13/8/2013,
[*] Manlio Dinucci, Il
Manifesto, Itália
Traduzido
pelo pessoal da Vila
Vudu
Vladimir Putin |
Depois que
Putin voltou à presidência, a Rússia reforçou sua “retórica antiamericana”,
servindo-se de “velhos estereótipos da guerra fria”: foi o que declarou o
presidente Obama, depois de cancelar encontro entre os dois previsto para
setembro. A gota d’água que fez transbordar o jarro foi o asilo concedido pela
Rússia a Edward Snowden, culpado por ter tornado públicas as provas de que os
serviços secretos dos EUA espionam todo o mundo e
todos. Mas há outra coisa.
Moscou
opõe-se ao “escudo antimísseis”, que permitiria aos EUA lançar um primeiro
ataque nuclear sabendo que poderiam neutralizar a resposta. Moscou opôs-se à
ulterior expansão da OTAN para o leste e ao plano de EUA-OTAN de demolir a Síria
e o Irã, no quadro de uma estratégia que tem por alvo a região do Pacífico
Asiático. Moscou percebe tudo isso como uma tentativa de obter ampla vantagem
estratégica sobre a Rússia (e, depois da Rússia, sobre a China).
Frank Gorenc |
Não
seriam mesmo “velhos estereótipos da guerra fria”? Parece que não, se se
considera o plano anunciado pela OTAN dia 8 de agosto. O plano prevê “manobras
militares mais ambiciosas e mais frequentes”, sobretudo nas regiões próximas da
Rússia. De 25 de agosto a 5 de setembro, caças-bombardeiros da OTAN [inclusive
italianos e franceses (notas do autor italiano e do tradutor francês)], com
dupla capacidade, nuclear e convencional, participarão na Noruega das manobras
“Brilliant Arrow” [Flecha brilhante] do Comando Aéreo aliado, no comando das
quais estará o recém-nomeado general Frank Gorenc, que também comanda as forças
aéreas dos EUA na Europa.
Depois, em novembro, haverá
manobras aéreas, “Steadfast Jazz” [Jazz invencível], com deslocamento de
caças-bombardeiros da OTAN na Polônia, Lituânia e Letônia, para a fronteira
russa. Em setembro-outubro, navios de guerra da OTAN participarão da grande
manobra “Brilliant Mariner” [Marinheiro brilhante] no Mar do Norte e no Mar
Báltico. Está também previsto o envio de outros navios da OTAN para o Mar Negro,
onde em julho aconteceram as manobras “Sea Breeze 2013” [Brisa do mar 2013], das
quais participaram marinheiros de dez países [1] [inclusive Itália e, como
observadora, a França, ao lado de Qatar, Emirados Árabes Unidos e Líbia] sob as
ordens do Comandante das Forças Navais dos EUA na Europa, que também comanda a
força conjunta aliada em Nápoles.
Veículos anfíbios participam da operação Sea Breeze 2013 na Ucrânia |
Os
EUA e os aliados da OTAN estão pois em operação para aumentar a pressão militar
sobre a Rússia, a qual, evidentemente, não se limita ao que Obama chama de uma
“retórica antiamericana”. Depois que os EUA decidiram instalar um “escudo” de
mísseis na ilha de Guam, no Pacífico ocidental, o comando das forças
estratégicas russas anunciou que está construindo um novo míssil de 100
toneladas, “capaz de ultrapassar não importa qual seja o sistema de defesa
antimísseis”. Daqui ao fim do ano, haverá 16 lançamento experimentais de mísseis
balísticos intercontinentais de vários tipos. E o primeiro submarino nuclear da
nova classe Borey já está navegando: tem 170 metros de comprimento, capaz de
submergir a 450 metros de profundidade, armado com 16 mísseis Bulava. Com raio
de 9 mil km e dez ogivas nucleares múltiplas independentes, pode manobrar para
evitar mísseis de interceptação. O novo submarino é um dos oito que a Marinha
russa receberá de agora até 2020 (para substituir modelos antigos), com 19
submarinos multitarefa e 54 unidades de superfície.
Submarino estratégico russo Classe Borey (clique na imagem para ler e visualizar os dados técnicos) |
Sobre
tudo isso, os jornais e televisões europeus, sobretudo os italianos, campeões de
desinformação [em disputa cerrada pelo
título com os veículos franceses (e sobre os brasileiros, então, melhor nem
começar a falar!) (Nota dos vários tradutores)], guardam silêncio quase
total. Por isso, a maioria das pessoas tem a impressão de que a guerra só ameaça
regiões “turbulentas”, como o Oriente Médio e a África do Norte, sem se darem
conta de que a “pacífica” Europa está em vias, outra vez, de ser empurrada para
a frente de uma estratégia dos EUA, na primeira linha de uma confrontação
militar em nada menos perigosa que a da guerra fria.
[*] Manlio Dinucci é geógrafo e
geopolíticólogo italiano. Últimas publicações : Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Geografia del ventunesimo secolo, Zanichelli
2010 ; Escalation. Anatomia della guerra infinita,
Ed. DeriveApprodi 2005.
Nota
dos tradutores franceses
[1]
Azerbaijão,
Bulgária, Canadá, Geórgia, Alemanha, Itália, Romênia, Turquia, Ucrânia e EUA.
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