sábado, 17 de agosto de 2013

O coma egípcio doerá no império norte-americano

Plano B dos EUA para o Egito: trazer de volta o Regime de Mubarak

6/7/2013, [*] Mahdi Darius Nazemroaya, Strategic Culture [excerto]
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Protestos dos apoiadores da Fraternidade Muçulmana e de Mohamed  Mursi (ago/2013)
Apesar do que a imprensa-empresa ocidental diz, repete e “comenta”, a Fraternidade Muçulmana jamais esteve em pleno comando do Egito ou do governo egípcio. Teve sempre de dividir o poder com segmentos do velho regime e com “homens de Washington e de Telavive”. Atores chaves do velho regime foram mantidos em seus cargos, em diferentes setores do governo e corpos da administração. Até no gabinete do presidente Mursi havia gente do velho regime. As discussões sobre a lei da Xaria foram predominantemente manipuladas pelos inimigos da Fraternidade Muçulmana, sobretudo para consumo fora do país, para países predominantemente não muçulmanos e para mobilizar contra Mursi os cristãos egípcios e as correntes socialistas locais.

Mohamed Mursi
Quanto aos problemas econômicos que o Egito enfrentava, há muito tempo são resultado combinado de vários fatores: o legado do velho regime, a ganância das elites egípcias e dos militares de mais alto escalão, a crise global e o capitalismo predatório que EUA e União Europeia assestaram contra o Egito. Os que culparam Mursi pelos problemas econômicos do Egito e pelo desemprego fizeram-no ou por erro de análise ou por oportunismo e má fé. A incompetência de seu governo evidentemente não ajudou a superar as dificuldades, mas com certeza não as criou. Mursi tentava dirigir um navio que naufragava, depois de ter sido devastado economicamente em 2011 por estados estrangeiros e por financistas, agiotas, especuladores, investidores e empresas estrangeiros e locais.

Houve inegável esforço para sabotar o governo da Fraternidade Muçulmana – o que evidentemente não explica nem justifica a incompetência e a corrupção dos Irmãos. O esforço para adquirir respeitabilidade internacional mostrando-se em eventos como a Clinton Global Initiative, hóspede da Clinton Foundation, só apressou seu declínio. A hesitação para restaurar laços diplomáticos com o Irã; o antagonismo contra a Síria, o Hezbollah e seus aliados palestinos só fizeram encurtar cada dia mais a lista de amigos e apoiadores.

A Fraternidade Muçulmana deixou-se usar, praticamente sem qualquer resistência, por EUA, Israel, Arábia Saudita e Qatar, na operação para pacificar o Hamás, na tentativa de separar os palestinos de Gaza e o Bloco da Resistência.

A Fraternidade Muçulmana manteve o sítio contra Gaza e continuou a destruir os túneis usados para abastecer os palestinos com alguns itens de primeira necessidade. Talvez os Irmãos tivessem medo. Talvez tivessem pouco a dizer nessas questões. Mas o fato é que os Irmãos mantiveram as condições pelas quais os militares e os aparelhos de segurança e de inteligência do Egito puderam continuar a colaborar com Israel. Durante o governo da Fraternidade Muçulmana, grande número de palestinos desaparecia no Egito, para reaparecerem em prisões israelenses. O governo de Mursi “esqueceu” a anistia que havia dado a apoiadores da Jamahiriya líbia que buscaram refúgio no Egito.

Os EUA e Israel sempre quiseram que o Egito se consumisse olhando sempre para dentro, mantido em estado de patética paralisia. Washington sempre tentou manter o Egito como estado dependente, que sem a ajuda dos EUA racharia aos pedaços, política e economicamente. Por isso os EUA deixaram degenerar a situação no Egito, como meio de neutralizar qualquer resistência, mantendo os egípcios divididos e exauridos. Agora, porém, o golpe contra Mursi começará a assustar os EUA, como uma assombração.

Praça Tahrir (Cairo - Egito) em janeiro de 2011
Washington sentirá profundamente as repercussões do que aconteceu no Egito. A derrubada de Mursi envia mensagem muito negativa a todos os aliados dos EUA. Todos, no mundo árabe – corruptos e semicorruptos – estão hoje mais conscientes do que nunca de que nenhuma aliança com Washington ou Telavive jamais significará proteção eterna. Diferente disso começam a dar-se contar de que os que se saem melhor hoje são os que se aliaram aos iranianos e aos russos.

Império incapaz de garantir a segurança de seus sátrapas é império que, mais dia menos dia, perderá muitos dos próprios clientes e aliados, que lhe dão as costas, ou o traem. Assim como está fracassando o projeto de mudança de regime que os EUA conceberam para a Síria, assim também o “turno” norte-americano no Oriente Médio aproxima-se do epílogo.

Os que apostaram no sucesso de Washington – os reis sauditas, a Fraternidade Muçulmana, o Primeiro-Ministro turco Recep Erdogan – em breve descobrirão que deixaram-se prender no lado perdedor da equação regional do Oriente Médio...
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[*] Mahdi Darius Nazemroay é cientista social, escritor premiado, colunista e pesquisador. Suas obras têm sido publicadas internacionalmente em uma ampla série de revistas, sítios e jornais. São traduzidos em mais de vinte idiomas, incluindo alemão, árabe, italiano, russo, turco, espanhol, português, persa chinês, coreano, polonês, armênio, holandês e românico. Seus trabalhos em ciências geopolíticas e estudos estratégicos têm sido usados por vários estabelecimentos de ensino e de defesa. É convidado frequentemente por redes internacionais de notícias como analista e especialista em geopolítica no Oriente Médio.

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