9/7/2013, [*] Jon Queally, Commondreams
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Silent
Circle, empresa provedora de serviços de e-mail encriptados seguiu o
movimento de sua concorrente Lavabit que, na 5ª-feira anunciou que decidia
deixar de operar, depois de receber ordens do governo dos EUA para entregar
dados privados e mensagens de e-mails de seus clientes – um dos quais se
acredita que seja Edward Snowden.
Edward Snowden |
Apoiadores
da liberdade para a Internet e que lutam por proteger a privacidade dos usuários
estão chocados, mas já manifestaram seu agradecimento pela ação que veem como
uma empresa provedora de serviços seguros que opta por defender os direitos de
seus clientes, mesmo que ao preço de ter de fechar a empresa, acossada pela
violência, que consideram inconstitucional, do governo dos EUA.
A
Agência Reuters noticiou:
[O
fundador do provedor Lavabit disse que] decidiu “suspender as operações”, mas que
está proibido de discutir os eventos das seis últimas semanas que levaram àquela
decisão.
O
período corresponde ao da divulgação de informações secretas, por Edward
Snowden, consideradas fontes de matérias jornalísticas que explicam em detalhes
as operações de espionagem eletrônica, pela Agência de Segurança Nacional dos
EUA.
Kurt Opsahl |
Dada
a força impressionante que o governo está mobilizando para obter e-mails e registros
dos provedores de serviços, força que se aplica por meios legais e ilegais, é
estimulante constatar que empresas provedoras optam por agir na direção de
conter a capacidade de o governo invadir a privacidade dos
usuários
– disse num postado Kurt Opsahl, da Electronic Frontier
Foundation.
Na
5ª-feira à tarde, Lavar Levinson, fundador do provedor Lavabit, distribuiu
declaração em que explica por que o servidor será fechado:
Companheiros
usuários,
Fui
forçado a tomar uma difícil decisão: tornar-me cúmplice de crimes contra o povo
dos EUA, ou encerrar quase dez anos de trabalho duro e fechar minha empresa
Lavabit. Depois de muito pensar, atenta e profundamente, decidi suspender as
operações. Gostaria de poder partilhar com vocês todos os eventos que me levaram
a ter de decidir como decidi. Não posso. Entendo que vocês merecem saber o que
está acontecendo – a Primeira Emenda deveria garantir-me o direito e a liberdade
de falar sobre situações como a que estou vivendo. Infelizmente, o Congresso já
aprovou leis que decidem de outro modo.
Na
situação em que estão as coisas hoje, não posso partilhar as experiências pelas
quais passei durante as últimas seis semanas, embora já por duas vezes tenha
pedido autorização para fazê-lo, como ordena a lei.
O
que acontecerá agora? Já começamos a preparar a papelada necessária para
continuar a lutar a favor da Constituição dos EUA, numa Corte de Apelação.
Decisão favorável dessa Corte de Justiça pode permitir-nos ressuscitar Lavabit
como empresa norte-americana.
Essa
experiência ensinou-me lição muito importante: se o Congresso não agir, ou se
não se criar logo um forte precedente jurídico, recomendo MUITO SERIAMENTE que
ninguém confie seus dados privados a nenhuma empresa que tenha qualquer tipo de
laços com os EUA.
Atenciosamente,
Ladar
Levison
Proprietário
e Operador, Lavabit LLC
_________________
Spencer Ackerman |
É
raro ver um provedor de serviços de e-mail optar por
fechar sua empresa e sair dos negócios, para não ceder no campo dos próprios
valores – disse Opsahl. – Deve ter sido decisão duríssima para Ladar Levison,
mas ele se manteve fiel ao próprio negócio, que oferecia sobretudo privacidade,
acima até dos lucros. E também é decisão que afeta terrivelmente os usuários,
alguns dos quais perderam um tipo de acesso a e-mail que já não
encontrarão em lugar algum.
Como
escreveu Spencer Ackerman, do The Guardian,
[Edward]
Snowden seria usuário do provedor
Lavabit. Uma mensagem de e-mail distribuída
por esse provedor e que se acredita que tenha sido enviada por Snowden convidava
vários jornalistas para uma conferência de imprensa, em meados de julho, no
aeroporto Sheremetyevo em Moscou.
E
Glenn Greenwald, também do The Guardian,
escreveu:
Glenn Greenwald |
O
mais assustador, sobre o fechamento do provedor Lavabit que os proprietários
acabam de anunciar é que a empresa está proibida por ordem judicial, até de
discutir as ordens judiciais que recebeu, o processo judicial que está
construindo para defender-se e os procedimentos judiciais a que foi submetida.
Em outras palavras, o proprietário da empresa, cidadão norte-americano, entende
que seus direitos constitucionais e os direitos constitucionais de seus clientes
estão sendo violados pelo governo dos EUA, mas foi proibido de falar sobre
isso.
