domingo, 29 de setembro de 2013

Seymour Hersh sobre Obama, NSA e o jornalismo “patético”

27/9/2013, [*] Seymour Hersh, The Guardian, UK (Resumo da entrevista)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu

Este artigo foi muito comentado na Birosca do Rolha (onde foi traduzido) na Vila Vudu. Os comentários foram inseridos ao longo do texto, em vermelho. Tivemos muitos outros comentários, os quais, infelizmente não foram anotados.

Seymour Herch em 11/69 quando denunciou o massacre de Mi Lai no Vietnã
Seymour Hersh tem ideias extremistas para consertar o jornalismo: fechar as agências de notícias NBC e ABC [as agências Estado e Folha, no Brasil, então... só se forem fechadas E o terreno salgado, para que ali nada mais nasça!]; demitir 90% dos editores [no Brasil, tem de ser 110%: todos os editores e, também, as respectivas esposas, namoradas etc. dos donos da empresa e de marketeiros e donos de institutos de pesquisa, pressupostos jornalistas!] e mandar os jornalistas de volta ao trabalho sério, que, diz ele, é trabalho de outsider.

Não é preciso muito para incendiar Hersh, jornalista investigativo que tem sido a nêmese dos presidentes dos EUA desde os anos 1960s, quando escreveu que o Partido Republicano é “o parente mais próximo, dentro do jornalismo dos EUA, de um grupo terrorista” [no Brasil, o mais parecido com grupo terrorista que temos por aqui são o Instituto Millenium e a Opus Dei. E, no Brasil, esses grupos terroristas são DONOS de toda a imprensa-empresa que vende produtos em língua portuguesa do Brasil].

Vive enfurecido ante a timidez dos jornalistas nos EUA, o fracasso do jornalismo que não confronta a Casa Branca e não consegue ser mensageiro impopular da verdade [no Brasil, é exatamente o contrário: o Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) é mensageiro impopular da mentira. Mas o jornalismo e os jornalistas são igualmente incompetentes. Aqui, o jornalismo NÃO VÊ governo e presidente populares, de democratização e bem-sucedidos, porque o jornalismo brasileiro trabalha a serviço de uma mesma velha UDN elitista, sem votos, sem projeto democrático e sem vergonha na cara, que se apresenta hoje sob novas siglas].

NYT promove Obama desavergonhadamente
Para Hersh, o New York Times “gasta mais dinheiro para promover Obama do que jamais pensei que fosse possível” [No Brasil é o contrário, igualmente ruim: o Grupo GAFE gasta mais dinheiro para desconstituir governos eleitos, populares e bem-sucedidos, do que faria sentido para qualquer empresa comercial que dependa, pra viver, de ter alguma credibilidade. Isso se explica, porque, no Brasil, a imprensa-empresa é mais partido político conservador e reacionário, até, do que é empresa comercial]. E enfurece-se ante qualquer referência a morte de Osama bin Laden. “Nenhum jornal, nenhum jornalista, ninguém, na imprensa-empresa dos EUA, moveu uma palha para desmascarar aquela mentira gigante. Tudo, ali, é mentira. Não há, na história contada sobre a morte de bin Laden, sequer uma palavra que seja verdade” – diz ele, sobre o dramático raid dos SEALS da Marinha dos EUA em 2011 [No Brasil, a mentira gigante, mentira monstro, que NENHUM jornal ou jornalista moveu uma palha para desmascarar é a “Ação Penal 470”. Escandalosa foram, isso sim, a ação, o julgamento e a cobertura “jornalística” da tal “AçãoPenal 470”].

Hersh está escrevendo um livro sobre segurança nacional e dedica um capítulo ao assassinato de bin Laden. Diz que matéria recente, publicada por uma comissão paquistanesa “independente” sobre o complexo, em Abottabad, no qual Bin Laden foi cercado, não resiste a análise séria. “Nem quero começar a falar sobre o relatório dos paquistaneses! Digamos o seguinte: foi redigido com “apoio” norte-americano. É lixo. Não vale nada”. Para mais informação, teremos de esperar pelo livro.

