A “parceria trans-Pacífico”
inventada pelos EUA é um saco sem fim de desgraças
17/7/2013, Jared Metzker, Asia Times Online
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
No
Brasil, nos desgovernos TUCANOS da PRIVATARIA
O
Brasil não aproveitou o período de transição de 10 anos que foi dado pela OMC
para reconhecer patentes na área de medicamentos. Este período foi oferecido aos
países em desenvolvimento que não reconheciam patentes nesta área. Uma das
principais vantagens desse período seria permitir o fortalecimento dos
laboratórios nacionais para enfrentar a concorrência com as empresas
transnacionais de medicamentos intensivas em Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D).
O
Brasil utilizou o período de transição por menos de dois anos, tendo alterado
sua lei em 1996, com aplicação a partir de maio de 1997.
Além
disso, a legislação brasileira deixou de adotar algumas das flexibilidades
permitidas pelo TRIPS e, em alguns aspectos, foi além das restrições requeridas
pelo Acordo.
Desde
então, diferentes desafios surgiram para a manutenção da política de acesso
universal a medicamentos. O maior desses desafios foi o aumento no custo do
tratamento devido à utilização de novos medicamentos sujeitos à proteção
patentária e não produzidos nacionalmente. Esses novos medicamentos foram sendo
recomendados pelo consenso terapêutico para substituir ou complementar
protocolos de tratamento anteriores. Além disso, houve também um aumento do
número de pacientes em tratamento.
Arthur Stamoulis |
WASHINGTON.
Com nova rodada de conversações para construir uma grande área de livre
comércio, chamada Parceria Trans-Pacífico [orig. Trans-Pacific Partnership
(TPP)], em andamento essa semana, os EUA tentam coagir vários países em
desenvolvimento a aceitar regras que, para os críticos, tornarão ainda mais
difícil o acesso dos cidadãos aos remédios industrializados.
“É
grande a nossa preocupação com os remédios e com o fato de que a Parceria
Trans-Pacífico elevará o custo do atendimento público à saúde em todos os países
envolvidos” – disse Arthur Stamoulis, presidente da Campanha Comércio Cidadão
[orig. Citizens Trade Campaign], organização civil que tem sede em
Washington e defende regras democráticas para o comércio.
Na
2ª-feira, quando as conversações para construir a Parceria Trans-Pacífico
entraram na 18ª rodada, a organização humanitária “Médicos Sem Fronteiras”
(MSF), conclamou os negociadores participantes daqueles encontros a “remover
todos os termos e cláusulas que (a) visem a impedir que as pessoas tenham acesso
a remédios a preços mais baratos; que (b) tentem bloquear a produção de remédios
chamados “genéricos”; e que visem a limitar a capacidade dos governos para
aprovar leis cujo principal objetivo seja defender o atendimento público à
saúde”.
As
negociações para construir esse grande acordo comercial conhecido como “Parceria
Trans-Pacífico”, que começaram oficialmente em 2010, realizam-se agora na
Malásia. Participam dessas reuniões, dentre outros países, EUA, Austrália, Nova
Zelândia, Chile, Peru, Brunei, Cingapura, Malásia, Vietnã, Canadá e México. O
Japão deve integrar-se ao grupo no final da atual jornada de negociações, e
outros países já manifestaram interesse em assinar o acordo que resultará das
conversações em andamento.
O
Representante do Gabinete de Comércio dos EUA [orig. Office of the United
States Trade Representative] disse que o objetivo do acordo é “reforçar o
comércio e o investimento entre os países parceiros da Parceria Trans-Pacífico,
promover a inovação, o crescimento econômico e o desenvolvimento e apoiar a
criação e a retenção de empregos”.
Críticos
desse acordo alertam, já há muito tempo, que os EUA trabalham exclusivamente
para impor condições onerosas em todos os acordos. Muitos têm protestado também
contra o fato de que todas as negociações para construir essa parceira são
realizadas sem divulgação, praticamente em segredo; e que não há qualquer
acompanhamento, sequer, pelo Congresso dos EUA.
Apesar
de algumas medidas sobre propriedade intelectual propostas pelos EUA terem o
objetivo, pelo menos formal, de promover a inovação, os Médicos Sem Fronteiras
observam que as mesmas medidas podem ampliar monopólios já existentes derivados
da propriedade de patentes que pertencem hoje a empresas farmacêuticas que
vendem remédios em todo o mundo. Significa que a nova ‘'parceria'’ – que é, de
fato, um conjunto de acordos de comércio internacional – poderá impor prazos
mais longos para que produtos “genéricos” mais baratos cheguem aos consumidores
de baixa renda, exatamente onde é maior a luta para atender necessidades básicas
dos cidadãos.
