quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Operação “Ponto” [no teatro]

28/8/2013, [*] Qifa Nabki, The Qnion, Líbano
Sátira traduzida pelo pessoal da Vila Vudu

Abkar Palace (comentário na página) Essa “operação” parece mais absurda, a cada hora que passa. O governo Obama vaza feito peneira e aparentemente quer que você acredite que o alvo não seria Assad e seu governo. Essa medida “punitiva” é só o espetáculo. Assad será atingido com a força total de um buscapé. Só precisará de um lencinho para limpar o estrago desse terrível golpe...

Com os EUA preparando-se para um quase ataque militar contra a Síria, a especulação sobre o momento e a extensão da operação corre solta e é o assunto da hora. Para felicidade de nossos leitores, nossa redação de The Qnion recebeu a transcrição de um briefing para a imprensa, a portas fechadas, do qual participaram o Secretário de Imprensa da Casa Branca, Jay Carney, e seleto grupo de jornalistas dos grandes veículos da imprensa-empresa.

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Jay Carney no briefing de hoje, 28/8/2013
[Sigiloso: não oficial e vedado ao público externo]

Secretário Carney (Secretário de Imprensa da Casa Branca): Certo, pessoal... Acho que estamos prontos para começar [inaudível. Risos e ruídos na sala.] Obrigado a todos por terem vindo tão rapidamente. Obviamente a situação desenrola-se muito depressa, e queremos passar informação sempre atualizada para vocês. Estou saindo de uma reunião na Sala de Situação, e tenho algumas atualizações importantes.

Primeiro; como já dissemos em múltiplas ocasiões, o governo dos EUA condena, nos termos mais fortes, o uso de armas químicas pelo regime de Assad. Consideramos que seja violação de leis internacionais e continuamos apoiando os esforços da ONU, em campo, na Síria. Como vocês sabem, o presidente decidiu que aqueles esforços não são suficientes e agora analisa opções para ação militar decisiva, sem concessões.

[Vozes altas, várias perguntas inaudíveis]

Repórter: Que tipo de opções militares?

Jay Carney: Alegra-me que você tenha perguntado, Jim. Obviamente, não é do interesse dos EUA partilhar detalhes sensíveis de operações militares. Nos reservamos o direito de atacar qualquer ponto da Síria para punir o regime por seus ataques repreensíveis e brutais contra o próprio povo.

Isso posto, consideramos primeiramente dois conjuntos de ataques com mísseis Tomahawk (entre oito e 11) a serem disparados pelos navios de guerra USS Mahan e USS Gravely contra um conjunto de bases militares no deserto sírio, inclusive, mas não limitados a [ruídos de folhas de blocos de anotação sendo viradas]… E... deixem-me ver se digo os nomes certos: Marj Ruhayyil, Base Aérea Militar; Al-Nayrab, Base Aérea Militar; Suwayda Base do Exército; Marj al-Sultan Heliporto Militar... 

Não, não! Desculpem. Risquem isso. Errei. O heliporto não será atacado. Quero dizer, talvez esteja, talvez não esteja sendo considerado. Vejamos, onde paramos? Ah, também Shayrat Base Aérea Militar e a Khalkh… Não, não! Esse nome eu nem vou tentar pronunciar.

Preparamos uma lista impressa e um mapa de alvos potenciais, e vocês podem pegar na passagem, ao sair, com as coordenadas geográficas e grafia certinha e tal, só para facilitar as coisas.

Mapa da Síria com as bases da Força Aérea da Síria e os postos de
controle de fronteira distribuído durante o briefing de hoje
(28/8/2013) para a imprensa-empresa dos EUA
(Clique no mapa para visualizar melhor)
Repórter: E qual o prazo para o início dos ataques?

Jay Carney: Outra vez, nosso negócio não é revelar informação sensível, Judy. Só posso lhe adiantar que nós talvez ataquemos, talvez não, entre as 21h e as 23h da 6ª-feira, 30 de agosto; e depois, novamente, entre 15h e 17h do sábado, 31. Por favor, prestem atenção: é hora de Damasco, GMT +2. Esses horários são difíceis, eu reconheço.

Seja como for, depois dos ataques que podem acontecer, ou não, nesses horários, talvez ataquemos, ou não, ataque surpresa de saturação, na outra semana, 2ª-feira de manhã, entre 10h30-11h, dependendo da situação em campo.

[Irrompem várias perguntas]

Jay Carney: Não, lamento, mas não podemos discutir detalhes. Mas o governo Obama gostaria de enfatizar e assegurar ao bravo povo sírio que eles não são os alvos visados nesses ataques altamente cirúrgicos. Só pessoal e equipamento militar que por acaso haja na vizinhança daquelas áreas durante aqueles períodos demarcados de tempo a que me referi e que podem ser, ou não ser, potencialmente, atacados. 

O governo Assad deve considerar-se avisado.

Repórter: Os senhores esperam que esses ataques derrubem o regime de Assad?

Jay Carney: É realmente ótimo que você tenha perguntado isso, Bill. Talvez seja surpresa para vocês, mas nós não estamos, eu repito, não estamos considerando qualquer cenário de mudança de regime, apesar da decisão e firmeza com que podemos atacar, ou não atacar. De fato, temos decididas várias contingências para modificar a operação proposta, caso o colapso do regime pareça iminente. Por isso estamos deliberando tanto, tão cuidadosamente.

[Mais perguntas]


Jay Carney: Vejo muitas mãos erguidas, mas não tenho liberdade para falar mais, porque não podemos comprometer a integridade da missão. Muito obrigado, pessoal, por ter vindo. Ao saírem, não se esqueçam de pegar o resumo impresso, com as informações que dei a vocês e mais alguns detalhes, como os alvos militares e locais a serem atacados, como já disse. 

Repito, porque é importante: o horário de Damasco é sete horas à frente de Washington. GMT +2. Sei que já disse, mas é detalhe que pode passar despercebido. OK, rapazes. Em breve, mais informações. 


[*] Qifa Nabki é o blog de Elias I. Muhanna, professor de Literatura Comparada na Brown University. É ávido escritor, pesquisador e compilador. Qifa Nabki, um blog muito lido na política libanesa contemporânea. Escreve frequentemente sobre temas políticos e culturais para o New York Times, The Nation, The Guardian, entre outras publicações. 

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