quinta-feira, 22 de julho de 2010

O povo que pode, o povo que constrói, tem a palavra!

Castiguemos com o repúdio coletivo os governantes vassalos
por FARC-EP

Simón Bolívar. Estamos em marcha pela dignidade da pátria. A batalha pela independência não terminou, entrou na sua fase decisiva.

Não podemos proclamar-nos livres quando a política de dominação de um império nos subjuga e nos submete com a cumplicidade apátrida das oligarquias, e nos aprisiona na desumanidade das cadeias da escravidão neoliberal.

Um país ocupado militarmente não é independente. Não podemos declarar-nos soberanos quando a força militar de uma potência estrangeira empesta com bases o território pátrio, pisoteia a dignidade e a bandeira dos Estados Unidos tremula sobre a nossa América.

Mas podemos sim proclamar-nos povo em luta pela liberdade!

Já estamos na batalha. Com a certeza de Bolívar, "todos os povos do mundo que lidaram pela liberdade exterminaram por fim seus tiranos". A justa causa dos povos não pode ser derrotada. A espada de batalha do Libertador, agora nas mãos do povo, nos abrirá os caminhos da esperança e triunfará na contenda da emancipação definitiva.

Desfraldemos hoje a auriflama tricolor do bicentenário como símbolo de luta e homenagem aos libertadores que sonharam a Grande Nação de Repúblicas, escudo do nosso destino, aos que nos deram pátria pensando na humanidade e bateram-se nos campos de batalha para dignificar o homem e a mulher americanos.

Como há duzentos anos "em Bolívar está a emancipação". Esta certeza espargida sobre o céu da América pelo prócer Camilo Torres deve ser a divisa da nossa campanha na alvorada do Socialismo e Pátria Grande que ilumina o continente e a América insular. A colheita da semeadura amorosa dos libertadores, concebida para os povos, não pode ser usurpada nem um minuto mais pelos herdeiros de Santander e sua perfídia; deve passar ao usufruto dos seus destinatários originais. O sangue dos libertadores não adubou os campos de batalha para tornar mais ricos os já ricos nem para facilitar novas cadeias coloniais e sim para redimir o soberano, que é o povo.

Prestemos tributo nesta efeméride ao inca Tupac Amaru, ao comuneiro José Antonio Galán, ao negro José Leonardo Chirinos e a todos os esquartejados pela opressão criminosa da coroa espanhola. Honra à jovem Policarpa Salavarrieta, arcabuzada pelos terroristas pacificados encabeçados pelo general espanhol Pablo Morillo. Glória eterna a Francisco José de Caldas, Camilo Torres Tenorio, a Francisco Carbonel e a todos aqueles que, supliciados nos patíbulos, nos mostraram com o seu exemplo o caminho da liberdade. Aos precursores da nossa independência, Miranda, Nariño e Espejo, nosso reconhecimento eterno. Temos que desenterrá-los, retirá-los das fossas do esquecimento nas quais os confinaram a mentirosa historiografia dos que desviaram o rumo da pátria, para que continuem na batalha.

Ainda ressoava o eco da vitória de Ayacunho quando estalou a contra-revolução na ambição sem peias da oligarquia crioula pelo poder político ilimitado. Ela encontrou na Doutrina Monroe intriga e alento permanente para dividir o território e despedaçar a obra legislativa bolivariana que pretendia dignificar o povo fazendo prevalecer o interesse comum sobre o particular.

Tal como o havia prognosticado o Libertador, não tardaram em buscar um novo amo. Combateram a concepção bolivariana da unidade de povos numa Grande Nação, apoiados no sofisma da Doutrina Monroe. Ela foi o seu acicate para assaltar o poder e alcançar o seu miserável sonho de substituir os vice-reis na opressão. Essa doutrina era o disfarce da avareza do Destino Manifesto anglo-saxão, que jamais pensou enfrentar a armada colonial britânica nem a Santa Aliança que projectava restaurar na América o predomínio do trono espanhol e sim anexar repúblicas, saquear recursos e submeter politicamente.

