2/7/2013, Seumas Milne,
The Guardian, UK
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Seumas Milne |
Do
Egito ao Brasil, a ação nas ruas impulsiona a mudança, mas a organização é
essencial, ou a ação será sequestrada ou desarmada.
Dois
anos depois que os levantes árabes alimentaram uma onda de protestos e ocupações
em todo o mundo, as manifestações de massa voltaram ao cenário original, no
Egito. Assim como milhões de pessoas desafiaram repressão brutal em 2011 para
derrubar o ditador Hosni Mubarak apoiado pelo ocidente, milhões saem agora às
ruas de cidades egípcias, para exigir a saída do primeiro presidente jamais
eleito no Egito, Mohamed Mursi.
Como em 2011, a oposição é uma
aliança de esquerdas e direitas dominada pela classe média. Mas dessa vez os
islamistas estão do outro lado, e partidários do regime de Mubarak estão
envolvidos. A polícia, que atacou e matou manifestantes há dois anos, esse ano
manteve-se longe, enquanto manifestantes incendiavam escritórios da Irmandade
Muçulmana de Mursi. E o exército, que apoiou a
ditadura até o último momento antes de constituir uma junta, em 2011, agora
apoia com todas as suas forças a oposição.
Egito celebra a queda de Mohamed Mursi e da Irmandade Muçulmana |
Se o ultimato
do exército ao presidente converter-se em golpe total e
acabado, ou se vier uma mudança administrada do governo, nos dois casos o
exército – fartamente financiado e treinado pelo governo dos EUA e com pleno
controle sobre vários interesses comerciais – voltou a assumir as rédeas. E
muitos autoproclamados revolucionários, que antes denunciaram Mursi por
render-se aos militares, agora festejam os mesmos militares. Se se considera o
que ensina a experiência passada, logo estarão lamentando.
É
claro que não faltam aos manifestantes motivos de queixa contra o governo de um
ano, de Mursi: desde o estado calamitoso da economia, a islamização
constitucional e a tomada do poder institucional, ao fato de que não rompeu com
as políticas neoliberais de Mubarak e tudo que fez para satisfazer o poder de
EUA e Israel.
Mas
fato é que, por muito incompetente que o governo Mursi tenha sido, muitos dos
controles cruciais do poder – do aparato judicial e a polícia, até as forças
armadas e a imprensa-empresa – continuam como sempre estiveram em mãos das
elites do antigo regime. Essas elites veem declaradamente os Irmãos Muçulmanos
como intrusos, intrometidos, cujos dirigentes devem voltar à cadeia o mais
rapidamente possível.
Essa
gente é que, agora, está aliada com forças da oposição que realmente querem que
a revolução egípcia alcance, pelo menos, uma conclusão democrática. Se Mursi e a
Irmandade Muçulmana estão sendo derrubados do poder, é difícil imaginar que
gente desse tipo rompa com a ortodoxia neoliberal ou afirme a independência
nacional, como querem a maioria dos egípcios. O mais provável é que os
islamistas, também com apoio massivo, resistam contra um movimento que lhes nega
o mandato que obtiveram nas urnas, o que lançará o Egito num conflito mais
grave.
Manifetantes na Praça Taksim, ao fundo o Parque Gezi, em Istambul - Turquia |
A mais recente irrupção no Egito
aconteceu imediatamente depois de protestos massivos na Turquia e no Brasil (e
de agitação menor na Bulgária e na Indonésia). Nenhuma dessas
refletiu a luta generalizada pelo poder no Egito, mesmo que alguns manifestantes
na Turquia tenham exigido a saída do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdoğan. Mas
ecos significativos destacam tanto o poder como a fragilidade de manifestações
relâmpago, como essa, de cólera popular.
No
caso da Turquia, o que começou como um protesto contra a remodelação do Parque
Gezi de Istambul converteu-se rapidamente em manifestações massivas contra o
governo islamista cada vez mais feroz. Uniu nacionalistas turcos e curdos,
liberais e esquerdistas, socialistas e defensores do livre mercado. A
abrangência foi uma força, mas a natureza díspar das demandas dos manifestantes
provavelmente enfraquecerá seu impacto político.
No
Brasil, as manifestações massivas contra um aumento dos preços do transporte
público converteram-se em protestos mais amplos contra serviços públicos de má
qualidade e o custo exorbitante da Copa do Mundo de 2014. Como na Turquia e no
Egito, jovens de classe média e despolitizados apareceram à frente e rechaçou-se
a participação de partidos políticos, ao mesmo tempo em que grupos e empresas
jornalísticas e de televisão tratavam de desviar o sentido da manifestação,
afastando qualquer reflexão sobre a desigualdade, e introduzindo demandas por
menos impostos e contra a corrupção.
Protestos no Rio de Janeiro em junho/2013 |
O governo de centro-esquerda do
Brasil tirou da pobreza milhões de pessoas, e as manifestações foram estimuladas
por expectativas crescentes. Mas, diferente de outros governos
latino-americanos, o governo de Lula nunca rompeu com a ortodoxia neoliberal ou
atacou qualquer interesse da elite rica. Sua sucessora Dilma
Rousseff –
que respondeu aos protestos prometendo maiores investimentos em transporte,
saúde e educação, e um plebiscito sobre a reforma política – tem agora uma
possibilidade de alterar o quadro que herdou.
Apesar
das diferenças, os três movimentos têm impressionantes traços comuns. Combinam
grupos políticos amplamente divergentes e demandas contraditórias, ao lado de
gente despolitizada, e não têm qualquer base coerente de organização. Pode até
ser vantagem, no caso de campanhas de um só tema, mas pode levar a uma
superficialização, de pouca duração, no caso de objetivos mais ambiciosos –
destino que parece ter sido o do movimento Occupy.