A decisão que Levison tomou em
relação à própria empresa foi imediatamente tomada também por outra empresa
provedora de serviços protegidos, sua concorrente, Silent
Circle, a
qual, ontem, 6ª-feira, divulgou a seguinte nota a seus
usuários:
Desenhamos
nossos serviços de telefonia, vídeo e texto (Silent Phone e Silent Text) para
que fossem completamente protegidos de ponta a ponta, com total criptografia
para os clientes, de modo a que a exposição dos dados a nós confiados fosse
nenhuma. A razão é óbvia – nada arquivamos, porque, quanto menos informação
arquivarmos, melhor para vocês e para nós.
Silent
Mail, por isso, foi uma espécie de guardião para nós todos. E-mails que usem os
protocolos padrão de internet de modo algum oferecem as mesmas garantias de
seguranças que as comunicações em tempo real. Há muitos pontos de vazamento de
informação e de metadados intrínsecos nos próprios protocolos de e-mail.
Mensagens de e-mails, como as
conhecemos, com SMTP, POP3 e IMAP não são nem podem ser seguras.
Por
isso, sempre tivemos muitos clientes interessados e usuários. Silent Mail
oferece garantias semelhantes de segurança também oferecidas por outros sistemas
de e-mail, e
sempre entendemos que seria serviço útil e valioso.
Mas
nos vemos obrigados a reconsiderar essa posição. Já pensávamos há algum tempo
sobre isso, se seria boa ideia. Hoje, outro provedor de serviços seguros de
e-mail, Lavabit, anunciou que está deixando de operar, “para não ser cúmplice de
crimes contra o povo norte-americano.”
Entendemos
a mensagem e decidimos que o melhor para nós e fechar também nossa empresa
Silent Mail, agora. Não fomos intimados, não recebemos mandados judiciais,
mensagens ‘da segurança dos EUA’ nem nada semelhante, de nenhum governo. Por
isso decidimos agir agora.
Já
há semanas estávamos discutindo esse assunto, e as mudanças planejadas começarão
na próxima 2ª-feira. Consideramos desligar o serviço, mantê-lo só para os atuais
clientes e inúmeras outras possibilidades, até hoje. Melhor prevenir que
remediar, e decidimos que, em matéria da segurança da empresa, a pior solução
seria nada fazer.
Silent
Phone e Silent Text, com a prima Silent Eyes são empresas que oferecem serviços
seguros de ponta-a-ponta. Não temos dados encriptados e não arquivamos metadados
das conversações dos clientes. Essas empresas continuarão como até agora. Ainda
trabalhamos para encontrar vias inovadoras para efetivamente proteger as
comunicações.
Silent
Mail foi excelente ideia quando surgiu. Mas aquele tempo passou.
Pedimos
desculpas por qualquer transtorno ou inconveniência que venhamos a provocar, e
esperamos que todos entendam que, se insistíssemos, as inconveniências poderiam
vir a ser ainda mais inconvenientes.
David Meyer |
David
Meyer, blogueiro tech e especialista em alta tecnologia e negócios,
manifestou afinal publicamente, o pensamento que está em todas as conversas,
ante o que os jornais continuam a publicar: sugeriu que o programa de vigilância
total do governo dos EUA terá impacto terrível sobre toda a economia digital nos
EUA, com clientes preocupados com a própria privacidade, os quais afinal começam
a ver que não há como resistir contra a ação das agências de espionagem dos
EUA.
O
fechamento de várias empresas sugere que serviços de provedores de e-mails
seguros absolutamente não podem ser mantidos em território dos EUA, sem serem
ameaçados de terem de trair a confiança dos clientes, em qualquer caso que lhes
seja ordenado pela autoridades norte-americanas
– escreveu
Meyer em Gigaom.
Josh Constine |
O
movimento agitou os críticos que estão, cada vez mais, se fazendo ouvir sobre
como os esforços de vigilância do governo dos EUA põem sob risco todos os
negócios norte-americanos de alta tecnologia. As empresas já temem o movimento
de fuga de clientes internacionais que tratarão de levar seus negócios para
outros países, no esforço para escapar da vigilância da Agência de Segurança
Nacional. Jennifer Granick, diretora de Liberdades Civis do Centro Stanford
Center para Internet e Sociedade, escreveu que “o governo dos EUA, em seu
frenesi de espionar tudo e todos, pode acabar por matar nossa indústria mais
produtiva. Lavabit talvez seja só o canário, na mina de carvão”.
O
que agora se vê é que o impacto negativo da ação de espionagem da Agência de
Segurança Nacional, contra cidadãos e empresas norte-americanas, não se
manifestará apenas na perda de clientes ou em empresas que fecharão suas
operações, antes de serem intimadas a entregar dados que receberam em confiança,
como parte do próprio negócio.
A
destruição já começa a alcançar todo um vasto setor da economia dos EUA. Hoje, a
última esperança que resta, para que os EUA reformem suas práticas de espionagem
interna, é que o país se dê conta de que a espionagem ilimitada fere já,
gravemente, a própria economia dos EUA.
__________________________
[*] Jon Queally
é editor senior do sítio Common Dreams desde 2007. Cobre vários assuntos como
Política interna e externa dos EUA, Direitos Humanos e dos Animais, Mudança
Climática, e outros. É também editor de opinião e trabalha diariamente na
criação, seleção e gerenciamento de novos conteúdos.
Email: jon@commondreams.org.
Twitter:
@jonqueally
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