25/4/2014, [*] Caleb Maupin, Russia Today,
Traduzido peloo pessoal da Vila Vudu
O mais
provável é que, em 2014, Bashar al-Assad seja reeleito presidente da República
Árabe Síria. A história síria o recordará para sempre, como governante civilizado
e herói do seu povo.
(14/9/2013, redecastorphoto: “Uma
breve história da guerra dos EUA contra a Síria: 2006-2014”, Moon of
Alabama, traduzido)
Membro da Defesa Civil e residente afastam-se de local bombardeado por terroristas - Aleppo, Distrito de al-Shaar em 24/4/2014 (foto: Hosam Katan) |
A Síria terá
eleições presidenciais dia 3 de junho. A imprensa-empresa ocidental “midiática”
zomba da ideia de haver eleições em tempo de guerra civil que já fez mais de
100 mil vítimas, entre mortos e refugiados.
Toda a
imprensa-empresa já se prepara para pôr-se a tentar desqualificar o resultado –
que, como tantos sírios desejam e esperam, mostrará Bashar al-Assad reeleito.
Curioso, nisso,
é que tantos jornalistas e “especialistas” midiáticos norte-americanos esqueçam
parte tão importante da própria história dos EUA.
Há 150 anos,
em 1864, os EUA fizeram uma eleição presidencial, apesar de estarem
mergulhados, há três anos, numa muito sangrenta guerra civil.
Abraham Lincoln |
Abraham
Lincoln governava os EUA e enfrentava batalha cruel contra uma insurgência
armada interna. Lincoln, membro do recém constituído Partido Republicano, fora
eleito com plataforma em que se comprometia a conter e pôr fim à expansão da
escravidão. Em 1861, os ricos proprietários de escravos do sul dos EUA
armaram-se em guerra contra o governo federal, na esperança de preservarem para
eles o direito de propriedade sobre milhões de escravos que consideravam
“propriedade privada” deles.
No processo
da guerra, Lincoln foi forçado a relutantemente abolir a escravatura, primeiro
com a Proclamação de Emancipação, depois com Emendas à Constituição dos EUA. A
Guerra Civil foi, realmente, a Segunda Revolução Americana, que mudou
completamente o contexto econômico dos EUA. Os capitalistas industriais dos EUA
do Norte, com apoio de sindicatos, bem amados guerrilheiros antiescravidão como
Frederick Douglas, e escravos rebeldes armados como Harriet Tubman, esmagaram a
escravocracia dos EUA do Sul. No processo, foram mortos 750 mil soldados, e o
número de civis norte-americanos mortos não é conhecido até hoje.
Os dois lados
acusaram-se mutuamente de brutais crimes de guerra – os EUA do Norte usaram até
a fome, como arma, contra os EUA do Sul – tortura e assassinato de civis.
Enquanto a
maioria dos EUA do Norte apoiava o governo eleito de Lincoln na luta contra a
Confederação dos Proprietários de Escravos dos EUA do Sul, a cidade de New York abrigava um poderoso núcleo de
militantes pró-escravatura, porque Wall
Street, até hoje centro do sistema capitalista mundial, estava fazendo
milhões de dólares com as empresas financeiras do comércio escravista. E muitos
ricos capitalistas britânicos e conhecidos políticos, como William Gladstone,
também apoiavam os insurgentes pró-escravatura dos EUA do Norte. As indústrias
britânicas viam as fazendas do sul, movidas à mão de obra escrava, como
importantes fornecedoras de algodão barato e de outras matérias primas.
Karl Marx |
Na cidade de New York, o jornal mais popular, do
Partido Republicano, era o The New York Tribune. O correspondente em
Londres, da Tribune, era Karl Marx, autor do Manifesto Comunista e
líder da Associação Internacional de Trabalhadores. Karl
Marx escreveu carta a Lincoln, em nome da Associação Internacional de
Trabalhadores, entregue ao embaixador dos EUA em Londres, Charles Francis
Adams, dia 28/1/1865:
Os trabalhadores europeus têm certeza de que,
assim como a Guerra da Independência Americana iniciou uma nova era de ascensão
para a classe média, o mesmo fará a Guerra Americana contra a Escravidão, pelas
classes trabalhadoras. Consideram um trunfo da Guerra Americana contra a
Escravidão, que tenha cabido a Abraham Lincoln, filho dedicado da classe
trabalhadora, conduzir seu país ao longo dessa guerra terrível, até o resgate
da raça acorrentada e a reconstrução de um mundo social. (trecho
traduzido)
Os jovens que
se alistavam no exército dos EUA do Sul cantavam “John Brown's Body” [O cadáver
de John Brown] (vídeo a seguir) canto dedicado àquele carismático militante
antiescravidão, que foi enforcado depois de uma tentativa de levante dos negros
em Harper's Ferry.
Entre os
comandantes do exército que Lincoln usou para derrotar a escravocracia havia muitos
comunistas declarados. O General de Brigada Joseph
Wedemeyer, o Secretário-Assistente de Guerra Charles A. Dana, o General
de Brigada August Willich e o Coronel Richard Hinton sequer eram nascidos nos
EUA, mas sentiram que, em nome de suas convicções comunistas, tinham de
alistar-se na batalha contra a escravidão. Foram comandantes militares dos EUA
do Norte, durante a batalha contra os EUA do Sul dos proprietários de escravos.
E foram também assumidos apoiadores de Karl Marx e das ideias do comunismo.
“Não troque
de cavalo no meio da corredeira!”