Jornalista fotografado ao sair de uma entrevista com Obama, mas  é também  de
qualquer um da imprensa-empresa do Brasil
O governo Obama mente sempre, sistematicamente, diz ele. Mas ninguém dos leviatãs da imprensa-empresa nos EUA o confronta, nem a televisão, nem os jornais, ninguém.

“É jornalismo patético. Os jornalistas são servis, obsequiosos [no Brasil, também são, mas mais obsequiosos à UDN e àquele atrasismo elitista doentio do Instituto Millenium, da Opus Dei e da embaixada dos EUA, do que a alguma autoridade eleita. Em relação a autoridade eleita, depende: se for eleita contra a maioria dos votos dos eleitores, ou, mesmo, se nem foi eleita (como no caso dos juízes do STF, então, sim: jornalismo e jornalistas brasileiros são, também, servis e obsequiosos, aos juízes que sejam servis e obsequiosos mais à imprensa-empresa, que à justiça]. Os jornalistas têm medo daquele cara [Obama]” – disse Hersh, em entrevista ao The Guardian. [No Brasil, os jornais-empresas e os jornalistas têm medo, sim, mas só de juízes decentes e também têm medo, muito, muito medo, de eleitor e de urna!].

“Antes, quando se tinha uma situação em que algo muito dramático aconteceu e o presidente e seu círculo de puxa-sacos controlavam a narrativa, sabia-se que algum jornalista trataria de trabalhar o mais possível para divulgar a verdadeira história. Hoje, não mais. Aproveitam o que o poder diga e tratam exclusivamente de reeleger o presidente [No Brasil é o contrário, igualmente ruim: não importa o que digam os fatos e todas as evidências, os jornais-empresas e jornalistas do Grupo GAFE publicam e repetem, e repetem, e repetem, sempre, o contrário do que digam os fatos e as evidências; vale dizer, noticiam a mentira. Não muda nunca. No Brasil, há dez anos o Grupo GAFE trabalha para NÃO reeleger o presidente preferido dos eleitores (e perde sempre! \o/ \o/ \o/)].

Duncan Campbell
Seymour Hersh duvida, até, de que as recentes revelações sobre a profundidade e o alcance do estado de vigilância, imposto ao país [e ao mundo!] pela Agência de Segurança Nacional dos EUA tenham algum efeito ou consequências duradouros.

Quem mudou o debate sobre a vigilância não foi a imprensa-empresa: foi Snowden

Hersh não tem dúvidas de que Edward Snowden, que vazou segredos da Agência de Segurança Nacional “mudou completamente a natureza do debate” sobre o estado de vigilância. Diz que ele e outros jornalistas já haviam escrito sobre a vigilância, mas Snowden mudou o jogo, porque exibiu provas documentais irrefutáveis – mas Hersh não tem qualquer esperança de que as revelações venham a mudar a política do governo dos EUA.

Duncan Campbell [jornalista investigativo britânico, que revelou a verdadeira história e desmascarou a Zircon], James Bamford [jornalista norte-americano] e Julian Assange e eu e a revista New Yorker, todos já havíamos escrito sobre a existência de vigilância constante, mas Snowden exibiu o documento. Isso mudou a natureza do debate: agora é fato” – diz Hersh.

James Bamford
“Editores adoram documentos” [no Brasil é o contrário: os editores ODEIAM documentos e provas; e amar, mesmo, só amam opiniões sempre repetidas dos mesmos “analistas”, sempre os mesmos, sempre os mesmos, sempre os mesmos...]. “Editores acovardados, que jamais publicariam matérias como essas, só se deixam convencer por documentos” [quem dera que, no Brasil, algum documento convencesse algum editor! Quem dera!]. “Os documentos de Snowden, sim, conseguiram mudar o jogo” – mas, na sequência, Hersh fala de suas poucas esperanças.