Além
disso, ao limitar a atividade de fornecedores asiáticos de produtos
farmacológicos genéricos, o efeito de regras a serem introduzidas pelos países
membros da Parceria Trans-Pacífico acabará por reverberar também em países não
envolvidos naqueles acordos comerciais.
Judit Rius Sanjuan |
“Vários países asiáticos têm papel
criticamente importante no fornecimento de produtos farmacológicos genéricos e
de ingredientes farmacológicos ativos indispensáveis para a produção de vários
remédios. A Parceria Trans-Pacífico visa a impedir que esses países negociem
livremente com produtores de remédios que não estejam no fechado círculo das
grandes empresas farmacêuticas norte-americanas” – diz Judit Rius Sanjuan,
coordenadora da Campanha “Acessa”, dos Médicos Sem Fronteiras. – “Os tratados
que estão sendo negociados agora, nessa Parceria Trans-Pacífico ameaçam a
existência dos remédios chamados “genéricos” vendidos a baixos acessíveis, que
se vendem ainda em todo o mundo. Essa violência terá consequências terríveis
para pacientes, estruturas de atendimento público à saúde e empresas produtoras
de remédios nos países em desenvolvimento”. [1]
Os
acordos agora propostos, em 2013, podem facilitar o processo de
evergreening [ap. “renovação automática” (NTs)] das patentes que hoje
pertencem a grandes empresas farmacêuticas. Esse termo aplica-se a várias
manobras legais que, quando bem-sucedidas, garantem a perpetuação das patentes e
levam ao monopólio de fato, com patentes que continuam válidas mesmo
depois de decorridos os 20 anos de prazo legal de propriedade.
A
imposição que agora se articula, de novos tipos de restrições para proteção das
patentes sobre remédios e produtos farmacêuticos, soma esforços na luta contra
vários acordos internacionais prévios e leis nacionais aprovadas em vários
países, acordos e leis que viabilizam a produção de remédios genéricos e contra
as quais os EUA posicionam-se já há muito tempo.
Qualquer
restrição de acesso a esses remédios afetarão também os objetivos de saúde
global dos EUA. Os chamados “genéricos” são 98% dos remédios usados pelo
programa PEPFAR, principal programa de combate ao HIV/AIDS nos EUA e o maior
programa do mundo.
Para
os Médicos Sem Fronteiras, a prática de renovação/perpetuação [orig.
evergreening] das patentes proprietárias é “abusiva”. Além disso, sob a
fachada de um acordo de livre comércio, todos os países signatários dos acordos
comprometer-se-ão a adaptar suas leis; e o padrão que os EUA imporão a todos já
é claro: para auferir as vantagens dos acordos, todos os países terão de tornar
mais simples os procedimentos para renovar/perpetuar patentes de remédios.
A
“parceria” tem pressa!
Para
o governo do presidente Barack Obama, é importante que as negociações para
construir a Parceria Trans-Pacífico sejam concluídas com urgência, no máximo até
o próximo outono. Observadores já sugeriram que, com as negociações concluídas
rapidamente pode-se esperar que países que rejeitariam os novos acordos, se
tiverem tempo para informar-se e discuti-los, muito provavelmente os aceitarão.
“Vários
negociadores têm repetido que está aumentando a pressão para que o acordo esteja
concluído até outubro” – disse Sanjuan a repórteres de Interpress Service,
durante a rodada passada de negociações. – “E muitos temem que, se não houver
tempo para discussões mais aprofundadas, prevalecerá a decisão de modificar
também as leis de proteção nacional atualmente vigentes”.
A
mesma observadora disse também que as negociações são praticamente secretas, sem
nenhum contato ou contribuição da sociedade civil. Sua própria equipe só soube
da discussão sobre cláusulas de propriedade intelectual e acesso a remédios
porque um capítulo do documento que está sendo discutido foi vazado.
Grupos
militantes da sociedade e a imprensa praticamente não têm qualquer ocasião para
manter contato com os negociadores. O pouco que se sabe é obtido em reuniões
chamadas “conferências de interessados”, quando se admite que alguns grupos
apresentem seus projetos a alguns dos negociadores e número ainda menor de
organizações, muito seletas, mantenham contato direto com eles.
Recentemente,
nossa organização Interpress Service pôde participar de uma dessas “conferências
de interessados” sobre o acordo de livre comércio proposto pelos EUA, durante a
qual vários delegados repetiram que só estavam autorizados a discutir em público
uma pequena parte dos itens. Essa falta de transparência está sendo interpretada
como indicação de que o acordo para construir a Parceria Trans-Pacífico não está
sendo negociada com vistas a preservar o interesse público. Como já se sabe, a
ampla maioria dos que tem acesso àquelas reuniões de negociação são
representantes de empresas-gigantes.