Traíram a grandeza e trocaram a possibilidade do surgimento de um novo poder continental, que fosse equilíbrio do universo, esperança da humanidade, pelo ajoelhamento e a submissão a uma potência estrangeira. Só lhes interessava assaltar o poder político com a ajuda externa para acrescentar as suas fortunas pessoais e pô-las a salvo da revolução social. Dóceis ao seu novo amo, desmobilizaram, por conveniência recíproca, o exército libertador, único garante da independência e das conquistas sociais, forças dissuasiva ao mesmo tempo das ambições neocoloniais do governo de Washington.

Os cobiçosos e agressivos líderes do Norte, inspirados sempre no cálculo aritmético, possuídos pela ambição de erigir a sua prosperidade sobre a base do espólio dos povos do Sul, não podiam tolerar a concretização do plano estratégico de Bolívar no Congresso do Panamá que contemplava a formação de uma liga perpétua das nações antes colónias espanholas, presidida por uma autoridade política permanente, com um exército unificado concebido para a defesa e para a campanha de libertação das ilhas de Cuba e Porto Rico, consideradas por Washington como apêndices do seu espaço continental. Mortificava-os a ideia do Libertador de tornar efectiva a cidadania hispano-americana entre povos irmãos, o estabelecimento de um pode político inimigo da escravidão e, sobretudo, o propósito de impulsionar um regime de comércio preferencial que fizesse prevalecer a cláusula de nação mais favorecida para as repúblicas irmãs coligadas.

Todas estas medidas pensadas pelo Libertador Simón Bolívar para preservar a independência e a dignidade das nações hispano-americanas interpunham-se como fortificação inexpugnável frente às insólitas pretensões do Destino Manifesto, embuste inventado pelos fundadores do império para auto-legitimar a espoliação.

Por isso transmitiram aos seus ministros na Colômbia, México e Peru a instrução perversa de estimular as rivalidades entre nossas repúblicas, o espírito chauvinista, desencadear a espionagem, a conspiração e a intriga, minar o prestígio do Libertador e por isso Bolívar é alvo dos seus ataques furibundos.

Eliminar a figura política do Libertador, sua poderosa influência na América Latina, foi a sua obsessão até causar a sua morte física e o eclipse transitório do seu projecto político e social.

Todas as desgraças e misérias da Nossa América têm essa origem. "Os Estados Unidos parecem destinados pela providência a praguejar a América de misérias em nome da Liberdade", havia profetizado Simón Bolívar.

A revolução ficou truncada, inconclusa desde 1830 pela acção predadora da matilha de excludentes crioulos açulada e comandada pelo governo de Washington.

"Toda revolução – dizia o Libertador – tem três etapas: a guerreira, a reformadora e a de organização. A primeira etapa pertence ao passado; foi obra dos soldados. A segunda fizemo-la com o Congresso de Cúcuta e o governo de Bogotá. A terceira, a de organização, vou abordá-la no Panamá".

Este é exactamente o ponto de partida para retomar a obra da independência e da revolução. A 200 anos de iniciada a gesta independentista o projecto de Bolívar continua a estar assombrosamente válido, como se houvesse sido concebido para os tempos de hoje. O povo que pode, o povo que constrói, tem a palavra. E agora Bolívar é o próprio povo a empunhar a sua espada com a irredutível determinação de lutar pela concretização do seu grande sonho.

Mas só o grito de independência não é suficiente; ficou demonstrado na explosão simultânea de gritos que estremeceram o continente Sul, afogados rapidamente pelas sanguinárias forças punitivas da coroa. Nenhum povo pode alcançar a sua liberdade se não tiver uma força própria. Desta vez o novo grito de independência deve ser o grito de todos, o grito dos excluídos reforçado com a mobilização resoluta, com a luta multiforme, com as armas da unidade, da inteligência e da força. É a hora dos povos. Foram eles que combateram e combatem, os que contribuíram e contribuirão com milhares de heróis estelares e anónimos. Foi o povo a força viva do exército bolivariano que derrotou o regime colonial na América do Sul e será protagonista do triunfo inevitável da revolução política e social.

