[*]
Raul Longo
MILICANALHAS |
Nos
anos 70 o então ditador Gen. Emílio Garrastazu Médici, compôs sua mais famosa
frase: “O país vai bem, mas o povo vai mal”.
Ao
exemplo da de outro ditador imposto pelas armas que sustentavam aquele regime, o
Gen. João Batista Figueiredo que afirmou preferir “... o cheiro dos cavalos ao
cheiro do povo”, a frase de Médici se tornou famosa pela impropriedade de
raciocínio a quem pretende governar uma nação.
Estupidez
é algo que sempre obtêm grande repercussão no Brasil e Médici se notabilizou
como tal por esta absurda afirmação. Quem mais concluiria ser possível um país
ir bem se o seu povo vai mal, além de um general brasileiro dos tempos da
ditadura militar?
Só
mesmo um jornalista como Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo, que para comentar
das manifestações de junho inverteu a idiotice proferida pelo general,
demonstrando que nesta frase a ordem das assertivas não disfarça a estupidez de
quem a profere, pois quem além de Rossi poderia afirmar que “O povo vai bem, mas
o país vai mal”?
O
que é um país para Clóvis Rossi ou para Garrastazu Médici? Como pode um povo ir
bem, se o país vai mal, ou vice-versa?
Médici |
Garrastazu
Médici também dizia que se sentia feliz por não ver, na época, o Brasil incluído
nos noticiários sobre os problemas mundiais. Outra estupidez grosseira, pois
enquanto os patrões da Folha de São Paulo do Clóvis Rossi emprestavam veículos
da empresa para a repressão política do governo de Médici, aqueles mesmos
repressores “suicidavam” todo jornalista que ousasse noticiar a realidade
brasileira, importunando as fantasias do ditador. Como aconteceu com Vlado
Herzog.
O
país não ia bem coisa alguma. O “Milagre Brasileiro” decantado pela grande mídia
da época logo se confirmou o que nunca deixou de ser: “O Inferno Brasileiro” que
levou a vida de milhares de jovens e trabalhadores, enterrou a nação em dívidas
externas e promoveu um dos maiores índices mundiais em pobreza e miséria.
Um
país só vai bem quando seu povo vai bem. Se o povo vai bem, evolução de serviços
prestados à população, da infraestrutura para melhorar a qualidade de vida, o
combate a corrupção e demais reajustes para permanente desenvolvimento social,
inclusive os políticos, serão consequências da maturidade nacional como um todo:
povo e país.
A
melhoria no atendimento à saúde da população já era uma providência anterior às
manifestações que apenas a legitimaram, derrubando a obstrução da contratação de
médicos estrangeiros proposta pelo governo porque o Brasil vai bem. Se o país
vai bem é possível ao governo estender e aperfeiçoar o atendimento de saúde a
todo o povo brasileiro, mesmo àqueles que não se enquadram nos interesses da
categoria formada aqui no Brasil. É o que ocorre com o Reino Unido. Se a crise
europeia perdurar e se aprofundar, o governo britânico não poderá mais manter os
40% de estrangeiros que compõem seu corpo médico. Se a Inglaterra for mal,
ingleses e irlandeses do norte também irão mal.
E
se o atendimento à saúde do brasileiro não melhora, é porque certos políticos se
portam mal tornando cada proposta em benefício da saúde da população uma
contenda congressual.
O
radical projeto do governo para o combate à corrupção, criminalizando-a ao nível
de homicídio por motivos fúteis ou estupro, foi formulado há dois anos
exatamente porque o Brasil está bem e a compreensão do brasileiro sobre o
problema melhorou muito desde o tempo em que corruptos eram eleitos sob o cínico
e falso axioma do “rouba, mas faz”. Se nenhum corrupto foi condenado por prática
de crime hediondo, é porque no congresso maus políticos sentaram em cima do
projeto do governo.
Esses
mesmos políticos são os que agora impedem o plebiscito proposto pela Presidenta.
Não querem o plebiscito para não permitir que o povo seja conscientizado de que
só o financiamento público de campanha eleitoral evitará maiores prejuízos à
população e ao país que resultam na ausência de evolução da infraestrutura, na
degradação dos serviços prestados à sociedade.
Por
exemplo, no que se refere à mobilidade urbana. Para se descobrir porque não se
expande e não moderniza, não apresenta novas e melhores opções, bastaria se
conhecer o quanto os monopólios de empresas de transporte coletivo investem nas
campanhas municipais, atrelando os prefeitos eleitos aos seus interesses em
detrimento aos dos eleitores.
E
os grupos políticos que impedem profundas e sensíveis melhorias no cotidiano do
brasileiro, que se esforçam para que o povo vá mal e com isso o país ir mal para
tornar a se locupletar entregando os potenciais nacionais pelo comissionamento
dos interesses estrangeiros, são exatamente os apoiados pela mídia.
Apoiados
pela Editora Abril, pelos veículos da Editora Globo e emissoras da Rede Globo,
pelo jornal O Estado de São de Paulo e pelo jornal Folha de São Paulo para o
qual escreve Clóvis Rossi. São apoiados por toda a grande mídia brasileira
associada ou afiliada a estas empresas que, com a melhoria da situação do país e
do povo na última década, vão mal. Muito mal.
Tão
mal que já começam a sonegar importâncias milionárias em impostos. Milionárias?
Somando-se as da Rede Globo e de sua afilhada RBS a dívida aos cofres públicos
alcança volume bilionário com o qual se poderia investir em melhorias na
infraestrutura do sistema de atendimento à saúde, ou no transporte e na
mobilidade urbana, em efetivos da Polícia Federal para combater a corrupção e
muito mais do que a vã e fútil cogitação do Clóvis Rossi e dos manifestantes de
junho possam imaginar.
Eduardo Guimarães |
Mas
se o país vai bem porque o povo vai bem e vice-versa, por que as gigantescas
manifestações de junho?
Quem
responde com muita propriedade, “mostrando a cobra e matando o pau”, é o
empresário Eduardo Guimarães. Leia-se atentamente
o que ele escreveu para entender porque esses manifestantes, em grande maioria
com idade por volta de 20 anos e sem possibilidade de memória de quando país e
povo iam mal antes de terem completado 10 de existência, tomaram as ruas dos
grandes centros do Brasil.
___________________-
[*] Raul Longo -
Nascido em 1951 na
cidade de São Paulo, atuou como redator publicitário e jornalista nas seguintes
capitais brasileiras: São Paulo, Salvador, Recife, Campo Grande e Rio de
Janeiro, também realizando eventos culturais e sociais como a “Mostra de Arte
Sulmatogrossense”, (Circulo Cultural Miguel de Cervantes/SP), “Mostra de Arte
Latinoamericana” (Centro Cultural Vergueiro/SP) e o Seminário Indigenista
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/CG). Premiado em concursos
literários nacionais promovidos pelo Unibanco, Rede Globo e Editora Abril; pelo
Circulo Cultural Miguel de Cervantes; e pelo governo do Estado do Paraná.
Publicou Filhos de Olorum – Contos e cantos de candomblé pela Cooeditora
de Curitiba, e poemas escritos durante estada no Chile: A cabeça de
Pinochet, pela Editora Metrópolis de São Paulo. Obteve montagem de duas
obras teatrais: Samba/Jazz of Gafifa, no teatro Glauce Rocha da
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande; e Graças &
glórias nacionais, no Centro Cultural Vergueiro, em São Paulo. Atualmente reside
em Florianópolis, Santa Catarina.
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