Lincoln foi
atacado por fazer eleições durante a Guerra Civil. Os Estados Unidos do Sul,
que estavam sob total controle dos insurgentes da “Confederação”, não tiveram
eleições, porque seria impossível o governo central responsabilizar-se por
eleições em território inimigo.
Terroristas carregam arma anti-tanque para posições na cidade cristã-americana de Kasab em 23/4/2014 |
Nas urnas,
Lincoln enfrentou dois principais oponentes. Os Democratas concorreram com uma
“plataforma pela paz”, entendendo que o governo dos EUA deveria render-se aos
insurgentes e deixar que a escravidão prosseguisse nos sul. O Partido Radical
Democrático concorreu com uma plataforma segundo a qual Lincoln seria ‘mole
demais’, não suficientemente agressivo, e que deveria abolir imediata e
completamente a escravidão. Lincoln temia não ser reeleito. Durante a campanha,
cunhou seu famoso slogan “Não troque de cavalo no meio da corredeira!”,
clamando pela unidade nacional para pôr fim à guerra.
Contados os
votos, Lincoln foi reeleito. Continuou a comandar o país na luta contra os
insurgentes e, afinal, venceu-os. A escravidão foi oficialmente abolida, e
milhões de negros afro-norte-americanos livraram-se dos grilhões.
Bashar al-Assad |
O presidente
Bashar Assad enfrenta situação semelhante à que Lincoln enfrentou há 150 anos.
A República Árabe Síria enfrenta insurgência armada brutal, financiada por
interesses bilionários em Wall Street
e Londres, além dos autocratas em Omã, Qatar, Arábia Saudita e Jordânia. Com
armas e dinheiro estrangeiro jorrando sobre eles, o chamado “Exército Sírio
Livre”, a Frente Al-Nusra e outros grupos terroristas armados estão degolando
gente, recrutando crianças, sequestrando para receber resgate e cometendo
outros horrendos crimes de guerra. Os insurgentes ainda controlam partes do
país, e continuam empenhados em abolir a diversidade e a liberdade de religião
que definem a Síria ao longo das últimas várias décadas.
Diferente da
Guerra Civil nos EUA, a maioria dos insurgentes na Síria não são cidadãos do
próprio país, mas mercenários importados. A República Árabe Síria sempre
defendeu o povo palestino em sua luta contra os crimes dos colonos sionistas
israelenses. A economia Síria é em larga medida controlada pelo Estado, sem que
empresas ocidentais tenham conseguido implantar ali a “rédea solta” neoliberal
com que tanto sonham, para maximizar seus lucros. O governo sírio garante
assistência à saúde e educação universais e gratuitas, para todos os sírios. Na
Síria, cristãos, sunitas, xiitas e alawitas sempre viveram lado a lado e em
paz. Tudo isso fez da República Árabe Síria alvo escolhido dos imperialistas de
Wall Street, que tentam converter a
Síria em outra Arábia Saudita, outro Qatar ou Bahrain, onde as ordens do
Ocidente podem ser impostas por governo fantoche autocrático.
Na Síria, a “oposição”
move campanha de terror e violência para desestabilizar o país e estraçalhar a
República Árabe Síria, para que Wall
Street e Londres assumam o controle do país.
Os sírios
estão unidos em torno de seu presidente e resistem contra a campanha de terror
apoiada de fora da Síria. Além do Exército Sírio, o país também constituiu
milícias comunitárias de autodefesa. A Síria se une para derrotar a campanha de
violência movida contra ela.
Manifestação na Casa Branca - Guerra contra a Síria: construindo uma MENTIRA. |
Quando o Comitê Nacional Unido Contra a Guerra e o Centro de Ação Internacional [orig. United National Anti-War Committee e International Action Center]
convocou um protesto diante da Casa Branca, quase mil sírios
reuniram-se ali para desfraldar sua bandeira. Muitos cartazes mostravam
imagens do presidente al-Assad. Sírios-americanos da Pennsylvania, New Jersey, Califórnia e outras partes dos EUA cantaram “Estamos com nosso presidente Bashar Al-Assad”.
Assim como
Lincoln acertava ao insistir em que se realizassem eleições em 1864, assim
também Assad acerta em não abrir mão da próxima eleição presidencial de 3 de
junho próximo. É indispensável que o povo sírio tenha garantido o direito de
manifestar-se, apesar da terrível guerra civil em que os sírios foram colhidos.
Nas próximas
eleições, Assad enfrentará pelo menos um oponente forte, e é preciso esperar
que os votos sejam contados.
Mas, assim
como milhões de pessoas nos EUA votaram em Lincoln em 1864, é muito provável
que milhões de sírios reelejam o homem que os conduziu durante uma batalha
feroz contra terroristas e contra uma campanha de terror sustentada por agentes
de fora da Síria. Pode-se prever que a lógica dos sírios em 2014 será a mesma
dos norte-americanos em 1864: a maioria não trocará de cavalo “no meio da
corredeira”.
[*] Caleb Maupin é jornalista, analista e
comentarista político e embora originário de Ohio, tendo estudado e se formado e
Ciência Política no Baldwin-Wallace
College, vive atualmente em New York.
É ativista e membro do Workers World Party e do Fight Imperialism – Stand Together (FIST).
É um dos
organizadores da juventude do International
Action Center e do movimento Occupy
Wall Street desde 2011. Milita contra a brutalidade policial,
encarceramento em massa, e a guerra imperialista dos EUA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.