Há uma espiral que ascende rumo à liberdade. A luta dos patriotas do século XIX tem um fio condutor, uma articulação, com a dos patriotas do século XXI. Aqueles desenvolveram a sua luta num agitado contexto de crise do mundo colonial. Consolidava-se, sim, o sistema capitalista com o saqueio e a escravidão de povos, mas ao mesmo tempo a invasão napoleónica da Espanha estimulava na América hispânica a ruptura radical com o regime colonial. A luta dos patriotas do século XXI pela independência definitiva não só está ligada à derrota do sistema capitalista e da dominação imperial como exige a superação desse sistema decadente e a inauguração de uma nova era justiceira: a do socialismo e da Pátria Grande. A actual crise estrutural do capitalismo é o toque de clarim que anuncia ao povo que chegou o momento de lançar-se à batalha definitiva pela emancipação.

A preocupação de Washington é Simón Bolívar ainda vivo e palpitante na ânsia justiceira dos povos, a vigência do seu pensamento, do seu projecto político e social, o reencontro dos excluídos com a história verdadeira que lhe diz que foram eles, sua dignidade, o objecto principal do projecto originário de nação.

Como vislumbram na consciência dos povos um obstáculo à espoliação, recorrem à força e à instalação do poderio da sua tecnologia militar para negar pela violência ou a dissuasão o que exigem o sentido comum e a justiça. Não nascemos para sermos vassalos de ninguém, nem pátio traseiro de nenhuma potência. A América do Sul pertence-nos porque nascemos nela. Temos direito à dignidade humana e a construir o modelo de sociedade que faça a nossa felicidade.

Que importa que os Estados Unidos instalem estrategicamente suas bases militares no Caribe e no continente se estamos resolvidos a ser livres? Como diria Bolívar na efervescência independentista da Sociedade Patriótica: "ponhamos sem temor a pedra fundamental da liberdade sul-americana; vacilar é sucumbir".

Oponhamos um escudo de dignidade latino-americana e caribenha às incessantes agressões e desrespeitos do monstro do Norte, forjado este escudo no mais duro e resistente aço da unidade. "Porque a divisão é o que nos está matando", devemos destruí-la. A dispersão e a ausência de unidade foram o que interpôs o tremendo abismo que nos separa do nosso destino de Grande Nação, de potência de humanidade e liberdade. Rompamos as cadeias mentais e culturais que agrilhoam a consciência colectiva. Nosso dever é não ouvir o escravizante canto de sereia do império e escutar a palavra amorosa do pai e Libertador, que nos diz: "unidos seremos fortes e mereceremos respeito; divididos e isolados, pereceremos". A unidade é a nossa força e a nossa esperança.

Recusemos com decoro pátrio as bases e instalações operativas da avançada do exército dos Estados Unidos na Colômbia. Castiguemos com o repúdio colectivo os governantes vassalos, de colónia, que permitiram o ultraje e que cederam o território como base de agressão ianque contra os povos do continente; os apátridas que ajoelharam durante 200 anos a nossa dignidade perante a águia imperial e que cravaram a adaga da política neoliberal e do Fundo Monetário Internacional no coração da Colômbia hemisférica; os desavergonhados peões do império que prestam seu sentimento escravo para atalhar em nome de Washington a incontível onda bolivariana que percorre o continente.

A marcha patriótica bicentenária está em movimento. Como dizia Bolívar: "o impulso da revolução está dado, já nada o pode conter (...) O exemplo da liberdade é sedutor, e o da liberdade interna é imperioso e arrebatador (...) Devemos triunfar pelo caminho da revolução e não por outro (...) A lei da repartição de bens é para toda Colômbia".

A mobilização de povo começou. Já estamos na batalha. Com a espada do Grande Herói triunfará a independência definitiva, a Pátria Grande e o Socialismo.

Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 15 de Julho de 2010
Ano bicentenário do grito de independência

O original, em castelhano encontra-se em Resumen Latinoamericano , Nº 2236

Este comunicado encontra-se em Resistir.info