“Não sei se tudo isso significará alguma coisa no longo prazo, porque as pesquisas que tenho visto nos EUA... Basta que o presidente pronuncie as palavras “al-Qaeda, al-Qaeda”, para os eleitores aprovarem, com proporção de 2:1, qualquer tipo de vigilância. É reação perfeitamente idiota”.

Dar tempo ao tempo

Renata Lo Prete
[Essa parte da entrevista deve ser estudada ATENTAMENTE pela “jornalista” (só rindo!).  Renata Loprete, da Folha de S. Paulo, que NAAAAADA investigou e tudo publicou, totalmente na lôka, no dia seguinte, as loucuras de Roberto Jefferson (mentiroso hoje já condenado) contou a ela, sabendo, o doido, é claro, a quem escolhia, é claro].

Para os estudantes de jornalismo, a mensagem de Seymour Hersh é “deem tempo ao tempo, e andem”. Hersh já sabia da tortura de prisioneiros em Abu Ghraib cinco meses antes de poder escrever e publicar as denúncias, porque recebeu informes de um oficial do exército do Iraque que arriscara a vida numa viagem de Bagdá a Damasco para encontrar-se com Hersh e contar que havia prisioneiros que estavam escrevendo às famílias pedindo que viessem visitá-los para matá-los, porque haviam sido “desonrados”.

“Passei cinco meses à procura de alguma prova, porque, sem algum documento não havia notícia, e o que eu escrevesse seria desmentido facilmente”. [Não, é claro, no Brasil, onde as mentiras e loucuras de Roberto Jefferson, o doido, “avalizadas” pela “credibilidade” do “jornalismo” da Loprete e da FSP, NUNCA seriam desmentidas pela “credibilidade” (zero) do “jornalismo” (zero) do resto da camarilha do Grupo GAFE!].

Hersh volta a falar do presidente Bush dos EUA. Disse antes que a confiança da imprensa-empresa norte-americana para desafiar o estado e o governo dos EUA entrou em colapso depois do 11/9, mas afirma, sem vacilar, que Obama é pior que Bush.

“Você acha que Obama está sendo avaliado por algum padrão racional? Guantánamo foi fechada? Alguma guerra acabou? Alguém está prestando atenção ao que está acontecendo no Iraque? Alguém diz coisa com coisa sobre o que está acontecendo na Síria? Os EUA, nesse momento, estão fracassando nas 80 guerras em que estão metidos. Por que, diabos, Obama quer meter-nos em mais uma guerra? E os jornalistas? Estão fazendo O QUÊ?” – pergunta ele.

Para ele, o jornalismo investigativo nos EUA está sendo assassinado pela crise de confiança, falta de recursos e por uma ideia errada do que seja o serviço jornalístico.

“A impressão que tenho é que há gente demais à caça de prêmios. É jornalismo que só visa ao Prêmio Pulitzer” – diz. – “É um pacote. Basta selecionar um tema (não quero diminuir os que trabalhem), mas basta escolher um tema, como segurança para atravessar as ruas ou coisa do tipo. Não quero dizer que isso não interesse, mas há outras questões sobre as quais absolutamente ninguém investiga”.

Podemos assassinar civis em ataques de "drones"? Sim, podemos.

“Assassinato de civis, por exemplo. Como é possível que Obama continue a safar-se de críticas, ao mesmo tempo em que mantém o programa de assassinatos premeditados, por drones? Por que ninguém lhe pergunta sobre isso? O que o presidente tem a dizer em sua defesa? Por que não insistimos mais nessa investigação? Com que tipo de inteligência o presidente está operando? Por que ninguém abre a discussão sobre esse programa? Por que não descobrimos e divulgamos dados reais? Por que ninguém até hoje disse, pelos jornais, que se trata de assassinato premeditado apresentado como se fosse prática legal? Por que os jornais só fazem repetir dados de um ou dois grupos, sempre os mesmos, que monitoram a matança por drones? Por que nenhum jornal ou jornalista investiga diretamente os fatos, as fontes?”.