“Já
se sabe com certeza que a Parceria Trans-Pacífico não está sendo construída com
vistas a atender os interesses dos pequenos comerciantes e dos trabalhadores” –
Disse Stamoulis, da Campanha Comércio Cidadão. E sugeriu fortemente que tudo
está organizado para atender aos interesses de “um pequeno punhado de empresas
poderosíssimas”.
Stamoulis
também registrou a crescente pressão sobre os negociadores, para que tudo esteja
concluído e assinado até o final do ano. “Estão claramente trabalhando
apressadamente. Quanto a isso não há dúvida alguma” – disse ele.
Sanjuan
recomenda que as organizações que trabalham para defender os interesses dos
demais países e dos trabalhadores mais pobres nos vários países ponham-se também
em campo, com a mesma urgência dos que se organizam para impedir que os mais
pobres tenham ou continuem a ter acesso a remédios mais baratos. “O momento para
negociar qualquer dos acordos incluídos na Parceria Trans-Pacífico é agora,
nessa rodada de negociações, antes que a pressão política aumente ainda mais, e
se assine um acordo que agredirá frontalmente os interesses da saúde pública”.
(InterPress Service)
Nota
dos tradutores
[1]
O
QUE ACONTECEU NO BRASIL nos anos TUCANOS da PRIVATARIA:
Ver/ler em: “Acesso
a medicamentos e propriedade intelectual no Brasil: reflexões e estratégias da
sociedade civil” ( a seguir EXCERTO).
“Como
visto, com a criação da OMC em 1994 e com a assinatura do Acordo TRIPS, todos os
países membros da Organização foram obrigados a alterar suas legislações
nacionais e reconhecer um padrão mínimo de proteção à propriedade intelectual em
todos os campos tecnológicos, inclusive o farmacêutico. No entanto, o Acordo
TRIPS concedeu prazo para que os países em desenvolvimento e países de menor
desenvolvimento relativo que não reconheciam patentes para alguns campos
tecnológicos – como produtos e processos farmacêuticos – passassem a fazê-lo.
Os
países em desenvolvimento teriam até 2005 para incorporar o padrão mínimo de
proteção em suas legislações internas e os países menos desenvolvidos teriam até
2016, conforme previsto na Declaração de Doha sobre o Acordo TRIPS e Saúde
Pública, assinada em 2001.
O
sistema de proteção patentária instituído pelo Acordo TRIPS possui como objetivo
a promoção da inovação tecnológica e a transferência e difusão de tecnologia, de
forma conducente ao bem-estar social e econômico (Artigo 7) e permite que os
Membros possam adotar medidas necessárias para proteger a saúde pública e para
promover o interesse público em setores de importância vital para seu
desenvolvimento econômico e tecnológico (Artigo 8).
Assim,
o Acordo TRIPS permite que os países membros incluam em suas legislações algumas
flexibilidades ou salvaguardas que possam garantir proteção para a saúde
pública. As principais flexibilidades previstas no Acordo TRIPS são: licença compulsória (Artigo 31º), importação paralela (Artigo 6º), uso experimental (Artigo 30º), exceção Bolar (Artigo 30º) e atuação do setor saúde nos processos de
pedidos de patentes farmacêuticas (implícita no Artigo 8º), que serão melhor
analisadas neste artigo.
No
Brasil, nos desgovernos TUCANOS da PRIVATARIA
No
entanto, o Brasil não aproveitou o período de transição de 10 anos que foi dado
pela OMC para reconhecer patentes na área de medicamentos. Este período foi
oferecido aos países em desenvolvimento que não reconheciam patentes nesta área.
Uma das principais vantagens desse período seria permitir o fortalecimento dos
laboratórios nacionais para enfrentar a concorrência com as empresas
transnacionais de medicamentos intensivas em Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D).
O
Brasil utilizou o período de transição por menos de dois anos, tendo alterado
sua lei em 1996, com aplicação a partir de maio de 1997.
Além
disso, a legislação brasileira deixou de adotar algumas das flexibilidades
permitidas pelo TRIPS e, em alguns aspectos, foi além das restrições requeridas
pelo Acordo.
Desde
então, diferentes desafios surgiram para a manutenção da política de acesso
universal a medicamentos. O maior desses desafios foi o aumento no custo do
tratamento devido à utilização de novos medicamentos sujeitos à proteção
patentária e não produzidos nacionalmente. Esses novos medicamentos foram sendo
recomendados pelo consenso terapêutico para substituir ou complementar
protocolos de tratamento anteriores. Além disso, houve também um aumento do
número de pacientes em tratamento”.
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