Mauro Carrara
Não por acaso, o Sport Club Corinthians Paulista assume frequentemente o lugar do Partido dos Trabalhadores (PT) como alvo do ódio das elites. O modelo de acusação é idêntico.
A ordem é insultar, desqualificar e criminalizar. Sistematicamente. No caso do clube fundado por operários no bairro do Bom Retiro, esse bombardeio midiático acaba de completar 100 anos.
Desde a época do antigo Velódromo, se o vencedor era o Corinthians, havia na página grafada sempre uma adversativa, um desmerecimento e um delito apontado.
Afinal, a que glória podia aspirar a agremiação dos carroceiros do Mercadão, das lavadeiras do Glicério, dos amoladores, dos braçais, dos italianos rotulados de carcamanos, dos negros sem sobrenome, dos espanhóis malaguetas, dos índios sem tribo, dos japas de fala enrolada e dos mestiços de toda sorte, tão brasileiros que pareciam merecer somente a exclusão.
E onde foi parar toda essa fúria de preconceitos? Cessou?
Não! Mantém-se intacta, ainda que estrategicamente oculta pelos interesses comerciais da mídia monopolista. Afinal, como afrontar diretamente 27 milhões de consumidores?
Ora, mas basta a dúvida para se revitalizar o ódio centenário.
Esta noite de sábado, estive com a neta ao estádio do Pacaembu. De lá das arquibancadas, assistimos ao fogo do prélio. E vimos também, inequivocamente, um zagueiro forte arremeter-se desastrosamente contra as costas do artilheiro Ronaldo.
Ora, pois, pênalti, indiscutível. Pênalti! Está na regra!
Fosse no meio-campo ou aos cinco minutos do primeiro tempo e seríamos poupados do teatro acusatório contra o árbitro.
Em casa e pude rever o lance na telinha, várias vezes. Não há disputa da bola pelo alto, e sim um golpe claramente faltoso do azulino. As câmeras oferecem registro límpido e cristalino da jogada.
Entretanto, a mídia precisa enodoar, mais uma vez, o triunfo do time do povo. Não me surpreendi, pois, ao topar com os comentários de Mauro Cezar Pereira, o mesmo que criminalizou o paixão de Lula pelo Corinthians, o mesmo que criou uma fábula para ver delito petista no projeto do estádio mosqueteiro.
Recentemente, o Corinthians viu surrupiados dois gols legítimos em Campinas, diante do Guarani. Os erros custaram ao clube dois pontos, caríssimos nesta reta final do campeonato.
Antes ainda, no primeiro turno, o Cruzeiro fora beneficiado pelo mesmo Sandro Meira Ricci, que desconheceu pênalti de Henrique sobre o alvinegro Bruno Cesar.
Tampouco se viu indignação de locutores e comentaristas quando o Fluminense foi auxiliado no jogo contra o Grêmio, no Engenhão. Um pênalti clamoroso de Leandro Eusébio sobre Jonas acabou desconsiderado pelo árbitro.
Mas os jogos do Corinthians são sempre um Enem em potencial. Há sempre um detalhe a ser midiaticamente convertido em escândalo. Afinal, a ordem é criminalizar os intrusos, os penetras da festa chique.
Lamentável é ver articulistas da chamada esquerda, como Laerte Braga, seguindo irresponsavelmente a procissão, repetindo venenosamente o coro acusatório.
Para refrescar a memória do leitor, Zezé Perrella, o ruidoso detrator do árbitro Meira Ricci é "raposa" política matreira, inescrupulosa e oportunista. Construiu sua carreira ao alinhar-se com o obscurantismo mineiro e com as forças do velho PFL.
Curiosamente, foi destacado pela CBF para comandar a delegação brasileira que vai ao Qatar, para o amistoso contra a Argentina.
Em boca fechada, não entra mosquito. Dedos inteligentes poupam articulistas da vergonha da ignorância e da contradição.
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