1/1/2013,
Pepe Escobar, em Russia Today
Vídeo-entrevista
transcrita e traduzida pelo pessoal da Vila Vudu
Russia
Today:
Pepe Escobar é um dos nossos correspondentes estrangeiros prediletos. Olá,
Pepe, como vai? Que lindo sorriso, amigo! Feliz Ano Novo, Pepe!
Pepe
Escobar: Feliz
Ano Novo!
Russia
Today: Pepe
fala conosco, cada vez, de uma cidade diferente. Você está onde, hoje, Pepe?
Pepe
Escobar: London
Eye [risos].
Russia
Today: Mas,
diga, Pepe, por favor. Kofi Annan nada conseguiu. Foi substituído por Lakhdar
Brahimi, que parece que pouco está conseguindo. Para onde irá a Síria, afinal?
Pepe
Escobar: É
muito triste, é muito triste, de fato, para todos, em todo o mundo, porque a
principal tragédia geopolítica de 2013 será a principal tragédia geopolítica
também de 2012: o estupro da Síria. Vou dizer uma coisa, porque é “visual”,
permite ver as coisas: há poucos meses, na Suécia, em abril do ano passado, Kofi
Annan deu uma palestra, e naquele momento ainda tentava articular algum tipo de
acordo na Síria. Mas a palestra, de fato, foi, do começo ao fim, um relato, uma
confissão de impotência. Se o próprio Kofi Annan não conseguiu levar todos os
atores para uma negociação, sentá-los todos em volta da mesma mesa, até chegarem
a algum acordo, sobretudo porque a oposição na Síria não queria acordo algum, é
pouco provável que Lakhdar Brahimi consiga mais sucesso, onde Kofi Annan
fracassou. Quer dizer: a coisa lá está andando diretamente na direção do que foi
a guerra civil no Líbano, e pode durar 15 anos, em vez de alguns meses. É
horrível.
Russia
Today: O presidente Assad disse
que não sairá de lá, quando falou com nosso correspondente em Damasco, há alguns
meses. Perguntaram-lhe se tinha medo do futuro. Assad respondeu que não, não
tinha medo algum. [A jornalista ao lado intervém:] Ao longo de 2012,
praticamente todos os analistas previram que Assad não conseguiria ficar, que
não aguentaria. [O jornalista prossegue]. Pois é. Apesar do muito que se disse,
o que se vê hoje é que Assad lá está e lá continua. Essa posição do presidente
não torna as coisas sempre mais difíceis, não só para a oposição, mas também
para os seus seguidores?
Pepe
Escobar: A
coisa é que não se viram, até agora, as tais fissuras na liderança, que tantos
esperavam. Não há deserções nem rupturas de nenhum tipo no centro do poder de
Assad. A cada duas, três semanas, ouve-se falar de um desertor de importância
secundária, e é o que basta para a imprensa-empresa ocidental pôr-se a noticiar
que o mundo estaria desabando sobre a cabeça de Assad, que será derrubado amanhã
e, assim, acabou-se a história. Não será derrubado amanhã e a história ainda não
acabou. O regime mantém-se em grande parte intacto e operante, De fato, ninguém
poderá vencer essa guerra civil. As forças de Assad mantêm-se no controle das
grandes cidades. Se alguém conseguir vencer as forças de Assad em Aleppo ou em
Damasco, sim, talvez se possa começar a pensar em fim do que se vê lá hoje. Mas,
por hora...
Russia
Today: Em
poucas palavras, que nosso tempo está acabando: o que você acha cabível esperar
para o futuro imediato da Síria?
Pepe
Escobar: A
única possibilidade seria a oposição – se conseguir se organizar para manifestar
o desejo dos sírios – decidir não dar ouvidos aos sauditas, nem aos turcos, nem
aos qataris, nem aos norte-americanos, britânicos e franceses. E sentarem-se com
o governo de Assad e construírem juntos o projeto de um governo de transição ou,
no mínimo, um plano de transição que os leve a eleições livres. Pode acontecer?
Acho que não. Não acho que seja provável.
Russia
Today:
Obrigado, Pepe. Feliz Ano Novo!
Pepe
Escobar: Feliz
Ano Novo a todos. Feliz Ano Novo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Registre seus comentários com seu nome ou apelido. Não utilize o anonimato. Não serão permitidos comentários com "links" ou que contenham o símbolo @.