quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Egito: “Poodles” europeus ladram, mas não morderão Sisi

19/8/2013, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu


Violência das forças armadas contra manifestantes no Egito
Será que a União Europeia morderá o tanto que está ladrando? Se se lê o jornal egípcio Al-Ahram, está ali bem claro que o chefão egípcio, general Abdel Fattah al-Sisi, já concluiu que a União Europeia não passará de atos pro forma em que manifestará preocupação com o golpe e a repressão; só isso e não irá além disso. Em resumo, a agência Itar-Tass entrevistou os sujeitos errados, dos quais ouviu que países europeus decretarão (decretariam!) um embargo de armas  contra o Egito.

William Hague
Se ainda sobreviver alguma dúvida, basta ver o que diz o Secretário britânico de Relações Exteriores, William Hague, que pede que “não se façam falsas escolhas” entre a junta militar no Cairo e a Fraternidade; e que todos observem que o golpe militar no Egito foi “muito popular” entre o povo. Além do mais, Hague exortou o ocidente a não perder de vista o “grande quadro” (querendo dizer que o conflito às margens do Nilo pode durar décadas). Em outras palavras, foi como se dissesse:

(...) apertem os cintos e curtam a diversão. Vocês estão assistindo à construção de um banho de sangue, com muçulmanos versus muçulmanos, quer dizer... Não há problema algum.

As palavras de Hague sugerem que a posição anglo-saxônica já está definida e cristalizada. Disse coisas que nenhum funcionário dos EUA ousaria dizer em público. Dito de outro modo: por mais que a chanceler alemã Angela Merkel  se mostre terrível e profundamente indignada ante os eventos dessa semana no Egito, ela será minoria; e quando os ministros de Relações Exteriores da União Europeia se reunirem no final dessa semana, Hague providenciará para que o governo de Obama não se exceda, quero dizer: tratará de armar as coisas de modo que o ocidente não precise abandonar “o lado certo da história”, mas, simultaneamente, continue a enviar armas aos generais no Cairo.

François Hollande e Saud al-Faisal
A França, de início, pareceu partilhar a angústia da Alemanha, mas depois que o ministro Faisal, de Relações Exteriores da Casa de Saud, voou às pressas para Paris no domingo (18/8/2013),   já ninguém duvida de que François Hollande recebeu súbita iluminação sobre os eventos no Egito. Já se veem sinais de que a Arábia Saudita está empurrando o Qatar, aos trancos, para longe dos corredores do poder em Paris. Não se sabe a quantidade de dinheiro que a operação está custando ao rei Abdullah, mas sabe-se que os franceses são gente de gostos caros, e os sauditas, sim, estão gastando muito, muito dinheiro.

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[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Irã, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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