O
presidente Evo Morales desembarcou na Áustria cercado pela
polícia
Publicado
em 04/07/2013 por Urariano
Motta
[*]
Recife
(PE) - Os
últimos acontecimentos na política internacional trazem uma luz didática para
todas as pessoas que acreditam na liberdade e democracia do capitalismo. O mundo
do capital, mais conhecido em propaganda e livros didáticos como o sistema de
“livre mercado”, recebeu nestes dias uma clareza de desmonte.
Para
situar os fatos nos últimos 30 dias, primeiro Edward Snowden, um ex-técnico da
CIA, revelou para todo o planeta que o governo dos Estados Unidos espiona a vida
íntima, pessoal de cidadãos não só no território norte-americano.
Se
ficasse somente entre os governados por Obama, a espionagem já seria um
escândalo, uma prova hard e real do
imaginado pelo escritor George Orwell, quando profetizou a existência do Big
Brother. Mas o revelado pelo funcionário da CIA foi mais longe.
Diplomatas
e governos da União Europeia são também espionados.
E
mais: todos somos rastreados nos telefones celulares e nas informações da
internet que passem pelo Google, Apple e o Facebook.
E-mails, fotos e
outros arquivos dos usuários em todo o mundo são aprisionados. O que é uma
realização dos evangelhos: nada escapa aos olhos de
Deus.
Depois
veio o que nos atinge mais direto na carne.
Presidente Evo Morales foi recebido com festa em Cochabamba |
Evo
Morales, soberano presidente da soberana Bolívia, depois de uma visita a Moscou,
foi proibido de passar pelo espaço aéreo de Portugal, França, Espanha e Itália.
Isso porque havia a suspeita de que o avião presidencial transportasse, também,
Edward Snowden.
Notem
até onde vai o adeus às ilusões de liberdade, democracia e respeito à soberania
dos povos.
As
nações europeias, elas próprias espionadas, obedeceram à ordem da segurança do
governo de Obama. Por hipótese ou suspeita, um chefe de Estado foi impedido de
sobrevoar espaço aéreo de país amigo, sem qualquer declaração de guerra.
O
espaço era livre, pensava Evo Morales ao sair de Moscou. Mas ficou provado que o
céu não é do condor. É dos Estados Unidos.
Chris Sabatini "USA Sparring" |
Mas
para o diretor de Políticas do Conselho das Américas – uma organização
empresarial que produz análises e estudos sobre a América Latina – Christopher
Sabatini, a questão é bem mais simples.
Olhem
o que falou para a BBC Brasil:
Parceria
é uma via de duas mãos. Para um país ser tratado com respeito, precisa respeitar
as prerrogativas de segurança nacional de outro.
Entendem?
Para Christopher Lee, digo, Sabatini, o presidente Evo Morales foi desrespeitado
porque não teria respeitado a segurança dos Estados Unidos. Notem que a frase
“respeitar as prerrogativas de segurança nacional de outro" não tem o mesmo
significado para todos os países do mundo. Pois o analista quer dizer: a
segurança nacional do outro é sempre a segurança dos Estados Unidos.
Ou
seja, no caso da Bolívia, o presidente Evo Morales pôde sofrer riscos à própria
vida, mas não estava no uso da segurança nacional. Com pouco combustível no
avião, passou pelo sufoco de um bloqueio do espaço aéreo no céu e por
constrangimentos que são insuportáveis até mesmo para passageiros comuns. Ele
teve que pousar em Viena, onde ficou 14 horas, até que sua rota fosse enfim
autorizada. E depois, reabasteceu o avião no Brasil, na bela cidade de
Fortaleza.
A nota
oficial da presidenta Dilma foi a mais dura dos países
sul-americanos:
...
O noticiado pretexto dessa atitude inaceitável - a suposta presença de Edward
Snowden no avião do Presidente - além de fantasiosa, é grave desrespeito ao
Direito e às práticas internacionais e às normas civilizadas de convivência
entre as nações. Acarretou, o que é mais grave, risco de vida para o dirigente
boliviano e seus colaboradores.
Causa
surpresa e espanto que a postura de certos governos europeus tenha sido adotada
ao mesmo momento em que alguns desses mesmos governos denunciavam a espionagem
de seus funcionários por parte dos Estados Unidos, chegando a afirmar que essas
ações comprometiam um futuro acordo comercial entre este país e a União
Europeia.
De
passagem, vale destacar que o tempo da reação de nossa presidenta contra a
agressão a Evo Morales, a demora do governo brasileiro em responder, não foi o
que desejam os críticos mais sectários à esquerda, que são ótimos governantes em
palavras e desejos. Mas para o colunista, importantes são a natureza da
declaração e o peso que a economia mais poderosa da América Latina joga contra
esse insulto a uma nação irmã.
E
do meu canto concluo: importa mais a retirada da máscara de um mundo livre sob
os Estados Unidos. Nestes últimos 30 dias, ficou demonstrado que o céu não é do
condor.
_________________________
Enviado por Direto
da Redação
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.