7/1/2013, Kevin Gosztola, The Dissenter
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Kevin Gosztola |
John
Brennan, que
foi conselheiro para contraterrorismo do presidente Obama no primeiro mandado,
foi indicado para presidir a CIA. É sinal, não só de que Obama planeja manter o
programa de assassinatos autorizados, principalmente no Iêmen, Paquistão e
Somália, mas, também, de que a “Guerra Global ao Terror” continua, sem término à
vista.
Perfil
escrito por Karen DeYoung para o Washington Post
publicado em outubro do ano passado, anotava que Brennan foi responsável por
“compilar as regras para uma guerra que o governo Obama crê que ultrapassará em
muito sua permanência na Casa Branca, sejam só mais alguns meses ou mais quatro
anos.” Foi o homem que concebeu o “manual” – a tal “matriz de descarte”,
distópica – que incluiu “procedimentos administrativos em andamento” que
consistem em definir como alvo de assassinato premeditado alguns indivíduos que
o governo dos EUA creia que sejam, ou apenas desconfie que sejam, membros da
Al-Qaeda e de grupos afiliados ou que tenham com eles qualquer laço, por mínimo
que seja.
John Brennan e Barack Obama em reunião na Casa Branca |
O
critério para incluir indivíduos naquela “matriz de descarte” é de uso exclusivo
do Centro Nacional de Contraterrorismo, ao qual, em julho do ano passado, o
governo Obama assegurou o direito de “recolher e reavaliar continuamente”, por
até cinco anos, informação relacionada a cidadãos norte-americanos inocentes.
Sugere vasta expansão do Estado de Vigilância e erosão profunda do devido
processo legal, contra todos os povos do mundo, porque essa “inteligência” é
coletada para eliminar, por assassinato premeditado, pessoas que o círculo
presidencial decida que representam ameaça e, assim, não consigam obter
autorização para continuarem vivas, estejam onde estiverem.
John Brennan |
Embora
o perfil publicado pelo Post sugerisse que Brennan argumentara
internamente que a CIA “deve focar-se em atividades de inteligência e deixar a
ação letal para seus agentes mais tradicionais, os militares, onde a lei exija
maior transparência”, fica-se a conjecturar se Brennan, na prática, considerará
essa possibilidade.
O
Post descreveu Brennan no comando de “uma política tão secreta que é
impossível, para quem a analise de fora, avaliar se é ou não legal e se está ou
não conforme as leis de guerra ou os valores dos EUA – nem, sequer, determinar o
exato número de pessoas assassinadas.” Mas ainda que as ações letais fossem
devolvidas aos “seus agentes tradicionais, os militares”, não implica
necessariamente que o presidente não continuasse a manter clandestinos os
assassinatos premeditados, recorrendo ao argumento das “restrições de segurança
nacional”, se algum detalhe vier a público.
A
CIA combateu contra todos os esforços para alcançar alguma transparência, por
grupos como ACLU, nos tribunais. Em processo baseado na Lei de Liberdade de
Informar, a CIA recusou-se a confirmar ou negar a existência de registros do
programa de assassinatos premeditados autorizados pela presidência dos EUA.
Deve-se esperar esse tipo de
preservação dos sigilos e segredos, se Brennan assumir a chefia da CIA, não só
porque se sabe que a CIA conduz operações clandestinas das quais a opinião
pública não é informada, mas, também, porque Obama atribuiu à CIA e ao Comando
Conjunto de Operações Especiais [orig. Joint Special
Operations Command
(JSOC)] o poder
legal para conduzir operações secretas não limitadas aos termos da lei nem
passíveis de discussão política.
Jeh Johnson |
O
ex-conselheiro geral do Pentágono, Jeh Johnson apareceu recentemente no programa
“The Rachel Maddow Show” da rede MSNBC para “entrevista exclusiva”, para falar
de sua crença de que haverá um “ponto de virada” em futuro não muito distante,
que começará a esvaziar o conflito armado e fará a Guerra ao Terror
encaminhar-se para um (algum) fim. Mas o “manual”, segundo o Post, foi
desenvolvido para garantir um “contexto” que limitasse o “deslocamento dos
drones”, ao mesmo tempo em que expandia seu uso no que “já se converteu
em guerra permanente dos EUA”.
O
simples uso dos aviões-robôs tripulados à distância, os drones, garante
que os EUA jamais sequer se aproximem, em futuro próximo, do tal metafísico
“ponto de virada”.
Se
Brennan estiver no comando da CIA, pode-se ter certeza absoluta de que ninguém
lá chegará ao tal ponto, durante o segundo mandato de Obama.
Atualização
1:
Obama
já pensara em Brennan para a chefia da CIA em novembro de 2008. Scott Horton, da
revista Harper’s explicou, naquele momento, porque seria indicação que se
devia rejeitar:
Scott Horton |
Foi
agente-operador da inteligência, de carreira, com resultados relevantes a
considerar, e avaliado como líder efetivo e inteligente pelo pessoal com quem
trabalhou. Mas tem um ponto crítico, grave, a objetar: é totalmente ambíguo e
inconsistente, e ninguém sabe o que Brennan realmente pensa, no que tenha a ver
com a CIA recorrer à tortura, diretamente executada, ou dissimulada sob algumas
‘técnicas’ e delegada a terceiros. Disciplinado, Brennan sempre foi rápido nas
justificativas e no apoio do que tivesse sido feito. Como analista
“independente” e informante de vários jornalistas empregados das grandes redes,
Brennan sempre apoiou e deu cobertura, da prática da simulação de afogamento
(orig. waterboarding) ao uso de
drogas psicotrópicas. Como conselheiro da campanha de Obama, Brennan teve seu
momento de pouco convincente epifania, e chegou a rejeitar o programa do
presidente Bush, acompanhando o discurso do novo patrão. O momento, o timing e as circunstâncias da
conversão de Brennan sugerem que tenha sido ditada por sua experiência política,
não por alguma consideração moral ou ética.
Na
sequência, Brennan retirou a própria “candidatura”. A retirada foi atribuída a
oposição ao seu nome, entre grupos de esquerda que apoiavam Obama.
Dessa
vez, como a matéria do New York Times sugere: “Não se sabe se a questão
da tortura criará problemas para o sr. Brennan. Mas já é figura muito mais
conhecida do que era em 2009, com várias intervenções públicas relacionadas a
planos terroristas e para oferecer argumentos legais e políticos que
justificassem os ataques com drones”.
Verdade
é que, hoje, pode-se dar por garantido que a “questão da tortura” não será
problema.
Brennan
conseguiu “reposicionar-se como marca”. Converteu-se no rosto do programa de
assassinatos premeditados do governo Obama. Defender a tortura e os seus
torturadores subalternos é coisa do passado. O programa dos assassinatos
premeditados – que encontra defensores também entre grupos da esquerda
norte-americana – já foi defendido publicamente pelos dois partidos: tem
defensores Republicanos e tem defensores Democratas. O programa dos assassinatos
premeditados autorizados pelo presidente “encarnou” definitivamente, cada dia
mais profundamente, no estado de segurança nacional, ao longo do governo Obama.
Por esse grande feito, a aprovação de Brennan não enfrentará dificuldades e,
quase com certeza, ele chegará à direção da CIA.
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