“O trabalho jornalístico não é apenas repetir que há um debate. Nosso serviço é ir além do debate como ele aparece e descobrir quem diz a verdade e quem mente, em todos os debates. Isso é o que já ninguém faz. Porque esse trabalho é caro, custa dinheiro, exige tempo, implica riscos. Ainda há uns poucos jornalistas de investigação – no New York Times, por exemplo. Mas os jornalistas só investigam para bajular o governo, mais do que jamais imaginei que fosse possível [no Brasil, o jornalismo e os jornalistas absolutamente nada investigam. No máximo, “investigam” as opiniões do senador Álvaro “Peruca” Dias, ou as opiniões do ex-ministro Celso “Tiro os sapatos e as calças, se os EUA mandarem” Lafer, ou opiniões de cepas variadas de sionistas, sempre os mesmos, e só]. É como se mais ninguém tivesse coragem de pensar fora do padrão (patrão) dominante, e só”.

Diz que, em vários sentidos, era mais fácil escrever sobre o governo do presidente George Bush. “A era Bush, acho que era mais fácil criticar o governo, que hoje, no governo Obama. No governo Obama é muito mais difícil” – diz Hersh.

Jean-Luc Godard
Para ele, os editores são covardes, e têm de ser demitidos [no Brasil, essa solução pouco ajudaria, porque, além dos donos das empresas-imprensa e dos editores, os próprios jornalistas e “âncoras” são o que Godard definiu como “fascistas sinceros”: eles continuariam a repetir as estupidezes que dizem e escrevem todos os dias, mesmo que nenhum editor ou patrão os mandassem dizê-las e escrevê-las, e até PAGARIAM, em vez de ser pagos, para dizê-las e escrevê-las diariamente, incansavelmente repetidas, sempre as mesmas estupidezes].

Hersh tampouco entende por que o Washington Post segurou os arquivos que recebeu de Snowden e talvez nem os tivesse publicado, se não chegasse a informação de que o The Guardian se preparava para publicar tudo.

Se Hersh mandasse na empresa “Mídia Norte-americana Inc.”, sua política de terra arrasada não pararia na demissão de editores. “Eu fecharia também todas as agências de notícias de todas as redes. Fecharia tudo. Tabula rasa. Para começarem do zero. As grandes NBCs, ABCs, não gostariam da minha ideia. Nesse caso, que recomeçassem, que fizessem qualquer coisa melhor do que o que fazem hoje, qualquer coisa”.

Atualmente, Hersh não está trabalhando como repórter: está preparando um livro que com certeza nenhum jornalista gostará de ler, ou que os jornalistas provavelmente apreciarão tão pouco quanto Bush e Obama.

“A república está em perigo, nos EUA. Mente-se demais, mente-se, pelos jornais e noticiários sobre tudo e todos. A mentira virou o gancho”. E suplica que os jornalistas façam algo contra esse estado de coisas.


[*] Seymour Myron “Cy” Hersh (Chicago, 8/4/1937) é jornalista de investigação norte-americano, ganhador do prêmio Pulitzer e especializado em geopolítica, atividades dos serviços secretos e assuntos militares dos Estados Unidos.
Principais feitos jornalísticos
  • Revelação do massacre de My Lai, no Vietnam, em novembro de 1969, o que lhe valeu o prêmio Pulitzer de 1970.
  • Revelação do projeto Jennifer (tentativa de resgate dos destroços do submarinosoviéticoK-129 promovida pela CIA, também em 1969, visando recuperar, em proveito dos Estados Unidos, dados e tecnologias soviéticas).
  • Revelação das atividades ilegais da CIAcontra organizações pacifistas e outros movimentos políticos de oposição, nos Estados Unidos, em 1974, o que resultou na demissão de James Jesus Angleton, chefe da contraespionagem da CIA.
  • Revelação da existência do Office of Special Plans (OSP) do Departamento de Defesa norte-americano, ao publicar o artigo “Selective Intelligence”, em 2003.

Um comentário:

  1. Parabéns aos (as) que fazem esse belo trabalho escrito. Viva a imprensa livre e soberana feita por homens e mulheres sérias.

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