13/3/2013, Kaveh L Afrasiabi, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Sobre o óleo-gasoduto IP, ver
também: 19/7/2012, redecastorphoto,
Pepe
Escobar: “China quer saber de negócios, não de sanções”
KL Afrasiabi |
Embora a ONU jamais tenha imposto
sanções contra o setor de energia do Irã, o governo dos EUA opôs-se à decisão do
Paquistão, de iniciar afinal a construção de um óleo-gasoduto que o unirá ao
Irã. Para os EUA, o negócio implicaria “violação das sanções impostas pela ONU
contra o programa nuclear do Irã”.[Ler (em inglês): “Saving the
Peace Pipeline”]. Ao que parece, os EUA
mais uma vez confundem suas próprias leis e as leis da comunidade internacional.
Asif Zardari (e) e Mahmoud Ahmadinejad (d) cumprimentam-se em 11/3/2013 |
Na
2ª-feira passada, o Presidente Mahmoud Ahmadinejad do Irã e o Presidente do
Paquistão, Asif Zardari, deram início oficial à construção da porção
paquistanesa do óleo-gasoduto, que percorrerá 1.600 quilômetros . Batizado
de “óleo-gasoduto da paz”, o projeto começou a ser traçado em 1994, como projeto
trilateral Irã-Paquistão-Índia (IPI). (Em 2009, apesar de suas graves carências
de energia, mas pressionada pelos EUA, a Índia abandonou o projeto).
Como
seria de esperar-se, a grande imprensa-empresa ocidental já adotou ativa posição
contra o gasoduto Irã-Paquistão. Foi chamado de “delírio”, “sonho fantasioso”,
com repetidos comentário sobre a impossibilidade de o Paquistão conseguir arcar
com gastos da ordem de US$1,5 bilhão, para completar uma linha de transmissão de
gás pela qual passarão, por dia, 750 milhões de pés cúbicos de gás natural,
diretamente bombeados para o coração da economia paquistanesa sequiosa de
energia.
Hina Rabbani |
Nada
justifica o pessimismo “jornalístico”. Com o Paquistão atormentado por
racionamentos de energia, numa economia que precisa crescer, esse gasoduto é
“assunto de interesse nacional do Paquistão”, como disse a Ministra de Relações
Exteriores”, Hina Rabbani.
Os
dois países também assinaram acordo para construir uma refinaria em Gwadar,
província do Baloquistão, no sudoeste do Paquistão, com capacidade para refinar
400 mil barris de petróleo. Especialistas estrangeiros, como Dan Millison do
Banco de Desenvolvimento Asiático [orig. Asian Development Bank (ADB)], é otimista. Millison defendeu uma
avaliação feita pelo ADB, sobre o “óleo-gasoduto da paz” baseada exclusivamente
em aspectos econômicos e considerando a crescente demanda por energia no
subcontinente.
A
grande questão é: quando o óleo-gasoduto Irã-Paquistão estiver completado, como
a Índia conseguirá resistir à tentação de renovar o pedido para conectar-se a
ele, questão que permanece adormecida? Em 2005, o Primeiro-Ministro da Índia,
Manmohan Singh disse que “estamos desesperadamente carentes de energia e de
novas fontes de energia”.
Do
ponto de vista dos EUA, o anúncio feito por Ahmadinejad-Zardari na fronteira
entre Irã e Paquistão, significa várias coisas, de várias faces: em primeiro lugar, o negócio é o primeiro
grande desafio importante, em palco internacional, contra as sanções unilaterias
que os EUA impuseram ao setor de energia do Irã. A significação do desafio vai
bem além das relações bilaterais entre os dois vizinhos na Ásia e bem pode
servir como exemplo a ser seguido por outras nações.
Victoria Nuland |
[Depois
do evento, a porta-voz do Departamento de Estado Victoria Nuland disse: “Estamos
gravemente preocupados, se esse projeto realmente avançar, que tenhamos de
disparar a Lei das Sanções contra o Irã” – segundo matéria da Agência
France-Presse. – “Temos jogado limpo com os paquistaneses sobre essas
preocupações. Já vimos esse gasoduto ser anunciado 10, 15 vezes antes, no
passado. Temos de ver, portanto, o que realmente acontece”].
Em
segundo lugar, o óleo-gasoduto é uma
oportuna brecha, para Teerã, que padece sob pressões econômicas do ocidente.
Enfraquece a política de alavancagem dos EUA nas negociações nucleares, que
estão em ponto crucial.
A
terceira razão pela qual o
óleo-gasoduto é má notícia para os EUA é que ele põe Washington em rota de
confrontação com o Paquistão, seu importante parceiro na “guerra ao terror”,
destinado a desempenhar papel chave no Afeganistão depois da retirada dos EUA,
planejada para 2014. O dilema dos EUA é como esperar que o Paquistão desempenhe
papel de maior estabilizador, se, simultaneamente, os EUA o ameaçam com sanções
(colaterais), nos termos da Lei das Sanções norte-americana?
Em
quarto lugar, os EUA preocupam-se,
em silêncio, sobre alguma futura virada na Índia, que estimule uma atitude de
desafio pelo Paquistão. Qualquer movimento dos paquistaneses para contornar as
pressões norte-americanas, pode levar New
Delhi a voltar a pensar em se conectar ao óleo-gasoduto iraniano.
Oleogasoduto Irã-Paquistão-Índia (O trecho da Índia está suspenso) |
Se
isso acontecer, os EUA comerão o pão que o diabo amassou para evitar grandes
torvelinhos em sua política para a Índia, ou enfrentar novas e graves dores de
cabeça em sua política externa em todo o mundo. Teste limite para a hegemonia
dos EUA no pós-Guerra Fria, o sucesso ou o fracasso da política de sanções dos
EUA contra o Irã afeta todo o quadro da política global dos e da liderança
global dos EUA.
Para
impedir que a questão entre em espiral incontrolável, é indispensável que os EUA
produzam política mais realista para o Irã – política que considere a
viabilidade de um acordo para “suspender a suspensão”, pelo qual o Irã poria fim
ao enriquecimento de urânio a 20%, em troca do fim das principais sanções.
O
acordo para a construção do óleo-gasoduto Irã-Paquistão evidencia que os EUA
estão cada da mais isolados na batalha pelo Irã. As sanções dos EUA contra o Irã
não passam de violência sem qualquer plano de jogo. Quanto mais depressa os
políticos dos EUA entenderem isso, melhor.
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