Uma das ideias que não nos saem da cabeça, já há tempos, é que nós estamos vivendo os últimos dias do jornalismo-como-o-conhecemos.
O jornalismo-como-o-conhecemos está acabando -- o que é ÓTIMA notícia!
Ninguém precisa de '”fatos jornalísticos”. Todos os fatos importantes acontecem longe dos jornais ou são devidamente ocultados pela “notícia”. Além do mais, nunca se pode saber, de tudo o que acontece, o que realmente será importante: há coisas que parecem importantíssimas e, depois, se vê que não tiveram importância alguma. O que os jornais noticiam vira fato só por ser noticiado, não por ter alguma realidade “intrínseca” ou alguma “importância-em-si”.
Depois, uma segunda narrativa dita “crítica” ou “de teoria do jornalismo-como-o-conhecemos” encarrega-se de dar “realidade-em-si” às invenções “jornalísticas”... E TODOS NÓS acabamos engambelados pela narrativa da chamada “mídia” - que é como sempre foi: NEGÓCIO - e negócios só têm compromisso com o lucro e/ou com interesses outros, não com alguma “realidade”, nem com algum “fato”.
Hoje pela manhã, por exemplo, a Rede Globo estava dedicada a noticiar mais o próprio “jornalismo” e seus empregados, do que qualquer fato que tivesse acontecido no Complexo do Alemão desde a 6a.feira ou que estivesse acontecendo hoje. É como se a história do Complexo do Alemão JÁ ESTIVESSE CONTADA E ACABADA. Hoje, então, “jornalistas” da Globo entrevistavam “jornalistas” da Globo. Quer dizer: o “jornalismo” da Globo foi convertido em “fato”. E está armado o círculo vicioso do “jornalismo”: se o jornalista existe e é considerado bom profissional isento e sábio... qualquer coisa que ele diga ou mostre será, consequentemente, fato e, pra piorar, será a “realidade”.
O fenômeno dos vazamentos -- e a própria constituição e existência de WikiLeaks -- estão aí pra DEMONSTRAR que tudo que se lê em jornais ou ouve e vê-se pela televisão é PURA ficção, mesmo que, vez ou outra, tenha algum conteúdo de “evento”, de “acontecimento”.
Se o mundo passou décadas convencido de que estivesse sendo informado sobre o mundo pelos jornais e, de repente, descobre que há OUTRA narrativa dos tais “fatos históricos” sobre os quais a imprensa viveu de fingir que informava, e que essa OUTRA narrativa é diferente (quanto não é ABSOLUTAMENTE oposta, contrária!) à narrativa que se lê nos jornais e televisões e na dita “mídia”... tá provado que NENHUM jornalismo-como-o-conhecemos merece qualquer confiança.
Corolário: O novo jornalismo está nos BLOGS, SÍTIOS e REDES SOCIAIS.
Por essas e outras é que NÃO INTERESSA o conteúdo do que vaze por WikiLeaks, nem agora nem nunca.
A única coisa que realmente interessa e emociona é ver que já há mecanismos e instrumentos -- construídos NA, DA, PELA e PARA a multidão -- pelos quais nos vamos livrando da ditadura da mídia. WikiLeaks é um desses instrumentos.
A NOTÍCIA, portanto, é WikiLeaks e sua gigantesca capacidade de jorrar dados que (1) são considerados como fontes confiáveis PELA PRÓPRIA MÍDIA; (2) jamais antes estiveram na dita mídia (aliás... por que não estiveram na mídia, né-não?!) e (3) são jorrados aos borbotões, reunidos e distribuídos não por iniciativa de algum jornalista ou jornalismo, mas por ação e iniciativa da própria multidão, que tem de viver e sobreviver DENTRO dos fatos que a mídia de MASSA existe PARA ENCOBRIR, não para expor.
WikiLeaks é mais importante por existir, do que pelas informações que ofereça. Como uma amiga escreveu ontem: "WikiLeaks não é importante por ME dizer que os EUA espionam em todo o mundo, porque, isso, eu já sabia. WikiLeaks é importante por dizer AOS EUA que nós já sabemos que eles espionam em todo o mundo”. BINGO!
Se algum jornalista ou jornalismo brasileiro estivesse realmente interessado em saber o que há em WikiLeaks sobre o Brasil, teria passado a noite em claro à espera do que viria e, depois, vasculhado o material. NUNCA se ouviu algum jornalista convocando outros jornalistas para que o furassem [risos, risos]. Se algum jornalista está convocando gente pra pesquisar nos arquivos vazados, só há uma explicação possível:ele já viu tudo e já sabe que não há lá coisa alguma que altíssima novidade; então, qualquer jornalista pode convidar mão-de-obra gratuita para que trabalhe para um ou outro jornalista-blogueiro profissional.
Somos de opinião que esses vazamentos são muito mais importantes como AÇÃO GUERRILHEIRA pra abalar a credibilidade da “segurança” que os EUA vivem de querer vender ao resto do mundo, como se ninguém fosse capaz de prover as próprias condições de sobrevivência sem a “ajuda” dos EUA, do que por causa dos “segredos” que venham à tona.
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