Todos eles, sem dúvida, foram
fortemente influenciados e modelados pelas redes
sociais e as
redes espontâneas que favorecem e fomentam. Mas há muitos precedentes
históricos, de protestos semelhantes de poder popular, e lições importantes de
por que, frequentemente, são desbaratados ou levam a resultados muito diferentes
dos esperados pelos protagonistas.
Barricadas de La Madelaine - Paris, 1848 |
Os precedentes mais óbvios são as
revoluções
europeias de 1848, que também foram dirigidas por
reformadores de classe média e traziam a promessa de uma primavera democrática,
mas praticamente entraram em colapso em um ano. Imediatamente
depois do tumultuoso levante de Paris de 1968, veio uma vitória eleitoral da
direita francesa. Os que marcharam pelo socialismo democrático em Berlin
Ocidental em 1989 levaram à privatização e a desemprego em massa. As revoluções
“coloridas” da década passada, patrocinadas pelo ocidente, usaram os
manifestantes para uma encenação, com transferência do poder a oligarcas e
elites privilegiadas.
Os movimentos
dos indignados contra a austeridade na Espanha
foram impotentes para impedir a volta da direita e o tombo numa austeridade
ainda mais profunda.
Na
era do neoliberalismo, quando a elite governante esvaziou a democracia e
demonstra que, não importa em quem se vota, o resultado nunca muda, tendem a
prosperar movimentos incipientes de protesto. Trazem potências cruciais: podem
mudar o estado de ânimo, desfazer políticas e derrubar governos. Mas, sem uma
organização enraizada na sociedade e que tenha objetivos políticos claros, podem
perder-se e fracassar, ou são muito vulneráveis a sequestros e desvios, pela
ação de forças mais arraigadas e mais poderosas.
O
mesmo se pode dizer de revoluções, e é o que parece estar acontecendo no Egito.
Muitos ativistas entendem que os partidos e movimentos políticos tradicionais
seriam supérfluos na era da Internet. Mas esse é argumento para que se criem
novas formas de organização política e social. Sem isso, as elites conservarão o
controle e o poder, por mais espetaculares que sejam os
protestos.
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ResponderExcluirI -
PLEBISCITO/FINANCIAMENTO ???
Então!!!
Temos que , primeiro , decidir que tipo de Governo é o nosso ...
República ou Reinado ;Presidente ou Rei ; Democracia ou Monarquia, Presidencialismo ou Realeza ...
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As Monarquias de alhures – outros Reinados – são menos complexas que aS nossaS, isso mesmo, nós temos MONARQUIASSS !
1º - As outras Monarquias têm um Monarca só, nós temos vários; Exemplo :Os Políticos ; os Empresários – bancos e construtoras -; os Milicos; o STF e a mídia PIC/PIG.
II -
José Sarney (60 anos no Poder), Renan Calheiros (50 anos no Poder), ACM (70 anos no Poder), Maluf (60 anos no Poder), Lobão (60 anos no Poder), Alves ( 80 anos no Poder), Maias (70 anos no Poder), Vilelas (70 anos no Poder), Bornhausens (70 anos no Poder), Dias (70 anos no Poder) , Requiões ( 40 anos no Poder), Jereissatis (70 anos no Poder), Cabral (70 anos no Poder), Campos (70 anos no Poder),Collors (80 anos no Poder) Neves (70 anos no Poder).
2º - Nas Monarquias oficiais têm um só que manda, aqui temos vários...
3º - Nelas só tem um herdeiro, aqui temos vários – vejam os descendentes dos políticos e dos outros , acima citados, já sendo Governadores, Senadores, Deputados, Prefeitos , Vereadores, Juízes, Milicos, etc., etc., etc. e etc...-
4º - Lá , os Reis têm paciência, compostura e ética, aqui são AÇODADOS, DESCARADOS e CORRUPTOS.
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ResponderExcluirREVOLUÇÃO PELO VOTO.
VOTO , ARMA PODEROSÍSSIMA, VERDADEIRA BOMBA ATÔMICA!!!
O que resolve o Brasil é a REVOLUÇÃO pelo VOTO.
Já fomos às Ruas várias vezes neste País, queda do Getúlio, queda do Jango, queda do Jânio, ditadura de 64, diretas já,morte de Tancredo, queda do Collor e nada mudou !!!
Sabe por que ? Porque continuamos votando na mesma QUADRILHA, em seus descendentes, ou indicados que comanda nosso País há 60,70,80 anos seguidos...
Na esfera Federal – senado, câmara , vices , suplentes, parentes e aderentes - são, aproximadamente, mil políticos profissionais a espera de uma “ Bocada “ ; você depõe um(a) tem mais 999 esperando a “Boca”.
Isso – deposição - só traz INSTABILIDADE POLÍTICO/INSTITUCIONAL para a NAÇÃO. Não é bom para o País e nem para a POPULAÇÃO, ter suas Instituições inseguras...
Então, O CAMINHO É A REVOLUÇÃO PELO VOTO...
NA PRÓXIMA ELEIÇÃO, NÃO VOTAR EM POLÍTICOS PROFISSIONAIS E JÁ ELEITOS UMA VEZ , OU MAIS VEZES – não repetir a dose -.
Temos que RENOVAR esse estoque de LADRÕES que estão no PODER há 20,30,40 anos e que assaltam, CONSTANTEMENTE, o BRASIL...
Não adianta você ir às Ruas como um LEÃO e, como um ASNO votar, na Eleição ...