9/7/2013, Manlio Dinucci, Il Manifesto - L'ARTE DELLA
GUERRA
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Manlio Dinucci |
A
palavra começa com “g” de golpe [it. colpo, (NTs)] mas não pode ser dita em
voz alta: eis como a posição da Casa Branca sobre o golpe de estado no Egito é
descrita nos corredores de Washington. Condena a violência genérica,
manifestando preocupação com o “vácuo de poder” e surpresa ante os eventos.
Mas
funcionários do Pentágono nos asseguram que o secretário de Defesa, Chuck Hagel
sempre esteve em “contato próximo” com o general egípcio Abdel-Fattah al-Sisi. É
homem de confiança do Pentágono, o qual aperfeiçoou seus talentos na Academia de
Guerra dos EUA em Carlisle (Academia
Militar na Pennsylvania), ex-comandante da inteligência
militar, principal interlocutor de Israel, indicado pelo presidente Mursi há
menos de um ano, para o posto de comandante militar e ministro da Defesa.
Há
cinco meses, dia 11 de fevereiro, Sisi foi convocado pelo general James Mattis,
comandante do Comando Central dos EUA, cuja área inclui o Egito, porque tem
“influência estabilizadora no Oriente Médio”, sobretudo no confronto em Gaza. Na
agenda do encontro, (com a embaixadora dos EUA no Cairo, Anne Patterson,
presente), “a cooperação militar EUA-Egito”, no contexto da “instabilidade
política” no Cairo.
F-16 da Força Aérea Egípcia |
Ao
mesmo tempo, Washington havia anunciado o fornecimento de 20 jatos de combate
F-16 e 200 tanques M1A1 pesados (produzidos sob licença no Egito). Graças à
ajuda militar de $ 1,5 bilhão que os EUA garantem anualmente desde 1979
(inferior só à que Israel recebe), as forças armadas do Egito possuem a quarta
maior frota do mundo de jatos de combate F-16 (240) e a sétima, de tanques
(4.000). Os que estão usando essas e outras armas (inclusive o armamento
antitumultos fabricado nos EUA) são treinados pelo Pentágono, que a cada dois
anos envia 25 mil soldados ao Egito para exercício militar, “Bright Star”
[Estrela Brilhante].
Tanque M1A1 produzidos no Egito |
Assim
os EUA criaram sua principal alavanca de influência no Egito: uma casta militar
cujos altos escalões também têm poder econômico. Esses mantiveram o regime de
Mubarak durante 30 anos a serviço dos EUA, e também garantiram a “transição
ordeira e pacífica” que Obama desejava, quando um levante popular derrubou
Mubarak; os mesmos que também ajudaram na ascensão de Mohammed Mursi à
presidência, membro da Fraternidade Muçulmana, como meio para neutralizar as
forças seculares que estavam na posição de protagonistas do levante. Os mesmos
que, depois, depuseram Mohamed Mursi, quando seu governo provocou o levante da
oposição secular e dos jovens rebeldes do Movimento Tamarod.
Movimento Tamarod reunido na Praça Tahrir em 3/7/2013 |
A
outra alavanca da influência dos EUA no Egito é econômica. Desde que Mubarak pôs
em efeito as medidas de privatização e de desregulação que Washington queria e
abriu as portas às empresas norte-americanas transnacionais, o Egito, embora
grande exportador de óleo e gás natural e produtos acabados, acumulou uma dívida
externa de mais de US$ 35 bilhões. E, para pagar os juros de 1 bilhão de dólares
anuais, o Egito depende de “empréstimos” que lhe vêm dos EUA, do FMI e das
monarquias do Golfo.
Essa
dívida é uma corda no pescoço da maioria dos 85 milhões de egípcios, cerca de
metade dos quais vive em situação de miséria. Daí o impulso profundo da rebelião
e a luta por democracia política e econômica. O establishment militar até
aqui está conseguindo conter essa rebelião, apresentando-se, de tempos em
tempos, como “garantidores” do desejo popular. Assim se posicionam como
controladores de fato do poder que serve aos interesses de EUA e do ocidente em
geral.
O
levante egípcio só será verdadeira revolução quando as forças populares – todas,
seculares e religiosas – conseguirem romper esse vínculo neocolonial e abrir o
Egito a um futuro de independência e de progresso social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.