar” bancos e grandes
empresas para que obtenham lucros mega-gigantes, o que os mantêm intocáveis como
sempre.
O pensamento de
base, aqui, é uma teoria do dominó: não se afaste nem um passo dos pilares de
sustentação (ou assim pressupostos) de todas as políticas: privatização,
financeirização e militarização, todas dirigidos no rumo “natural” do
capitalismo norte-americano... ou todo o edifício da economia política
norte-americana desabará; e, se desabar, desabará com ele o poder dos EUA no
mundo.
Israel não passa
de um caso de apoio a uma contrarrevolução pode-se dizer local, e serve como
facilitador para a penetração pelos EUA que quer chegar ao petróleo e a outros
recursos naturais e avançar, dali adiante, pelo hemisfério, até o Extremo
Oriente.
Simultaneamente,
os EUA pressionam firmemente o Oriente – o tal movimento “de pivô” de Obama foi
golpe de mestre focado diretamente contra a China, com massiva movimentação de
forças militares, simbolicamente os super porta-aviões, mas também o
arroz-e-feijão de todas as guerras: veículos nucleares, não nucleares,
militares, paramilitares, mercenários, bombardeiros de longo alcance, tudo
mobilizado para intimidar a China e, para além da China, o Extremo Pacífico,
incluindo Japão e Sul da Ásia.
Talvez jamais
venhamos a saber onde e como Obama chegou a esse ponto, serviçal do
fundamentalismo de mercado, que se serve da Lei Antiespionagem para perseguir
cidadãos, homem da vigilância e do controle, tudo sugerindo que a sociedade
civil já foi empurrada para o mesmo militarismo doentio de toda a política
exterior. Ou talvez só descubramos quando já for tarde
demais.
Mas, e enquanto
prosseguimos na nossa luta, não podemos nos deixar enganar pelo discurso de
Obama, hoje, em Jerusalém (21/3) – porque Obama absolutamente não tem qualquer
interesse em contribuir para a paz naquela região, nem, sequer, tem algum
interesse em democratizar coisa alguma que implique aproximar israelenses e
palestinos numa só nação baseada em direitos iguais para todos. Esqueçam todo o
palavrório.
Nessa visita, cada
passo foi cenografado para fazer avançar uma política de catarse: dizer a coisa
certa, criticar a repressão de um sobre o outro, depois, do outro sobre o um.
Depois, em seguida, novamente arrochar os mesmos
parafusos.
O desempenho
cenográfico de Obama em Israel reproduz seu desempenho doméstico: promessas,
todas as que possam ser rapidamente quebradas; conversas de paz, só se,
simultaneamente, noutra sala, estiver negociando guerras; e quando o nível de
enganação subir demais, ameaçando explodir à vista de todos... providencie
rápido o alívio purgativo: mais e mais palavrório, as mais tolas platitudes, os
mais tolos lugares-comuns.
Obama-Brennan e
Obama-Netanyahu (parceiros perfeitamente compatíveis) são, encarnados, a cara
bifronte do fascismo liberal: Obama é a cara sorridente da enganação; ao lado,
seu parceiro, é o gangsterismo político, o assassino
obsceno.
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